Respondendo à sua pergunta
– Você fica pensando sobre o que vai te acontecer depois de morrer?
Mas eu sequer aprendi a preparar carne seca. Ou a mexer em mecânica de moto. Fabricar minha própria cachaça.
Também não li “O velho e o mar”. E “Toda poesia” do Leminski vai ainda pela metade.
Me falta nadar pelado em um rio raso numa noite quente de fevereiro. Voar de parapente. Aprender a tocar viola caipira. E a falar espanhol.
Preciso plantar umas árvores na Miragaia.
Levar meus pais para comer no Mercado do Porto de Montevidéu. E ver um jogo no Centenário.
Escrever um soneto. Uma novela para ser lida do meio para o fim e do fim para o começo.
Perder o ranço de ver o sol nascer.
Acertar a mão no café. No humor. No amor.
Parar de acelerar quando vejo o sinal amarelo. Ter mais paciência no vermelho. Livrar-me de meus preconceitos. Desafiar minha mediocridade. Sepultar meus desafeições.
Fazer nada.
Viajar de barco de Belém a Manaus. Três dias, dizem. Reencontrar a turma da Escola Estadual Raul Soares. Ir à Feira de São Cristóvão comer carne de sol. Tomar um porre no balcão do Futrica numa quinta às três da tarde. Jogar uma pelada no Municipal.
Então, respondendo à pergunta:
– Não fico, não.