Precisamos falar sobre restauração


Por Milena Andreola, arquiteta e urbanista, coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo do CES/JF e membro da OSCIP Permear

15/07/2018 às 07h00- Atualizada 15/07/2018 às 11h06

As ações de preservação dos edifícios considerados como bens culturais têm por objetivo proteger e transmitir às gerações futuras os seus valores e aspectos materiais, históricos, estéticos, memoriais e simbólicos. Vão desde a Educação Patrimonial e a vigilância até projetos específicos, como os de restauração. Porém, este termo ainda gera muitas dúvidas, sendo muitas vezes utilizado erroneamente, até mesmo por profissionais da construção civil.

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Segundo a Carta de Veneza, de 1964, “a restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional” e ser realizada em casos onde outras ações, como a manutenção preventiva e a conservação, não são mais suficientes para garantir a preservação. Trata-se de um conjunto de procedimentos que visam restabelecer a unidade (imagética ou conceitual) do edifício em relação à sua concepção original, ou de intervenções significativas em sua história. Para isso, a restauração deve ser precedida de levantamentos e análises detalhados, que permitam o pleno conhecimento do bem em relação à sua história, constituição material e estética, significados e estado atual de conservação. Sua excepcionalidade determina que seja elaborada e executada por equipe multidisciplinar e especializada em suas várias funções.

A restauração é um trabalho metodológico composto por várias etapas, que só definem as ações a partir de informações seguras, evitando-se as hipóteses. Além disso, são muito importantes os critérios estabelecidos para as decisões de projeto, entendendo que cada caso é único e que é fundamental a manutenção da autenticidade do bem. Cada vez mais, entende-se que as restaurações têm que se mostrar distinguíveis da matéria original e serem mínimas, compatíveis e reversíveis. A restauração vai muito além de uma reforma e não deve ser praticada por profissionais que não sejam especializados, frente ao risco de se perder não só as características de um edifício, mas parte do registro histórico da sociedade. Tudo o que se altera fere a autenticidade e para isso não tem retorno.

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