Os efeitos da greve dos caminhoneiros

Por Isis Lara

24/07/2018 às 07h00 - Atualizada 23/07/2018 às 19h09

A greve dos caminhoneiros em maio deste ano causou mais efeitos do que aqueles percebidos durante os 11 dias de paralisação. Os principais índices macroeconômicos dos meses de maio e junho sofreram variações além do esperado, com quedas na produção e leve aumento na inflação mensal, sendo que esta última alcançou, em junho, o valor de 1,26%, o maior no ano. Assim sendo, fazer uma análise dos canais de impacto e de que modo tais variáveis foram afetadas, é importante para determinar a magnitude de seus efeitos.

Um dos principais setores na composição do PIB, o de Serviços, sofreu uma redução de 3,8% em maio frente a abril/18 e também na comparação com maio/17. Já na produção industrial, houve um recuo de 10,9% em maio contra abril/18 (e 6,6% frente a maio/17), segunda maior queda da série histórica (atrás apenas da queda de 11,2% em dezembro de 2008 durante a crise financeira americana). No que diz respeito às vendas no setor de varejo, pôde ser percebida uma leve redução em maio na ordem de 0,6% contra o mês anterior. A conjugação da impossibilidade de realização das atividades de transporte e das demais ligadas a esta (como armazenagem e serviços auxiliares), dificultaram tanto a distribuição da produção, quanto o abastecimento de matérias-primas.

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Pela ótica da arrecadação do Governo, o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) acabou sendo um dos mais afetados. Segundo dados provisórios do Ministério da Fazenda, houve uma redução na arrecadação da ordem de 5,4 bilhões no mês de maio em comparação com o mês anterior e de 2,75 bilhões frente ao mesmo mês de 2017. Tal imposto incide, dentre outros, sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal. Com o período de paralisação, diversos negócios deixaram de ser efetuados e consequentemente houve menor fluxo de mercadorias e prestação de serviços, fato que impactou negativamente nas receitas estaduais.

Há de se atentar, portanto, para a magnitude dos efeitos da greve na esperada recuperação brasileira ao fim deste ano. Nas previsões expostas no Boletim Focus do Banco Central, temos uma medida do quão impactante a medida dos caminhoneiros foi: antes do movimento, havia expectativa de crescimento de 2,5% ao fim de 2018. Agora, no boletim publicado em 13 de julho, os analistas indicam alta de 1,5% para produção brasileira, uma variação que corresponde a cerca de R$ 65,59 bilhões a menos. Dessa forma, fica evidente a gravidade da falta de diálogo do governo com a classe que conseguiu parar o Brasil. É de extrema importância que levemos em conta o poder do próximo presidente em convencer a sociedade de suas ideias. Afinal, o que não faltam são reformas importantes a serem aprovadas, e já vimos que, sem o apoio dos agentes, não há prosperidade econômica.

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