‘Jurassic World: Reino ameaçado’ estreia nos cinemas

Longa não consegue recuperar o fôlego de uma das mais promissoras e bem-sucedidas franquias da sétima arte


Por Júlio Black

19/06/2018 às 15h50

Monstrengo-símbolo da franquia, T-Rex marca presença em ‘Jurassic World: Reino ameaçado’ (Foto: Divulgação)

“Jurassic World: Reino ameaçado” estreia nesta quinta-feira (21) com dupla responsabilidade. A primeira, talvez a mais importante para o Estúdio Universal, é manter e até superar o sucesso do retorno da franquia, em 2015, que rendeu espantosos US$ 1,6 bilhão, quinta maior bilheteria mundial da história; a segunda, honrar o legado do clássico de 1993, dirigido por Steven Spielberg e até hoje o melhor filme da série, com momentos antológicos e o espanto dos animais criados por meio da mistura de computador e animatrônicos. Não à toa, o apuro técnico rendeu três Oscars, incluindo o de melhores efeitos especiais.

Para atingir os objetivos, a produção recrutou o diretor espanhol Juan Antonio Bayona, conhecido por trabalhos elogiados como o terror “O orfanato” e “O impossível”, impressionante reprodução do Grande Tsunami do Pacífico, em 2004, que matou centenas de milhares. Com US$ 170 milhões para torrar, coube a ele transformar em realidade o roteiro a oito mãos de Colin Trevorrow (diretor do longa anterior), Derek Connolly, Rick Jaffa e Amanda Silver. Pode até ser que faça bonito nas bilheterias, mas artisticamente fica muito longe do original.

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A princípio, a trama desperta interesse. Três anos depois dos eventos do filme anterior, a Ilha Nublar segue abandonada, com o Jurassic World entregue aos dinossauros, que vivem livremente. Só que um vulcão supostamente extinto volta à atividade com a força de um Kilaeua, o que provoca a discussão sobre o direito dos dinos de serem salvos de uma nova extinção. Por baixo dos panos, uma equipe é formada secretamente para resgatar o maior número possível de dinossauros, e entre os recrutados estão os dois protagonistas de “Jurassic World”, Owen Grady (Chris Pratt) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard). O que eles (ainda) não sabem é que a missão não tem nada de “humanitária”, com a corporação responsável pelo resgate tendo planos nada benevolentes para as criaturas, que são levadas aos montes para os Estados Unidos. A dupla terá a ajuda de uma veterinária despachada (Daniella Pineda) e um especialista em computadores (Justice Smith) para salvar os dinos.

Bayona entrega ótimas cenas de ação, como a sequência de abertura, a erupção do vulcão seguida pela tentativa de fuga dos dinossauros, e o ataque de um novo dinossauro no terço final do filme, que mais se aproxima de produções de terror. “Reino ameaçado” também entrega algumas boas referências aos filmes anteriores, os famosos fan services, que os fãs da série identificam com facilidade.

Escrevendo assim, até parece que o longa é uma maravilha, mas não é. Sob muitos aspectos, é inferior ao “Jurassic World” de 2015, na verdade um reboot porcamente disfarçado de continuação. Assim como o seu sucessor, sofre com um roteiro totalmente despreocupado com a coerência, em que personagens desaparecem sem a menor cerimônia, uma terrível descoberta que nada acrescenta à trama e furos, muitos furos. Não vamos estragar a experiência de quem for ao cinema, mas se a história tivesse um mínimo de coerência, a missão de resgate seria absolutamente impossível, e “Reino ameaçado” teria que ter um desenvolvimento totalmente diferente.

Para piorar, nenhum personagem é bem desenvolvido ou cria empatia, talvez a menina interpretada por Isabella Sermon. Os únicos personagens que geram simpatia são os dinossauros, principalmente a velociraptor Blue e a boa e velha T-Rex dos cinco filmes. E “Jurassic World” sofre em demasia com a repetição de situações vistas em outros filmes da série, como a volta à Ilha Nublar apesar de todas as indicações de que é uma cilada, Bino; os dinossauros sendo levados para o continente; o capitalista inescrupuloso (mais outros vilões caricatos, como o mafioso russo); o caçador impiedoso de roupa cáqui, que vê os dinossauros como mais um troféu para sua coleção; a presença obrigatória de crianças na história; o novo dinossauro geneticamente modificado, que desta vez parece capaz de assinar apólices complicadas; e o cientista irresponsável o suficiente para querer brincar de deus.

Como consolo, “Jurassic World: Reino ameaçado” termina coma possibilidade de expandir a franquia para outros rincões, abandonando de vez a Ilha Nublar e a ideia de um parque temático que sabemos que vai dar muito errado. Mas, para isso, não basta ter uma boa ideia: é preciso um roteiro menos preguiçoso e que não viva de repetir o que já vimos várias vezes nos longas já produzidos.
Puxe as orelhas dessa gente, Spielberg.

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