A Mesentérica


Por Wendell Guiducci

11/09/2018 às 07h00- Atualizada 11/09/2018 às 07h56

Pouca gente sabia da existência da Artéria Mesentérica Superior até a quinta-feira da semana passada, bem na véspera do feriado de 7 de setembro. O pessoal já se preparando para dar um rolê em Ibitipoca e Cabo Frio e Piúma e Monte Verde, e eis que um atentado tira Mesentérica das profundezas da cavidade abdominal de um candidato a presidente de extrema direita e lança-a ao estrelato.

Manchetes de jornal.

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De TV.

Rádio.

Memes.

Os holofotes iluminaram a escuridão torácica, e o que se comenta nas cercanias intestinais é que Mesentérica provou e aprovou o gostinho da fama. Vizinhas, as Artérias Cólicas – Direita, Esquerda e Média -, a Ileocólica e até mesmo a irmã Mesentérica Inferior não escondem a mágoa: em todas as entrevistas coletivas, sequer foram citadas pela (ex) amiga. Uma decepção.

“O que o sucesso não faz com as pessoas, né?”

Pois é.

Já surgem indícios agora de que Mesentérica, verdadeiramente, nunca aceitou o anonimato, que sempre atribuiu à contiguidade com as fezes que circulam ali diariamente pelos intestinos grosso e delgado, desenvolvendo assim uma personalidade rancorosa, intolerante e virulenta. Invejava não muito secretamente a popularidade de outras artérias melhor posicionadas, como a Aorta, a Carótida, as Irmãs Coronárias, a Femoral. De modos que já achava que estava passando da hora de ter ela mesma seus minutos de celebridade.

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Mas Mesentérica quer mais que os 15 prometidos por Andy Warhol, tão deslumbrada ficou com o recém-experimentado prestígio. Estaria, desconfia-se, disposta inclusive a pegar em armas para manter o status.

Não quer acreditar, como ensinou um arguto jornalista de nome Ambrose Bierce, que aí na ribalta nem resta tanta vantagem, pois o famoso não é nada mais que um miserável ilustre.

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