Pelé e Zagalo apostaram no Tu-Tu há 48 anos

Último clássico entre Tupynambás e Tupi pela primeira divisão estadual, em 1970, fez parte do primeiro teste da Loteria Esportiva do Brasil


Por Bruno Kaehler

29/04/2018 às 07h00

Foto reproduzida do blog Mauricioresgatandoopassado mostra o zagueiro Jair com a camisa do Tupi, autor dos dois gols do Tu-Tu de 1970 pela elite mineira

Em 18 de agosto de 1912 era dado o pontapé de partida para o primeiro duelo envolvendo Tupi e Tupynambás. Do amistoso terminado em 1 a 1 para cá, foram 271 jogos do rico histórico desse tradicional clássico juiz-forano, com 128 vitórias do Galo, 76 triunfos do Leão do Poço Rico e 67 empates, segundo dados fornecidos à Tribuna pelo professor e pesquisador Leonardo de Souza Lima. Entre estes confrontos, um acabou marcado na história como o último válido pela primeira divisão estadual, em 19 de abril de 1970, finalizado em 2 a 0 para o Alvinegro de Santa Terezinha.

O confronto fez parte de fase ainda sem os grandes times de Belo Horizonte, como lembrou Leo Lima. “Esse jogo foi válido pela primeira fase do Campeonato Mineiro, uma etapa classificatória que contou com Tupi, Tupynambás e Sport. O Baeta acabou eliminado. Nesse jogo, o Tupi até estava um pouco pressionado porque iniciou mal a competição, tinha demitido o treinador Arizona e contratado o Francinha, famoso meia do Tupi daquele time do Fantasma do Mineirão. E essa vitória por 2 a 0 deu uma animada no grupo, que melhorou na competição e conseguiu se classificar. Foram dois do zagueiro Jair”, conta.

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Baeta de novembro de 1933, segundo acervo de Humberto Ferreira, com Sisifo, Cláudio, Zé Augusto, Lino, Dionísio, Tamoio, Chico, Pereira, Waldemiro, Mascote, Paulo, Palhares, Alfredo e Lage

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Ex-prefeito e comentarista esportivo, José Eduardo Araújo, 72 anos, não apenas rememorou a data, como o cenário do Leão na temporada. “O Magela era o técnico do Baeta, mas como ele sempre foi Tupi, falou que tinha que operar, e o Augusto (Clemente) assumiu. O Tupynambás estava passando por uma reestruturação muito grande. Sempre foi o clube do povo aqui, era o único time que só tinha estádio de futebol, chamado, naquele tempo, de Estádio dos Eucaliptos (atual José Paiz Soares). Você tinha a arquibancada de cimento, no meio o espaço para a crônica esportiva e os dois vestiários. Do outro lado era a geral, de madeira. Naquela época não existia o Bairro Santa Teresa e havia um placar atrás do gol da Rua Delorme Louzada. E você tinha o campo do Tupi, o Salles Oliveira, que tinha um placar com relógio, que marcava o tempo dos jogos lá. O melhor estádio era do Sport, com uma geral de cinco degraus que ia mais à frente, já que não existia a Avenida Brasil.”

Imagem do acervo de Luiz Carlos de Andrade relembra uma das equipes do Baeta entre 1964 e 1970

Em notícia sobre o jogo, o extinto jornal Diário Mercantil relatou o Tupi escalado com Lumumba; Santana, Murilo, Jair e Danilo; Jaílton e Oberdan (Osvaldo); Hércules, Adair, Cristóvão (Edinho II) e Ninha. O Baeta, por sua vez, atuou com Batista; Moreco, Índio, Vilmar e Enéas; Divino e Miguel; Beto, Luiz Augusto (Roberto), Nilo (David) e Pio. Ao todo, Tupi e Baeta jogaram quatro vezes pela elite mineira, com dois duelos em 1933 (vitórias carijós por 2 a 1 e 3 a 2) e outros dois em 1970 (empate em 0 a 0 e triunfo do Galo de 2 a 0).

Pelé e Zagalo apostaram no Tu-Tu na Loteria Esportiva

As histórias do duelo de 1970 não param por aí. Coincidentemente, o último Tu-Tu pela elite do Campeonato Mineiro fez parte do primeiro teste da Loteria Esportiva no Brasil. “Naquela época eram 13 jogos e você era obrigado a colocar seu nome e a identidade ou CPF no volante. Só tinha a Loteria Esportiva, que depois ficou famosa pela Zebrinha (personagem criada em 1972 que informava os resultados da Loteria Esportiva na TV)”, rememora José Eduardo. O clássico juiz-forano era o jogo 10 no cartão reproduzido em 100 mil unidades, com 76.649 delas vendidas (ver foto acima).

Novidade na época para os brasileiros, os palpites foram feitos em todo o país. Apostaram até ícones do futebol mundial, como Pelé e o técnico da Seleção Brasileira naquele ano, Zagallo. Curiosamente, o Rei do Futebol e o comandante canário expuseram opiniões opostas registradas também por uma edição do Diário Mercantil e destacadas pelo pesquisador Leo Lima. “Fizeram uma enquete na época e o Pelé, no auge com a Seleção Brasileira de 1970, palpitou no Baeta como vencedor, enquanto o Zagalo apostou no Tupi. Deve ter sido porque 13 é Galo, como ele é supersticioso, e deu certo, acabou cravando!”, conta o pesquisador.

O volante da Loteria ainda contou com jogos dos campeonatos carioca (profissional e de juvenis), paulista, gaúcho, mineiro, paranaense e até português (ver imagem). O envolvimento do torcedor na cidade era notório, segundo José Eduardo Araújo. Dez anos antes, inclusive, Pelé enfrentava a Seleção de Juiz de Fora no campo no Procópio Teixeira, em partida vencida pela equipe do Rei, a Seleção Paulista, por 4 a 3. “Você tinha público de 5, 6 mil pessoas normalmente nos campos. No dia em que o Pelé veio em Juiz de Fora, em 1960, pela Seleção Paulista, chegou um momento em que não tinha mais como entrar no campo do Sport. Ultrapassou 9 mil pessoas, eu estava no topo.

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As cabines de rádio eram no meio da arquibancada, e não acima, como hoje. A Seleção de Juiz de Fora tinha Hélio; Aderbal e Djalma; Faninho, Francinha e Klebis; Odir, Ipojucan, Célio, Jorge Guimarães e Toledinho. Era um apanhado entre os clubes, que na época tinha um torneio regional na cidade com Juiz de Fora, quatro times de Barbacena e Santos Dumont.”

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