É dando que se recebe

Pedido de impeachment de Pimentel mais parece uma articulação do MDB para retomar seu espaço na aliança com o PT


Por Tribuna

28/04/2018 às 07h00- Atualizada 28/04/2018 às 17h42

Os partidos políticos, a despeito do papel representativo que ostentam, agem voltados para o interesse próprio, muitas vezes apartado do desejo do eleitor. Em anos de eleição, principalmente, são adotadas medidas com o nítido viés de negociação, na busca de alianças e, consequentemente, de tempo no horário da propaganda eleitoral gratuita. O pedido de impeachment do governador Fernando Pimentel, acolhido para leitura pela Assembleia Legislativa, pode até ter razões jurídicas para ser impetrado. Até aí, não há surpresa. O que chama a atenção, porém, é seu acolhimento pela Assembleia, até então infensa a outros pedidos que ficaram nas gavetas.

Por trás da cortina repousa a suspeita de que o aceite foi um mero jogo de cena, especialmente do MDB, até então aliado do governador durante os quatro anos de mandato. O presidente da Assembleia, Adalclever Lopes, que não presidiu a sessão, mas teria autorizado o acolhimento do pedido – nada acontece sem sua orientação no Legislativo -, deixou claro, com o gesto, que não está satisfeito com o encaminhamento das negociações para uma nova aliança entre os dois partidos.

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Pré-candidato ao Senado, ele não gostou nem um pouco de ter que dividir o protagonismo com a ex-presidente Dilma Rousseff, que voltou a Minas para disputar uma das vagas. Adalclever queria ser o cabeça da chapa, o que não bate com o discurso petista que tem a ex-chefe do Governo como opção preferencial. Ademais, sua filiação ao PT de Minas surgiu de uma orientação do próprio presidente Lula, durante o período em que estava acantonado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Paulo, negociando sua rendição à Polícia Federal.

O MDB, ao seu velho e bom estilo, apresentou a conta. Ou ganha espaço numa eventual coligação ou o processo avança, deixando o governador num impasse, pois depende do aliado para tocar suas demandas na Assembleia e, sobretudo, na campanha eleitoral.

Esse jogo político é jogado nos bastidores, mas não deve ter o aval da opinião pública, pois nem sempre os fins justificam os meios. O que se vê na Assembleia é o lado mais perverso da política, o mesmo, aliás, que reforça o discurso dos outsiders que a consideram um estorvo para o país. Estão equivocados. A política ainda é a principal via de transformação, mas os políticos precisam colaborar para que isso, de fato, seja constatado.

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