Marido é preso após corpo de psicóloga ser identificado por familiares

Suspeito revelou ter esganado a psicóloga e a enrolado em um edredon. Depois, levou o corpo até seu veículo em um carrinho de supermercado, abandonando-o às margens de uma via no Aeroporto


Por Sandra Zanella

08/06/2018 às 15h46- Atualizada 08/06/2018 às 17h45

Empresário de 38 anos confessou que matou a esposa e abandonou o corpo na Avenida Prefeito Mello Reis (Felipe Couri)

Um homem de 38 anos foi preso pela Polícia Civil por suspeita de assassinar a própria esposa, Marina Gonçalves Cunha, 35. A psicóloga de Juiz de Fora teria sido morta por esganadura no dia 21 de maio no apartamento do casal no Bairro São Mateus, Zona Sul, mas o corpo dela foi encontrado, nu e com o rosto desfigurado, apenas dez dias depois, às margens da Avenida Prefeito Mello Reis, no Aeroporto, Cidade Alta. A prisão aconteceu na quinta-feira (7), mesmo dia em que familiares da vítima identificaram a mulher no Instituto Médico Legal (IML). Natural do Rio de Janeiro e sócio de uma empresa de software, o suspeito foi abordado por policiais civis quando deixava os três filhos na residência da sogra na Vila Ideal, Zona Sudeste. Diante da possibilidade de fuga, a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Ione Barbosa, representou pela prisão preventiva do empresário, decretada pelo juiz do Tribunal do Júri, Paulo Tristão, por volta das 22h.

“A família nos procurou e foi ao IML indagando se teria uma mulher com as características da vítima. Diante disso, pedimos fotos e comparamos a arcada dentária, que bateu. Os médicos legistas também afirmaram se tratar da mesma pessoa. Além disso, os parentes procederam o reconhecimento, sendo feita a declaração de óbito. Com a informação de que o marido seria o suspeito de ter ceifado a vida da vítima, a equipe de investigadores diligenciou até o local onde ele estaria. O homem aceitou ir até a delegacia e relatou que realmente havia tirado a vida da sua esposa”, contou a delegada.

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Em depoimento, o empresário acabou revelando detalhes do assassinato de Marina, com uma tese de legítima defesa. Ele havia buscado a psicóloga no Aeroporto Regional, em Goianá, após ela chegar de uma viagem a São Paulo. Já na altura da Garganta do Dilermando, os dois teriam começado a discutir, segundo ele, porque a mulher estaria questionando o modo como ele havia cuidado dos filhos na ausência dela. Mais tarde, após as crianças deitarem, por volta das 20h, e o casal tomar banho, o homem teria escutado um barulho vindo da cozinha e sido surpreendido pela esposa armada com faca. Os dois teriam entrado em luta corporal, e o suspeito teria enforcado a vítima até ela desfalecer.

“O investigado contou que, depois de os filhos dormirem, a mulher quis conversar e questionou algumas situações financeiras. Inclusive fariam uma viagem dali a dois dias para Porto Alegre (RS). O casal entrou em desentendimento, e o marido disse que iria sair de casa, mas chegou a deitar. Segundo ele, a vítima teria tentado com as duas mãos desferir uma facada nele. O homem teria feito uma posição de autodefesa e retirado a faca das mãos dela. Os dois caíram da cama e entraram em luta corporal. Trocaram socos, e ele passou a sufocá-la. Mas teria excedido e, em certo momento, viu que estava desacordada. Ele afirma ter tentado fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca, mas ela não voltou à vida”, informou a delegada, descrevendo a versão do suspeito.

Empresário usou carrinho de compras para transportar corpo

Depois de se dar conta de que a esposa estava morta, o empresário investigado, 38, marido de Marina Gonçalves Cunha, 35, decidiu ir até um supermercado 24 horas, na Avenida Rio Branco, para fazer compras e poder utilizar o carrinho do próprio edifício onde mora no São Mateus, Zona Sul, para transportar o corpo. A estratégia seria usar as sacolas para esconder o cadáver, já que o prédio conta com câmeras de vigilância que poderiam flagrar a ação criminosa.

“Ele começou a pensar o que faria diante daquela situação, com os filhos dormindo, e a mulher morta. Sabia ter câmeras no edifício, mas utilizou o carrinho para poder retirá-la do apartamento sem que isso fosse percebido pelos moradores. O homem foi até o supermercado, chegou com as compras e as retirou. Enrolou a vítima em um edredom, colocou dentro do carrinho e cobriu com as sacolas”, explicou a delegada responsável pela investigação, Ione Barbosa. “É importante ressaltar que, neste momento, ele retirou a aliança e os brincos da mulher, justamente para não identificar o corpo.”

A delegada acrescentou que as gravações do circuito de segurança do edifício já estão disponíveis para análise da polícia. “Ele saiu do apartamento, desceu o elevador e usou seu próprio carro. Segundo ele, não aguentou retirá-la e acabou despejando o cadáver do carrinho para o interior do porta-malas.” Ainda conforme as declarações do suspeito à Polícia Civil, o empresário chegou a pensar em sair da cidade para dar fim ao corpo, mas desistiu porque as crianças estavam em casa. “Ele passou em frente ao Parque da Lajinha e lembrou que ali havia uma mata, onde acreditava que ninguém iria ver. Não conseguiu carregar e arrastou o cadáver, dando o edredom a um mendigo que passava.”

Também de acordo com a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, o investigado retornou para a residência e dormiu com os filhos após desovar o corpo. No dia seguinte, pensou em desculpas para dar à família. “Disse que teriam discutido e que ela teria saído de casa. Ele chegou a fazer viagens depois.”

‘Trata-se de um crime típico de feminicídio’

A delegada Ione Barbosa informou que o inquérito sobre a morte da psicóloga Marina Gonçalves Cunha, 35 anos, será concluído em dez dias. O empresário e marido da vítima, 38, deverá responder por feminicídio, considerado crime hediondo, com reclusão de 12 a 30 anos, e por ocultação de cadáver, com pena de um a três anos. “As investigações apenas começaram. Faltam o laudo cadavérico, de levantamento de local e as demais provas, como declarações de familiares e testemunhas. Mas, naturalmente, trata-se de um crime típico de feminicídio, por se tratar de violência doméstica e menosprezo à condição de mulher.” A Polícia Civil também deverá utilizar luminol para identificar possíveis vestígios de sangue no apartamento do casal e no carro utilizado para o transporte do corpo.

No dia em que o cadáver foi localizado, a Polícia Militar relatou, no boletim de ocorrência, que o rosto da vítima havia sido queimado, mas a informação ainda não foi confirmada pela delegada, pois ela aguarda o laudo de necropsia. Junto ao corpo foi encontrada uma garrafa com líquido não identificado. A mulher não portava documentos pessoais e foi achada por volta das 8h30 por um motociclista que passava pelo local, às margens da Avenida Prefeito Mello Reis, no Aeroporto, Cidade Alta. Ele contou aos militares ter parado o veículo para urinar no mato, quando avistou o corpo. Inicialmente, o condutor pensou se tratar de uma boneca.

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Segundo a Polícia Civil, o casal se conheceu em 2010 no Rio de Janeiro, onde viveu até 2013, quando mudou-se para Juiz de Fora, cidade na qual a vítima morava anteriormente. Os dois teriam tido uma separação em 2015, mas reataram. Marina deixou os três filhos, que teriam idades entre 3 e 6 anos, conforme a polícia. O suspeito está no Ceresp, à disposição da Justiça. “Ele está preso preventivamente por prazo indeterminado”, concluiu a delegada.

 

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