Juiz de Fora perde participação no potencial de consumo no país

Em todas as classes sociais houve redução, com exceção da classe A


Por Fabíola Costa

19/05/2018 às 07h00

Cidade é a quarta com maior potencial de consumo no estado, estimado em R$ 15,133 bilhões (Foto: Olavo Prazeres)

Juiz de Fora é a quarta cidade com maior potencial de consumo no estado, estimado na ordem de R$ 15,133 bilhões. No ranking nacional, o município ocupa o 37º lugar. Apesar de ter mantido as mesmas posições do ano anterior, o share de consumo caiu 5%, de R$ 0,35842 em 2017 para R$ 0,34048 este ano. Na prática, isso significa que a cada R$ 100 consumidos no país, R$ 0,34 virão do bolso do juiz-forano. Este é um dos resultados apresentados pelo IPC Maps, pesquisa especializada no cálculo de índices de potencial de consumo nacional, com base em dados oficiais, realizada pela IPC Marketing Editora. O estudo aponta que, após um longo período de estagnação, as famílias brasileiras têm retomado, aos poucos, os hábitos de consumo e devem movimentar R$ 4,4 trilhões na economia até o final do ano, aumento real de 3% (variação de R$ 240,7 milhões) em relação a 2017. A projeção considera a estimativa de inflação de 3,70% em 2018.

O responsável pela pesquisa, Marcos Pazzini, identifica perda de participação do município no bolo do consumo nacional. A queda, considerada “relativamente pequena” em termos percentuais, apesar de não impactar as posições nos rankings de consumo, representará menos R$ 797,3 milhões no bolso da população de Juiz de Fora. Segundo ele, a cifra, agora, está nas mãos de moradores de outros municípios que apresentaram crescimento acima da média nacional. O consumo per capita em Juiz de Fora é maior do que a média nacional. O urbano soma R$ 26.835,42 (contra a média de R$ 23.365,89 no país), enquanto o rural chega a R$ 12.998,84 (contra R$ 9.511,79 no país).

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No que diz respeito à quantidade de empresas instaladas na cidade, Pazzini identifica incremento de 948 unidades empresariais entre 2017 e 2018, com destaque positivo para os setores de indústria (562) e serviços (681) e negativo para o comércio, que fechou 291 unidades nesse período. O crescimento verificado na cidade, diz, foi de 1,4%, quase dez vezes maior do que a média nacional (0,15%). A abertura de empresas, especialmente no setor de comércio, é considerada um termômetro para mensurar o consumo, já que o setor é um importante empregador no município. Ele também identifica migração social positiva de domicílios urbanos das classes D/E para a classe C, “mas esse processo não foi suficiente para alavancar o crescimento do potencial de consumo da cidade”. Em 2017, havia 40.260 domicílios enquadrados na categoria D/E e esse número caiu para 38.904. Em contrapartida, a classe C, que reunia 101.609 domicílios no ano passado, passa a concentrar 105.442 em 2018, conforme o estudo.

Na avaliação do presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio), Emerson Beloti, a intenção de consumo apresentou uma pequena melhora em relação ao ano passado, mas “ainda não é o que a gente gostaria”, principalmente na comparação com o desempenho do setor verificado há cinco anos. “Não há motivos para comemorar. Temos que aguardar mais um pouco para avaliar o desempenho do ano, porque o segundo semestre, tradicionalmente, tende a ser melhor do que o primeiro.”

(Foto: Olavo Prazeres)

Para Beloti, a quarta posição no estado não é novidade, lembrando que, há alguns anos, o município conseguiu até melhor desempenho no ranking mineiro. “O que a gente percebe é que o movimento no comércio depende de fatores da economia local. É o primeiro a sentir quando o cenário está ruim e o último a se beneficiar de uma melhora.” Beloti destaca a presença e a força do setor de serviços – que apresentou expansão no número de empresas – em áreas como saúde, educação e gastronomia, que gera consumo também no comércio. “Esperamos sempre que o comércio cresça, mas ele depende muito dos fatores externos.”

De olho na posição de Juiz de Fora nos contextos estadual (por estar entre as cinco) e nacional (entre as 50), Pazzini avalia que é possível vislumbrar um cenário de otimismo para as cidades de médio porte, mediante o crescimento real do consumo no país, resultado que deve alavancar o desempenho de outros municípios com este perfil. “As cidades com uma base forte de empresas instaladas apresenta uma tendência de crescimento, recuperando-se, mais rapidamente, do cenário de crise.” A abertura de mais empresas leva ao aumento de empregos e renda, favorecendo o consumo, diz.

De acordo com o IPC Maps, permanecem como maiores mercados, por ordem decrescente, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre e Goiânia. Os chamados mercados potenciais (que estão entre os 50 mais do país), embora com uma pequena retração em relação ao ano passado, são responsáveis por 39,73% de tudo o que é consumido no país, o equivalente a R$ 1,7 trilhão. Além de Juiz de Fora, estão nessa posição, em Minas Gerais, além da capital, Contagem e Uberlândia, os três melhor posicionados no ranking mineiro, na ordem.

Base consumidora revela desigualdade; apenas classe A eleva gastos

O perfil do consumo urbano por extratos sociais mantém, via de regra, as características dos últimos anos. A classe B, presente em 26,6% dos domicílios em Juiz de Fora, lidera o ranking, respondendo por 42,7% (cerca de R$ 6,4 bilhões) do desembolso de recursos.

Em seguida está a classe média (C), predominando em 51,7% das residências e movimentando 33,8% (R$ 5 bilhões). No topo da pirâmide, a classe alta (A), com 2,6% dos domicílios, apresenta participação de 16,9% na projeção de consumo, estimada em cerca de R$ 2,5 bilhões. Por fim, a classe D/E, que representa 19,1% dos domicílios, tem consumo estimado em R$ 989,9 milhões, o equivalente a 6,6% do total estimado para o município.

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Na análise de um ano para o outro, percebe-se que, em todas as classes, houve redução no potencial de consumo, com exceção da classe A, que elevou a participação de 12,7% para 16,9% no período. Em relação aos hábitos de consumo, a manutenção do lar (incluindo alugueis, impostos, luz, água e gás) lidera a lista de gastos, absorvendo 25,7% do mercado. No topo da lista estão, ainda, alimentação no domicílio (10,57%), materiais de construção (6,14%), gastos com veículo próprio (4,68%) e alimentação fora do domicílio (4,38%).

A pesquisa

Publicado anualmente pela IPC Marketing Editora, o IPC Maps mensura o potencial de consumo por categorias de produtos para cada um dos 5.570 municípios do país, com base em dados oficiais, através de versões em softwares de geoprocessamento. Para estratificar as classes, foi adotada como parâmetro a renda média domiciliar: classe A (R$ 20.888), classe B (de R$ 4.852 a R$ 9.254), classe C (R$1.625 a R$ 2.705) e D/E (R$ 768).

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