Mãe reconhece cinto de filho junto a ossada encontrada em quintal
Família aguarda exame de DNA para comprovar se restos mortais são de jovem desaparecido há 4 anos
Mil quinhentos e sessenta e cinco dias a olhar em direção à porta na expectativa de o filho retornar. Essa tem sido a rotina de Núbia Santiago Sebastião, mãe de Rodrigo Santiago Sebastião, o jovem que está desaparecido desde 3 de abril de 2014. Na última vez em que ela conversou com o filho, ele usava uma calça jeans, cinto, camisa branca e um par de tênis Nike. “Antes de se despedir de mim, ele falou: mãe não precisa trancar a porta, porque volto entre dez e onze horas da noite, só nunca mais voltou”, desabafou Núbia, que esteve na unidade da 6ª Delegacia, no Bairro de Lourdes, na Zona Sudeste, e identificou o cinto encontrado junto a uma ossada, descoberta no último sábado (7), no fundo de um imóvel, na Estrada União e Indústria. A mãe e toda a família esperam que se confirme que a ossada encontrada seja mesmo de Rodrigo, para colocar fim a um drama.
“Esperamos o resultado do exame realizado pelo IML, que deve ficar pronto nesta próxima quinta-feira (12), para que, em seguida, possamos colher material e realizar o exame de DNA, para comprovar de fato se é ou não o Rodrigo”, disse Núbia. Depois da coleta, o material será enviado para Belo Horizonte, onde será feito o teste de comprovação, tendo como base material recolhido de um de seus familiares.
“Ao longo desses anos de espera e de muito sofrimento, nossas vidas ficaram estacionadas. Estivemos sempre em busca de uma resposta. Agora esperamos que essa dor seja amenizada. Soubemos que o proprietário do imóvel onde a ossada foi encontrada também localizou um tênis Nike no terreno, o que aumenta a expectativa de ser realmente o Rodrigo”, ressalta a mãe, que aguarda que também haja justiça e responsabilização pela morte do filho. “Na época, além de todo o sofrimento, tudo ficou num mistério, pois não havia informações, o corpo não foi encontrado. Ele era um jovem muito querido, não tinha conflitos com a família, nem desafetos com outras pessoas. Então, eu sempre esperei pelo retorno dele.”
Rodrigo era vendedor e tinha 22 anos quando desapareceu. Desde o sumiço, familiares nunca deixaram de procurá-lo. A mãe chegou a deixar o trabalho para correr atrás de pistas sobre o paradeiro dele. Por conta própria, ela distribuiu e colou pela cidade cartazes com fotos e informações sobre o filho, com o objetivo de alguém ter informações sobre ele.
Em 11 de abril de 2014, o veículo Gol do jovem desaparecido foi localizado, na Estrada União e Indústria, abandonado e aberto às margens do Paraibuna. A Polícia Militar fez rastreamento para localização do motorista, mas sem êxito. O Corpo de Bombeiros também fez buscas na área a fim de localizar o corpo no rio, mas nada foi encontrado. Em maio daquele ano, o caso que era de desaparecimento passou a ser tratado como homicídio, mas a investigação nunca chegou à conclusão dos fatos. Agora, com a descoberta da ossada, o inquérito está sob responsabilidade do delegado Rodrigo Massaud, titular da 6ª Delegacia. Segundo ele, o importante, neste momento, é a comprovação de que a ossada encontrada seja mesmo do jovem Rodrigo e, depois disso, o caso será analisado, para que novas ações sejam empregadas a fim de apurar o que de fato houve com o rapaz.
Os restos mortais foram encontrados no último sábado pelo proprietário do imóvel, um agente penitenciário, de 45 anos, que fazia a limpeza do quintal. Após avistar a ossada, o agente fez contato com a Polícia Militar que seguiu até o endereço. Durante o registro da ocorrência, o pai de Rodrigo compareceu ao local e informou que seu filho havia desaparecido há quatro anos, e o carro dele teria sido encontrado naquela região, levantando a suspeita de que a ossada fosse do rapaz.
Em 2014, embora o corpo não tenha sido encontrado, o desaparecimento já era tratado como homicídio pelo delegado Rodrigo Rolli, que estava à frente da 6ª Delegacia, e iniciou a apuração. Na ocasião, o policial afirmou que, “o jovem não tinha envolvimento com o tráfico e não tinha desafetos. Era trabalhador e sem antecedentes criminais”. Após a transferência de Rolli, em outubro de 2014, as investigações foram assumidas pelo delegado Rodrigo Massaud. Familiares do rapaz e testemunhas foram ouvidos, mas não relataram nenhuma anormalidade. Uma acareação com os rapazes que estiveram com Rodrigo no dia em que desapareceu chegou a ser realizada, mas negaram qualquer crime. No local onde o carro estava, nada de estranho foi encontrado, fato que levou a polícia a descartar a ocorrência de uma morte no veículo. O Ministério Público chegou a interferir no episódio, cobrando agilidade na conclusão do inquérito.