Campanha de vacinação quer imunizar mais de 23 mil crianças

Diante do retorno da doença em regiões do país, orientação em JF é a vacinação de crianças menores de 5 anos mesmo que já estejam com o cartão em dia


Por Daniela Arbex

04/08/2018 às 07h00

Vacina está disponível durante todo o ano nas Unidades Básicas de Saúde (Foto: Marcelo Ribeiro)

A Secretaria de Saúde inicia, na próxima segunda-feira (6), campanha de imunização contra o sarampo. Apesar de a cidade não registrar casos da doença há duas décadas, o reaparecimento da enfermidade – principalmente no Norte do Brasil – tem deixado as autoridades de saúde em alerta. Em Juiz de Fora, a cobertura vacinal do sarampo em crianças com até 24 meses é de até 98,74%, acima da meta definida pelo Ministério da Saúde, mas o objetivo é atingir 23.706 crianças menores que 5 anos, mesmo aquelas que já tenham as duas doses da vacina. Além de crianças, adolescentes e adultos com até 49 anos também deverão procurar os postos de atendimento da cidade, caso não tenham sido imunizados anteriormente. A médica infectologista do Departamento de Vigilância Epidemiológica, Sônia Rodrigues, informa que a imunização é fundamental para a saúde coletiva, uma vez que evita a propagação do vírus, diminuindo a chance de surtos de doenças. “Precisamos pensar no coletivo. No que é melhor para a nossa população”, explicou.

Preocupado com os casos de sarampo no país, o Conselho Tutelar Leste enviou, recentemente, ofício para a Secretaria de Saúde sugerindo que seja realizada uma busca ativa em Juiz de Fora, mas o órgão informou que a atual cobertura vacinal não indica necessidade disso nesse momento. “A nossa preocupação é com a prevenção e ver o que pode ser feito para melhorar ainda mais o trabalho. A nossa intenção é provocar a secretaria no bom sentido”, explica Laurindo Rodrigues. De acordo com a Secretaria de Saúde, a medida só será tomada caso a campanha, que se estende até o dia 31 de agosto, não atinja a meta definida.

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A vacina contra o sarampo, conhecida como tríplice viral, faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, e está disponível durante o ano todo nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e no Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente (DSCA), na Rua São Sebastião 772. São necessárias duas doses da vacina para a pessoa estar imunizada. Em crianças, a primeira dose é administrada aos 12 meses, e a segunda, aos 15. Para os adolescentes e adultos até 29 anos, duas doses, com intervalo de 30 dias entre as doses. Pessoas entre 30 e 49 anos tomam apenas uma dose. Quem não tiver em mãos o cartão vacinal e não souber se já foi imunizado, deve procurar a UBS de referência e explicar o caso.

Marcilene Costa, enfermeira supervisora do setor de imunização da Vigilância Epidemiológica, explica que, mesmo que a criança já tenha o cartão de vacinação completo, as menores de 5 anos devem se vacinar, novamente, para garantir que o vírus não retorne ao município. “Diante da proximidade de Minas com estados que tiveram a confirmação do sarampo, precisamos montar uma barreira contra essa doença e garantir que a gente mantenha o município livre dela e da alta transmissibilidade que ocorre por vias aéreas. Todos os casos de óbitos registrados no Norte do país ocorreram em crianças menores de 5 anos”, explica.

A vacina é contraindicada em registro de imunodeficiências congênitas ou adquiridas (clínica ou laboratorial grave), infecção pelo HIV em pessoas com taxas de CD4 (células do sistema imunológico) menor que 15%, gestantes e pessoas com alergia grave aos componentes da fórmula.

A doença

Considerada uma infecção exantemática aguda, o sarampo é perceptível através de manifestações cutâneas, ou seja, por cima da pele, com o aparecimento de manchas vermelhas, principalmente na região do tórax. É transmissível e extremamente contagioso, podendo evoluir com complicações e óbitos, particularmente em crianças desnutridas e menores de 1 ano de idade. A transmissão ocorre entre pessoas, por meio de secreções respiratórias, no período de quatro a seis dias antes do aparecimento do exantema, até quatro dias após. Pode, inicialmente, ser confundido com resfriado.

