Faltam remédios, alimentos e transporte em Juiz de Fora
Ruas da cidade sentiram o impacto da crise com a redução de veículos; farmácias e setor de alimentação também sofrem
A greve dos caminhoneiros já dura 96 horas e, em efeito cascata, compromete serviços essenciais nas cidades. Além do transporte público, que em Juiz de Fora reduziu pela metade as viagens em horários fora do pico, e do setor de alimentação, o desabastecimento já chega às prateleiras das farmácias. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) admite que 6,4 milhões de medicamentos deixaram de ser entregues, nesta quinta-feira (25), no Brasil, por causa da paralisação. Em Juiz de Fora, remédios de uso contínuo simplesmente sumiram das prateleiras. As ruas da cidade também sentiram o impacto da crise com a redução de veículos. As vias ficaram vazias, principalmente no período da tarde.
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Nesta sexta-feira, 500 pacientes de 26 municípios consorciados com a Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes) poderão ter dificuldade para comparecer nas consultas e exames de média complexidade que estavam agendados na cidade. Sem combustível, os microônibus que fazem o transporte de passageiros para Juiz de Fora pararam de circular.
Diante da situação de caos, a quinta-feira foi de correria entre consumidores e fornecedores de produtos que tentavam minimizar os danos. Às 7h ainda havia gasolina em um posto do Bairro São Pedro, mas logo as bombas foram esvaziadas, e os funcionários, liberados. De acordo com o Consórcios Integrados do Transporte Urbano (Cinturb), também está havendo escalonamento de funcionários, através de escala de compensação de folga e hora-extra. A medida, segundo a entidade, foi tomada para racionalizar a mão de obra.
Metade da frota de ônibus foi retirada de circulação entre 9h e 16h. Conforme o Cinturb, a redução foi ainda maior nos bairros que contam com mais linhas. A medida gerou transtornos para os usuários, que tiveram que enfrentar superlotação nos coletivos. Como consequência, muitas pessoas perderam ou chegaram atrasadas em seus compromissos, como consultas médicas e aulas.
A empregada doméstica Maria das Graças Germano, 59 anos, contou que tentou sair de casa no Bairro Ipiranga no horário habitual, mas que se atrasou para o serviço pela falta de ônibus nas ruas. “Saí no meu horário normal e demorou muito tempo. O ônibus veio lotado. O pessoal reclamando muito. Estou bem atrasada, mas avisei minha patroa, e ela entendeu.” A situação se repetiu com o aposentado José Geraldo, 50, que aguardava um ônibus que pudesse levá-lo ao dentista, na Avenida Rio Branco. “Sei que vai demorar por causa da redução de ônibus. Vou ter que cancelar o dentista, pois não vai dar tempo de chegar.”
Na Avenida Getúlio Vargas, o movimento de pessoas nos pontos foi intenso. Vários usuários reclamavam da demora e da superlotação, principalmente no sentido Zona Norte. Gessiane Alves, 40, aguardou cerca de 40 minutos a linha para o Santa Cruz. Ela necessitava levar seu filho, Paulo, na escola. “Estou aqui esperando faz tempo. Ele precisa ir à aula, mas desse jeito vai acabar se atrasando. Hoje está muito complicado tudo. Pensei em pegar um Uber, mas eles também não têm gasolina”
Horário de pico
De acordo com o Cinturb, fora do horário de racionamento, a circulação normal estará mantida. No entanto, caso a greve persista, será adotada nova estratégia para tentar evitar a paralisação completa do serviço. Desde a última segunda-feira, as refinarias não entregam combustível nas garagens, e o estoque das empresas já está muito reduzido. Para agravar a situação, os motoristas por aplicativo também restringiram o horário de trabalho. Segundo o vice-presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos de Juiz de Fora (Amoaplic/JF), Sóstenes Josué, possivelmente a maior parte dos que circularam na manhã de quinta-feira eram proprietários de carros movidos a gás. “A demanda aumentou, mas muitos optaram por economizar, rodando nos horários de pico com o pouco de gasolina que tem”, afirmou.
Já os taxistas vêm mantendo a oferta a duras penas. Francisco Teodoro, por exemplo, tinha estocado mais de 200 litros em galões certificados pelo Inmetro. “Estou me planejando desde segunda.” Já o motorista Marcelo Ramos chegou a pagar R$ 6 no litro da gasolina na noite de quarta-feira. “Ainda não sei se vai compensar esse preço, mas só vou saber no fim do dia. Pelo menos tenho gasolina para rodar até o fim de semana”, calcula.