Arraiá da Copa e da inclusão do Instituto Aviva

Aos 9 anos de idade, Enzo Negreiros já sabe de cor a escalação da Seleção Brasileira e dá pitacos sobre o seu time canarinho ideal com direito a justificativas (ver arte). Cássio, “porque é um paredão no Corinthians”. Marcelo “faz muitos cruzamentos para gols no Real Madrid”. William, Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus formam um ataque “que está perfeito”. O jovem é uma das crianças com deficiência atendidas pelo Instituto Aviva, que realiza neste domingo (24), entre 14h e 22h, o Arraiá da Copa, festa junina com tema do Mundial, no Terrazzo (Av. Deusdedit Salgado, 5.050, Salvaterra).

Filho da professora Georgia Negreiros, 41, o flamenguista Enzo mostra no conhecimento adquirido de futebol, uma de suas paixões, que a paralisia cerebral é detalhe. Pelo Instituto Aviva, ele pratica também outras modalidades. “Pratico esportes adaptados. Futebol, às vezes golfe, mas claro que com ajuda dos voluntários. Basquete, natação, vôlei. Gosto mais de futebol e vôlei e assisto muitos jogos da Seleção Brasileira de vôlei também”, conta.

O amor de Enzo por esportes virou tema, inclusive, de livro, como conta Georgia. “Enzo é uma criança cheia de sonhos, um apaixonado por futebol, com muitas limitações físicas. Inclusive nesse ano lançamos um livro (“O ser diferente é legal”), apoiado pelo Aviva, que conta a história do Enzo, sua paixão pelo futebol e seu sonho de ser técnico. Sua paralisia cerebral o limita, mas não o impede de sonhar. Para as pessoas com deficiência, brincar, criar e praticar esportes pode representar muito mais que saúde. Representa possibilidades, sonhos e ganhos”, relata.

O sonho do jovem, como contou Georgia, é ser como Tite: um treinador de futebol. “Na verdade, primeiro eu queria ser jogador, mas vi que não era possível. Então pensei um pouco sobre ser técnico! Vejo muito futebol”, conta o garoto, que aprova o comando canarinho. “Gosto do Tite, sempre acompanho o Brasil e, quando ele chegou, o time estava em sexto, se não me engano, e com ele disparou na liderança e ainda fez um bom saldo de gols. Na estreia da Copa, a seleção empatou, mas o goleiro da Suíça foi bem e ainda teve o empurrão no Miranda”, analisa com segurança.

Fã de Cristiano Ronaldo, por “já ter conquistado vários recordes no mundo, inclusive por Portugal”, Enzo surpreende ao citar seus favoritos para o título. “Acho que os favoritos são a Alemanha, Portugal, e não só por causa do Cristiano, a Rússia, o Brasil e a França. A Rússia pelas goleadas que fez por 3 a 0 no Egito e 5 a 0 na Arábia Saudita”, embasa.

Há tempo até para opinar sobre o Flamengo. “Gosto do Barbieri (Maurício, técnico). O Flamengo está muito bem representado por ele. Mas um dia queria ver o Felipão na equipe!”, revela.

Curiosamente, a relação de Enzo com o futebol e o esporte nasceu e cresceu de forma espontânea. “Esse interesse dele por esporte não partiu de mim, mas exclusivamente dele. Em casa falamos que de desenho ele não conhece muito, mas sobre esporte sabe tudo! Assinamos canais fechados, tudo o que é relacionado ao esporte para ele assistir. Tem um interesse grande na prática esportiva que veio dele mesmo. Não temos atletas em casa”, conta Georgia.

Desenvolvimento no lazer e Rio 2016

O esporte é a principal ferramenta de acolhimento de crianças entre 5 e 14 anos no Instituto Aviva, criado em 2011 para auxiliar no desenvolvimento de jovens com qualquer tipo de deficiência através de vivências dentro de esportes adaptados e atividades de lazer. Segundo a presidente da instituição, Ana Clara Silveira, 55 crianças estão cadastradas no projeto. “Atendemos aos sábados de 25 a 30 jovens, mas temos o objetivo de receber mais crianças. Temos apenas voluntários, sem funcionários, e para a festa junina, por exemplo, conseguimos juntar uma equipe de quase 250 voluntários para os trabalhos”, conta.

Desde 2013 no Instituto, Enzo já goza de diversos benefícios trazidos pelo projeto. “O esporte melhora a condição cardiovascular dele, a autonomia, aprimora a força, a agilidade, a coordenação motora, o equilíbrio e o repertório motor. Socialmente, para o Enzo, a possibilidade de experimentar um esporte proporciona a oportunidade de sociabilização, o encoraja diante do desconhecido e o torna mais independente e destemido em situações no seu dia a dia”, conta Georgia.

O Instituto não possui uma sede própria, mas utiliza o espaço do Colégio dos Jesuítas para a realização das atividades com as crianças. Os recursos anuais captados exclusivamente no Arraiá, que chega a sua sétima edição em 2018, já levaram as crianças a experiências inesquecíveis.
“A festa junina é nosso único evento para a arrecadação de fundos e, a partir do que conseguimos, fazemos o planejamento do ano com propostas de atividades diferenciadas. A primeira delas foi levar as crianças para assistirem as Paralimpíadas do Rio e conhecerem o Parque Olímpico. Foi uma experiência muito legal. E no ano passado tivemos a oportunidade de participar da Bienal do Livro, no Rio, também com os recursos obtidos na festa junina”, conta Ana Clara.

Festa terá quadrilha aberta e shows

O evento temático da Copa será realizado com shows e participação do Uniarte Companhia de Teatro, do Grupo Alquimia, da dupla Renan & Christiano e do Dj Tomate. Paralelamente às músicas, o público terá como consumir comidas e bebidas típicas, além de se divertir com brincadeiras e até touro mecânico. Os ingressos na entrada do Terrazzo custam R$ 15, e crianças de até 5 anos não pagam. O Instituto preparou, ainda, quadrilha com as crianças atendidas, aberta também aos presentes na festa.

Os interessados ainda terão como ir à casa de eventos de forma gratuita. O Instituto irá disponibilizar um ônibus, com saídas de ponto em frente ao Colégio dos Jesuítas marcadas para 14h, 15h, 16h e 17h, e retornos ao mesmo local às 19h30, 20h30 e 21h30. A expectativa é a de que centenas de pessoas participem da festa em número crescente projetado de forma estratégica com a escolha do tema.

“Aproveitamos a Copa para atrair mais as pessoas e fazer uma coisa diferente. O diferencial da nossa festa é ser um evento totalmente inclusivo. Temos a possibilidade de todas as pessoas, desde crianças até idosos, participarem de um ambiente super familiar, tranquilo e da mesma forma. Na festa temos brinquedos para todos participarem. As crianças do Instituto Aviva participam de forma igual às outras. Adultos também têm oportunidade de brincar e a quadrilha é um momento incrível da festa, aberta para todos os convidados do evento. Juntamos quase 200 pessoas na quadrilha para poder dançar. É muito legal porque cria um clima mais familiar, e aproxima todos, tira um pouco daquela visão do preconceito com a deficiência, de acharem que são limitados, que não podem fazer as coisas. Ali podemos mostrar que tudo é possível e que eles precisam desse espaço”, relata a presidente do Instituto.