Rua São Mateus tem trânsito saturado
Via estreita e de mão-dupla tornou-se um corredor de tráfego, ligando Centro a bairros da Zona Sul e Cidade Alta; Settra não tem projetos para resolver congestionamentos
Com uma faixa de circulação por sentido, a Rua São Mateus não suporta mais o grande volume de veículos que passam pela via diariamente. Se antes as retenções eram limitadas aos horários considerados de pico, hoje elas são rotina em todos os momentos, prejudicando comerciantes e trazendo prejuízos aos moradores do entorno. Para pedestres, a situação se torna ainda pior, dada a falta de segurança e o limitado número de espaços seguros para travessia. Há cerca de 20 anos, antes da implantação da atual estrutura viária da Ladeira Alexandre Leonel, a Rua São Mateus tinha como característica o trânsito local de veículos, atendendo às necessidades daquela região. No entanto, após o crescimento do Bairro Cascatinha e a explosão imobiliária do Estrela Sul e seu acentuado processo de verticalização, a São Mateus se tornou caminho obrigatório para todo esse entorno.
Se hoje o trânsito na Rua São Mateus é considerado insuportável para quem necessita dele, há seis anos a realidade já era discutida e dividia opiniões. Na época, o então prefeito Custódio Mattos (PSDB) promoveu uma licitação pública que tinha como objetivo contratar uma empresa de consultoria responsável por apontar alternativas para os constantes gargalos que já eram observados. O estudo a ser feito avaliaria a possibilidade de se construir um binário, fazendo parte da São Mateus operar em faixa única de circulação, no sentido Bairro/Centro. O caminho contrário seria feito por ruas paralelas que se ligariam por meio de desapropriações pontuais. À época, o projeto não teve o apoio da comunidade e não seguiu adiante, também, em razão da indisponibilidade financeira do Poder Executivo.
Morador do bairro há 70 anos, o mestre em Engenharia de Transportes José Luiz Britto Bastos afirma que há poucas alternativas possíveis para os gargalos na Rua São Mateus. Segundo ele, o projeto de binário que existe na Settra é uma das únicas soluções, embora também tenha efeito limitado. “A região vai continuar crescendo, assim como a frota de veículos. Então é uma medida com prazo de validade. Mas se nada for feito, vamos continuar com a via conforme ela está, com tendência a piorar.”
O projeto em questão tinha a proposta de se criar uma nova via entre as ruas Coronel Pacheco e Monsenhor Gustavo Freire, em um terreno onde hoje está a Cesama e uma casa. Já para o fluxo de descida, o estudo previa desapropriar parte de uma instituição para que fosse possível ligar as ruas São Mateus e Melo Franco. Nesta ação, até mesmo parte da Praça Jarbas de Lery se transformaria em traçado para os veículos, ligando as ruas Doutor Romualdo e Manoel Bernardino, no sentido Centro/bairro. “Não tem outra solução conhecida. A outra seria cortar toda a Rua Mamoré (paralela à Rua São Mateus), mas para isso seria preciso até mesmo desapropriar prédios, o que é inviável. Mas a verdade é que, daqui a alguns dias, não conseguiremos mais passar pela rua. Agora, em certos horários, é mais rápido até a pé do que de carro ou ônibus”, disse Britto.
O chaveiro Hewerton Carvalho trabalha na Rua São Mateus há cinco anos e, segundo ele, o trânsito está cada vez pior. “Nos horários de pico, o trânsito para. Pior é entre 7h30 e 8h, e também por volta das 17h30, embora tenha engarrafamentos praticamente o dia todo.”
‘Problema complexo’
Na avaliação do secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, a questão da Rua São Mateus é complexa. “Ela não tem uma via paralela e, por isso, não há como fazer um binário. A solução que foi proposta anteriormente (projeto de 2012) apresentava grandes dificuldades de viabilidade da implantação. É um projeto que não está nos planos desta secretaria, e a gente precisa buscar novas alternativas.”
Apesar disso, Tortoriello afirmou que, atualmente, não há nada de concreto sendo feito para resolver a questão. “Fazemos algumas simulações de alternativas, ainda que paliativas, pois hoje não há uma solução conhecida. Acredito que para chegar neste ponto, precisaremos trabalhar junto com os moradores e comerciantes, para debater as mudanças de postura e utilização da via e chegarmos a um consenso”, afirmou, acrescentando que, por enquanto, as discussões estão no “campo das ideias”. “Quando me falam em mão única, eu logo pergunto: ‘mas no sentido Centro ou bairro?’. Se fazemos uma alteração hoje, podemos impedir alguns acessos e levaremos reflexos para outras vias, como a própria Avenida Itamar Franco, que já apresenta retenções. Por ser uma rua de passagem para outros bairros, a área de abrangência de qualquer estudo será muito ampla.”
Comunidade fala em riscos para pedestres
O grande fluxo de veículos que hoje utilizam a Rua São Mateus em todos os momentos não são nocivos apenas à fluidez. Para os pedestres, a situação também representa perigo, pois nem mesmo as faixas elevadas de travessia, conhecidas como traffic calmings, são respeitadas. “O que adianta o trânsito parado se as motos não respeitam os pedestres? É muito perigoso, porque são poucos os locais com semáforos”, disse a aposentada Iony Barbosa, 67 anos. O chaveiro Hewerton Carvalho reforça o coro: “A rua é estreita, e mesmo assim tem gente que fica parado aqui perto da loja até cinco minutos para conseguir ir de um lado para o outro.”
Comerciante na rua há 20 anos, Cleusilea Amorim reforça que falta respeito aos pedestres. “E nos últimos anos está ainda pior. Na minha opinião, teriam que colocar mais quebra-molas para a travessia ser segura.” Perguntada sobre a proposta do binário, ela se diz descrente. “Moro no Granbery, onde o trânsito também sofre com engarrafamentos. É um problema da cidade, que não será resolvido. Ao meu ver, não tem solução para isso.”
Educação no trânsito
Sobre esta situação, o titular da Settra, Rodrigo Tortoriello, reforçou que a segurança viária depende do comportamento de todos, desde o motociclista que faz uso do corredor e, às vezes, trafega na contramão, até os motoristas que não respeitam a faixa, além dos próprios pedestres que atravessam em local inseguro. “Por isso trabalhamos sempre com a conscientização, que é uma ação incansável e não pode parar.”