Movimento dos caminhoneiros se divide sobre trégua pedida pelo governo

Maior parte das entidades representativas da categoria aceita suspender greve, mas presidente da Abcam quer manter manifestação


Por Lu Aiko Otta, Fernando Nakagawa, Julia Lindner para Agência Estado

24/05/2018 às 17h23

Caminhões estacionados ao longo da BR-040, na altura do Distrito Industrial (Foto: Fernando Priamo)

Numa clara divisão do movimento de paralisação dos caminhoneiros, a maior parte das entidades representativas da categoria aceitou nesta quinta-feira (24) o pedido de trégua feito pelo governo para que sejam examinadas as reivindicações da categoria. Mas o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca, deixou a reunião antes do fim afirmando que orientará sua base a manter a greve até que seja aprovada e sancionada a lei que desonera o diesel do PIS/Cofins e da Cide.

Questionado se a maioria havia aceitado o pedido de trégua do governo, ele afirmou: “A maioria que está aí dentro sim, mas a que está lá fora, não. Está esperando o meu pronunciamento.” Fonseca diz liderar 700 mil caminhoneiros, em 60 sindicatos e 7 federações.

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O presidente da Abcam afirmou que seu objetivo é resolver o problema do PIS, da Cofins e da Cide. Ele contou ter dado ao governo um prazo de dois dias – até sexta-feira – para uma resposta. “A Câmara fez a lição de casa: votou e encaminhou para o Senado”, disse. “Mas temos um presidente do Senado e do Congresso que acha que é o maior brasileiro do mundo. Pegou o avião dele e foi embora. Nos deixou nessa situação. Por causa disso, eu, que estou na frente desse movimento, vou falar com o meu pessoal que não vamos levantar o movimento enquanto esse homem não chegar, convocar os senadores, votar e aprovar a lei. Aí sim, eu levanto o movimento.”

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), viajou nesta quinta cedo para Fortaleza. Mas, diante da repercussão negativa, resolveu voltar e convocar uma reunião para as 19 horas desta mesma data.

Informado da volta de Eunício, Fonseca não se impressionou. “Problema dele.” O que interessa, acrescentou, é ver a lei aprovada.

Questionado sobre a proposta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) de reduzir o PIS-Cofins de R$ 0,46 para R$ 0,29, ele irritou-se “Esse, não falaram para mim. Falaram a redução integral. A cada problema que eles arrumarem o movimento vai continuar cada vez mais forte. Se quiserem pôr fogo nesse País estão conseguindo.”

Maia apresentou essa sugestão depois que o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, deu uma entrevista afirmando que a Câmara havia aprovado o projeto de lei com a desoneração do PIS-Cofins sobre o diesel com base em cálculos errados.

A pauta em discussão na reunião que ainda prossegue no Planalto trata de temas que Fonseca considera “secundários”. Por exemplo, o pedido para que alguns Estados, como São Paulo, Paraná e Mato Grosso, deixem de cobrar pedágio sobre os eixos suspensos dos caminhões, como já ocorre nas rodovias federais.

O movimento continuará enquanto não houver um preço “convincente” para o óleo, disse. “Meu amigo, quando o governo não quer atender reivindicações, cria grupo de trabalho. E é isso que está acontecendo”, informou o presidente da Abcam.

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