Polícia apresenta balanço de megaoperação de combate à pedofilia
Ação aconteceu em todos os estados do país. No município e na região, 308 crianças e jovens vítimas de abusos sexuais entre janeiro de 2017 e abril deste ano foram atendidos no HPS, o que dá uma média de quase 20 ocorrências mensais
Juiz de Fora entrou na rota da maior operação de combate à pedofilia realizada no Brasil, nesta quinta-feira (17), numa integração de inteligências policiais em todo o país. O ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a operação Luz na Infância 2, como foi batizada, é a maior já realizada na nação para combater a exploração e o abuso sexual contra crianças e adolescentes. Na cidade de Juiz de Fora, que integra o 4º Departamento de Polícia Civil, foram cumpridos três mandados, tendo como alvo dois suspeitos. A casa e o estabelecimento comercial de um empresário, de 28 anos, e a residência de uma mulher, 60, receberam a vistoria dos agentes. Os suspeitos não foram presos, mas foi apreendido e encaminhado para a perícia vasto material onde haveria armazenamento de conteúdo pornográfico com imagens de crianças e adolescentes. Caso sejam encontradas provas de pedofilia, os proprietários podem ter as prisões efetivadas.
Como trata-se de uma investigação de âmbito nacional, a Polícia Civil de Juiz de Fora não detalhou o motivo pelo qual o município entrou na lista da operação, mas dados do Protocolo de Atendimento ao Risco Biológico Ocupacional e Sexual (Parbos) do Hospital de Pronto Socorro (HPS) mostram que, de janeiro de 2017 a abril deste ano, 308 crianças e jovens foram vítimas de abusos sexuais no município e na região. Conforme os números de atendimentos, são quase 20 vítimas violentadas por mês. O mais triste é que as crianças mais novas estão cada vez mais na mira dos abusadores. A maioria das vítimas, 239 delas, tem menos de 12 anos de idade.
Nove mandados
De acordo com o delegado chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, Carlos Roberto da Silveira Costa, na sua área de competência, nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos, sendo três deles em Juiz de Fora. O cumprimento contou com a participação de equipes compostas por policiais com conhecimento de informática e por peritos liderados pelas delegadas Ione Barbosa, Ângela Fellet e Sheila Oliveira. “Os suspeitos não foram presos, porque, apesar do material recolhido, não se encontrou algo que pudesse resultar nas prisões. Mas todo o material será encaminhado para perícia em Belo Horizonte. Se algum delito for constatado, será instaurado inquérito por portaria, e os suspeitos irão responder pelo crime”, ressaltou Carlos Roberto, acrescentando que os resultados devem estar prontos em 30 dias.
Policiais que acompanharam a delegada Ione Barbosa foram até a região Nordeste, onde mora o empresário do ramo de provedores de internet, um dos alvos da ação. Segundo Ione, nos materiais colhidos na residência não havia, de imediato, provas de crimes, mas indícios. Por isso, pen drives, chips, celulares, mídias, uma câmera e um microcomputador foram apreendidos.
“A perícia irá determinar se há vídeos e fotos que contenham cenas de sexo explícito com envolvimento de criança ou adolescente”.
Ela ainda informou que o empresário suspeito tem seu negócio com foco em outra cidade próxima a Juiz de Fora. O município não foi revelado para não atrapalhar a investigação. Em Juiz de Fora, como pontuou a Polícia Civil, o denunciado tem poucos clientes.
O estabelecimento comercial dele, no Centro da cidade, foi averiguado por uma equipe comandada pela delegada Ângela Fellet. Ela afirmou que, no local, funciona uma central para controle de servidores de internet, mas nada de irregular foi encontrado. “Nossa investigação dará sequência para saber quem são esses clientes, pois até eles podem ser suspeitos de prática de pedofilia.”
Já uma casa, na Zona Norte, foi o terceiro endereço vasculhado pela polícia. O mandado foi cumprido pela equipe comandada pela delegada Sheila Oliveira. A desconfiança da polícia é que um dos dois filhos da moradora, uma idosa de 60 anos, tenha envolvimento com a pedofilia. No imóvel foi apreendido uma CPU com material pornográfico. “Não temos como apontar as idades das pessoas que aparecem nas imagens, mas aparentemente são mulheres menores de 18 anos. Inclusive há um vídeo intitulado “Meninas de 16 anos”. Em outras imagens, aparecem mulheres com uniforme escolar em cenas e atitudes pornográficas”, destacou Sheila.
