Capitão do São Paulo, juiz-forano Hudson relembra primeiros passos no Tupi
Volante fala da sua paixão pelo esporte e projeta uma partida decisiva para o São Paulo no Brasileiro neste domingo no clássico contra o Santos, às 16h, na Vila Belmiro
Neste domingo (16), o juiz-forano Hudson dos Santos entra em campo como capitão do São Paulo para enfrentar seu antigo clube, o Santos, na disputa pelo Brasileirão. O clássico acontece às 16h, na Vila Belmiro. Com um gol a menos no saldo e empatado por pontos com o Internacional, o São Paulo ocupa a segunda colocação na tabela da série A do Brasileirão, com 14 vitórias e apenas três derrotas. Em entrevista à Tribuna, Hudson comentou as dificuldades que irá enfrentar contra o Peixe e relembrou sua trajetória como atleta, do seu início em Juiz de Fora até hoje no tricolor, um dos melhores momentos de sua carreira.
“Apesar de ser grato ao Santos por ter me revelado e formado como jogador, quando você se torna profissional tem que deixar de lado o carinho pelos clubes que passou, porque a gente tem que defender com unhas e dentes o clube em que a gente joga”
Hudson
Satisfeito com o bom momento em campo e com o papel de líder do elenco, o São Paulo já procurou Hudson e seu representante para comunicar que deseja uma renovação de contrato. O vínculo atual termina em 31 de dezembro de 2019, e a diretoria quer se antecipar para evitar problemas.
A ideia é chegar até a cinco temporadas de extensão, o que poderia deixá-lo no Morumbi até o fim de 2024. Se isso acontecer, o camisa 25 completará dez anos na equipe. O atual capitão também indica o desejo de permanecer e fala até em se aposentar no clube.
Segundo o capitão Hudson, a partida deste domingo será difícil, porém decisiva para a situação do tricolor no campeonato. “Além de ser clássico, vai ser na casa deles e isso é uma questão que traz uma dificuldade a mais. O Santos vem crescendo, está retomando a confiança, e é mais uma decisão para nós. Temos concorrentes diretos na briga pelo título que estão colados na gente na pontuação, então não podemos pensar em perder ponto nessa altura do campeonato. Vai ser um jogo duríssimo, mas esperamos fazer um grande jogo em Santos”, prevê.
O Santos foi o primeiro clube em que o volante teve a oportunidade de atuar como jogador profissional. O juiz-forano jogou pelo Peixe entre 2006 e 2008 e, apesar da gratidão que tem pelo clube, quando o assunto é representar seu time atual o passado não tem vez no pensamento do atleta.
“Apesar de ser grato ao Santos por ter me revelado e formado como jogador, quando você se torna profissional tem que deixar de lado o carinho pelos clubes que passou, porque a gente tem que defender com unhas e dentes o clube em que a gente joga. Eu sou muito feliz no São Paulo e procuro dar sempre o meu melhor dentro de campo para que o time seja vencedor.”
Liderança
No Tricolor, Hudson tem pela segunda vez a responsabilidade de liderar o time na disputa por títulos importantes. A primeira foi em 2016 durante a Libertadores, quando o time chegou à semifinal, e a segunda este ano durante o Campeonato Brasileiro. “É uma responsabilidade muito grande”, afirma. “O São Paulo vive alguns anos de jejum de títulos importantes e temos essa missão de colocar o time novamente no topo de um grande campeonato. A questão de ser capitão traz uma missão a mais, mas também um orgulho e uma confiança para nós, atletas, de estar representando um grande clube como é o São Paulo.”
Um capitão com boas memórias
O atual capitão do São Paulo começou no futebol aos 6 anos de idade, quando ingressou na escolinha do Tupi, e conta que guarda boas lembranças da categoria juvenil. Em Juiz de Fora, Hudson também passou seis meses no Tupynambás e jogou futsal no Olímpico e no Bom Pastor. Diz que a paixão pelo esporte vem de família, mas foi o único entre os irmãos a despontar. “Meu pai sempre jogou bola no futebol amador, e meus irmãos faziam escolinha no Tupi. Então a gente já cresce um pouco direcionado, e eu sempre gostei muito. Na minha família fui o único que me tornei profissional.”
