Alimentos começam a faltar em Juiz de Fora
Ceasa amanheceu vazia nesta quinta-feira (23), e produtos não chegaram às feiras e supermercados
Reflexo da greve nacional dos caminhoneiros, os alimentos podem faltar à mesa do consumidor nos próximos dias. Nesta quinta-feira (24), a Central de Abastecimento (Ceasa) em Juiz de Fora amanheceu vazia. Os poucos produtores presentes chegaram na tarde de quarta-feira (23) e precisaram pernoitar no local, pois manifestantes bloquearam o portão de acesso durante a noite. A polícia chegou pela manhã, e a passagem foi reaberta. No entanto, a movimentação de fornecedores e consumidores foi muito inferior em relação aos dias normais.
Produtores de Barbacena, Teresópolis, Piau, Astolfo Dutra e Matias Barbosa que trabalham na Ceasa em Juiz de Fora não compareceram. De acordo com quem estava na Ceasa, até um fornecedor juiz-forano que vem do Bairro Barreira do Triunfo não teria conseguido atravessar a rodovia. “Sou da cidade de Tocantins e trouxe a mercadoria em veículo menor. Cheguei na quarta à tarde e dormi aqui, pois o portão foi bloqueado à noite. Ninguém podia entrar ou sair”, relatou o produtor Bráulio Gonçalves. Ele disse que pensou em não ir à Ceasa, mas decidiu levar um estoque menor de mexerica, maracujá e goiaba para tentar vender.
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Também natural de Tocantins, o produtor Leandro Fernandes estimou queda de 90% das vendas. “Em dias normais, vendo mil caixas. Hoje não sei se chego a cem.” Já prevendo a menor movimentação na Ceasa, ele conta que reduziu a quantidade de mexerica, limão, pimentão e jiló que trouxe para Juiz de Fora. “Mesmo assim, não sei se vou conseguir vender. Talvez tenha que deixar a mercadoria e voltar amanhã.”
Segundo o produtor Marco Antônio de Melo, a demanda caiu de forma surpreendente, e os mercados devem sentir falta dos produtos. “Geralmente, vem muita gente de Três Rios, Valença e outras cidades do estado do Rio comprar, mas hoje foi diferente. Até quem é de Juiz de Fora não apareceu. Os consumidores devem ter pensado que não teria ninguém aqui” Além das baixas vendas, a preocupação dele era como iria voltar para casa. “Sou de Tocantins, mas até agora ainda não sei como irei voltar, pois devo deixar o caminhão aqui.”
Preços nas alturas
Os produtos que conseguiram chegar à Ceasa vieram bem mais caros. Para se ter ideia, o saco de batatas que antes era vendido a R$ 50, nesta quinta custava R$ 120, mais do que o dobro do preço. “Nós estamos com um caminhão retido na estrada, e o que conseguiu chegar veio por um atalho. Já estou pagando mais caro e tendo que repassar ao consumidor”, explicou a proprietária do Box Tereza das Batatas, Tereza Maria Ferreira. A preocupação era com a possibilidade de perder os produtos. “Estou com o estoque pela metade, mas não tem freguês para comprar, e o produto é perecível.”
De supermercado a feira de bairros comprometidos
Por conta da ausência de muitos fornecedores na Ceasa, a feira realizada no Bairro Manoel Honório, nesta quinta, também ficou desabastecida. Feirantes relataram à Tribuna que não encontraram muitos produtos, e boa parte do que estava disponível encareceu demais. “Não encontrei mamão, caqui, uva e outras frutas que costumam ter boa procura entre os consumidores. O que comprei subiu bastante de preço, como banana e goiaba”, disse a feirante Jeanne Mendes.
Nas lojas do supermercado Bahamas já faltam verduras folhosas. “O último abastecimento foi na manhã de segunda-feira (21), e o nosso setor de Ceasa está bastante prejudicado. Produtos como cebola roxa, repolho e abóbora também estão acabando”, afirmou o gerente de marketing Nelson Júnior. Segundo ele, os outros setores podem ficar desabastecidos gradativamente. “Nosso Centro de Distribuição fica na BR-040, e a concentração da manifestação é em frente. Desde segunda-feira, não saiu nenhum caminhão para as lojas. Estamos trabalhando com nosso estoque mínimo de loja, que garante a manutenção por até 12 dias, mas já se passaram quatro.”