Os cuidados são os mesmos para qualquer faixa etária, e quem já teve a doença está imunizado permanentemente. O Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, através do Setor de Doenças Transmissíveis (DVEA), orienta que febre, coriza, tosse, conjuntivite e exantema são casos suspeitos de sarampo. Diante do aparecimento desses sintomas deve-se procurar atendimento médico. “É fundamental lembrar a importância não só dos pais, mas todos aqueles com idades até 49 anos de verificar o cartão vacinal para saber se já foi imunizado contra a doença.

Caso ainda tenha dúvida, leve o cartão até uma UBS para que o profissional possa verificar e, caso haja necessidade, a imunização deve ser iniciada. A vacina contra sarampo é gratuita e é a única forma de garantir proteção contra a doença. Quem já teve a doença está imunizado para a vida toda”, esclarece a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde.

Minas ainda não tem casos confirmados

Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), declarando a região das Américas livre da enfermidade. Porém, desde o início a ano, a incidência de casos da doença voltou a acontecer, principalmente na região Norte do país. Atualmente há 118 casos suspeitos notificados em Minas, sendo 55 descartados e 63 que permanecem em investigação, aguardando a pesquisa laboratorial. O período de análise compreende de janeiro/2018 até a data de 27 de julho de 2018. Até o momento, não foram confirmados casos de sarampo em Minas Gerais. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a meta com a campanha de vacinação é imunizar mais de 11 milhões de crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos, público mais suscetível a complicações de sarampo e poliomielite, que também está contemplado na campanha. O Dia D de mobilização está previsto para 18 de agosto, sábado, quando cerca de 36 mil postos de saúde em todo o país estarão abertos.

No estado, a estimativa é que cerca de 4.056 Unidades Básicas de Saúde (UBS) funcionem durante a campanha. Serão distribuídas, ao todo, 1.284.200 de doses da vacina contra sarampo (tríplice viral) e outras 1.232.800 de doses da vacina contra a pólio.

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Prejuízo das fake news para a vacinação

No ano passado, segundo a Organização Mundial de Saúde, houve um recorde de crianças vacinadas: 123 milhões. A alta que ocorreu tanto por aumento da população quanto da cobertura vacinal não atingiu o Brasil, que registrou queda na porcentagem de crianças vacinadas nos últimos três anos. É o caso da cobertura da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), que estava estável e próxima a 100% no Brasil até 2014, mas baixou para 96,1% em 2015, 95,4%, em 2016, e 85% em 2017.

Para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a disseminação de notícias falsas quanto aos malefícios da vacina pode estar por trás da queda na procura. As fake news nas redes sociais têm desencorajado muitas pessoas a se vacinar. Especialista em imunização da entidade, Lely Guzman ressaltou que a Opas está ajudando o Governo brasileiro e frisou que a principal medida para impedir a introdução e a disseminação de vírus como o do sarampo é a vacinação. “Especialmente na América Central e do Sul, não há muita influência dos movimentos antivacina, mas as informações falsas são motivo de preocupação. Por isso, a comunicação social, a ampla divulgação de informações com base em evidências, é muito importante.”

De 2016 para 2017, a cobertura vacinal dessa doença caiu drasticamente no Brasil, por exemplo. Ainda assim, a especialista explica que, do ponto de vista técnico, o sarampo continua erradicado das Américas, embora casos já tenham sido registrados em 11 países – Antígua e Barbuda, Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Guatemala, México, Peru e Venezuela. “A condição clássica para um país ou região restabelecer a transmissão endêmica do sarampo ou da rubéola é que o vírus, do mesmo genótipo e linhagem, tenha circulado por mais de 12 meses no território”, explicou. “Depois desse período, o país ou região perderia o certificado de eliminação.”

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