Foi no juvenil do Tupi que o juiz-forano sentiu a emoção da primeira grande vitória e decidiu que o futebol faria parte do seu futuro. “Acho que eu tinha uns 14 ou 15 anos, e lembro que tivemos uma vitória pelo Campeonato Mineiro em cima do Cruzeiro. Foi uma sensação muito diferente do que eu tinha vivido, porque até então o Tupi não participava de competições com clubes grandes. Quando a gente participou dessa e pôde vencer um clube como o Cruzeiro, eu notei que aquela sensação era a que eu queria para a minha vida.”
Hudson guarda também boas recordações dos técnicos carijós que acompanharam seus primeiros passos. “O Binha (Cléber Aníbal) foi o meu primeiro treinador e foi por um bom tempo, praticamente foi com ele que aprendi a jogar bola. Com o Léo Condé eu já era um pouco mais velho, tinha 12 ou 13 anos, e ele deu continuidade ao trabalho do Binha.”
Aos 16 anos, Hudson deixou Juiz de Fora para jogar no Tupã, no interior de São Paulo. Depois foi a vez do Astral, em Curitiba, até chegar ao Santos em 2006. Desde então, o jogador só vem à terra natal para visitar familiares e amigos. Sem perder a essência de juiz-forano, diz que ainda acompanha as notícias sobre os times da cidade e torce pelo Carijó. “As minhas raízes com certeza estão em Juiz de Fora”, destaca.
‘Tive que começar do zero pelo menos umas três vezes’
Atraso e falta de salário, moradia precária e estruturas que não ofereciam boa condição de treinamento e evolução profissional foram alguns dos desafios que Hudson enfrentou até se estabilizar como capitão no São Paulo. Ele conta que as dificuldades quase o fizeram desistir do esporte como profissão.
“Passou pela minha cabeça que o futebol não estava valendo muito a pena, ficar longe da família, perder estudo e não conseguir fazer um pé de meia. Abrimos mão de muita coisa, e é uma carreira muito curta. Se não tiver uma remuneração considerável não vale a pena. Com a chegada no São Paulo eu pude dar muito mais valor (ao clube) por conhecer o outro lado que o futebol tem. A gente pensa que é só mil maravilhas, que todos ganham muito bem, mas pouquíssimos vivem essa realidade e só nos clubes grandes. Quem está nesses clubes tem que dar valor.”
Para não jogar tudo para o alto, foi preciso muita perseverança, força de vontade e o apoio da família e do empresário. “Os meus pais também sempre me apoiaram muito, nunca deixaram que eu desistisse. Porque muitas vezes a gente toma alguns baques ou tem alguns tropeços na carreira que desanimam. Tive que começar do zero pelo menos umas três vezes, mas não desisti e tudo valeu muito a pena, graças a Deus.”
Aos 30 anos, o jogador coleciona grandes momentos e conquistas. Ano passado, o volante foi um dos principais responsáveis pelo título da Copa do Brasil conquistado pelo Cruzeiro, onde jogou emprestado pelo São Paulo. Na semifinal, Hudson fez o gol de cabeça contra o Grêmio, que levou a partida aos pênaltis na classificação para a decisão contra o Flamengo e, na partida final contra o Rubro-Negro, no Mineirão, ele foi autor da terceira cobrança na conquista do pentacampeonato da Raposa na competição.
“Foi uma sensação que só quem me viu no momento sabe. Eu estava muito concentrado, principalmente no pênalti, focado no momento em que ia bater. É uma tensão e uma responsabilidade muito grandes. Um estádio com 60 mil pessoas, você representando um time e poder cair na sua responsabilidade um campeonato inteiro, por causa de um pênalti perdido ou não. Mas em compensação, quando a bola balança a rede, é a melhor sensação possível.”
Até os 35 ou 36 anos, quando acredita que deixará de jogar em alto rendimento, Hudson tem alguns planos pela frente. “O primeiro é conquistar alguns títulos pelo São Paulo. Ainda tenho o sonho de um dia vestir a camisa da Seleção Brasileira. E poder jogar fora, também tenho essa vontade.”
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