Conforme a delegada, os filhos não estavam na residência, mas foi apurado que um deles, atualmente, mora em Curitiba (PR) e o outro em São Paulo (SP). “Percebemos que essa senhora não tem conhecimento para manusear o computador. Muitos dos arquivos encontrados são antigos, e os suspeitos podem continuar praticando o crime de outro lugar”, disse Sheila.
Polícia alerta para cuidados na rede
A delegada Ângela Fellet chamou atenção para a questão do cuidado que as pessoas, principalmente crianças e adolescentes, deve ter ao navegar na internet. “Hoje está muito atual e muito banalizada a troca de nudes, envolvendo adolescentes e crianças e mesmo adultos, o que pode ser perigo quando esse material cai em mãos erradas. Até quem armazena esse tipo de material também comete crime. Os pais devem estar alertas, limitando tempo de uso de internet, tempo de uso no celular, verificar acessos, negar e restringir acessos a determinados sites, para evitar que seus familiares sejam vítimas, porque o pedófilo não tem perfil bem definido e pode estar em qualquer lugar”.
Região
Durante a operação Luz na Infância 2, na área de atuação do 4º Departamento de Polícia Civil, um homem, de 36 anos, foi preso em Viçosa. Ele foi atuado sem direito à fiança no artigo 241a do Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja pena é de três a seis anos de prisão. Na casa dele, foi comprovado que ele produzia e distribuía material com pedofilia.
No total, a ação apreendeu na região dois CPUs, seis pen drives, cinco celulares, dois chips, 1.689 mídias, sendo 1.647 só com preso em Viçosa; duas câmeras de filmagens, três notebooks, um desk top, um HD, um cartão de memória e quatro videogames. Foram três mandados cumpridos em Juiz de Fora, um em Além Paraíba, um em Leopoldina, dois em Cataguases, um em Muriaé e um em Viçosa.
Comissão de Combate à Pedofilia
A Câmara Municipal de Juiz de Fora, por meio dos integrantes da Comissão Especial de Combate à Pedofilia, durante esta semana, visitou Curumins da cidade para levar às crianças informações e distribuir cartilhas confeccionadas pela Câmara, abordando o assunto. Nesta sexta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, um coral irá se apresentar, às 10h, na escadaria da Câmara.
Paralelamente, uma intervenção acontece no Calçadão da Halfeld, em frente ao Cine-Theatro Central, para lembrar as vítimas da violência e chamar a atenção da população sobre a importância de conscientização e da denúncia. Um varal com o número de roupas de cada criança violentada será exposto no local. Num segundo momento, as roupas serão doadas para instituições e famílias necessitadas.
Para denúncias sobre pedofilia, as pessoas devem procurar ajuda no Conselho Tutelar e nas polícias Civil ou Militar. Além disso, a denúncia pode ser feita ao Disque 100 ou pelo e-mail disquedenuncia@sedh.gov.br, um canal gratuito e anônimo.
Maior ação em um único dia
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), a operação Luz na Infância 2 é a maior operação para reprimir crimes de abuso infantojuvenil concentrada em um único dia no mundo todo. Até o fechamento desta edição, foram registradas 132 prisões em flagrantes em 284 cidades do Distrito Federal e 24 estados. O número deve aumentar até o balanço final. Para a operação, foram analisados cerca de um milhão de arquivos suspeitos pela Diretoria de Inteligência da Senasp.
Entre os presos, houve casos de pessoas flagradas com um mínimo de 150 arquivos baixados até 200 mil arquivos. Alessandro Barreto, coordenador de contrainteligência da Diretoria de Inteligência da Senasp, afirmou que foram presas pessoas de diferentes perfis, homens e mulheres “acima de qualquer suspeita”, como educadores, advogados, profissionais de saúde e servidores públicos. A faixa etária também varia desde os 20 e poucos anos até idosos.