Lula se entrega à PF 24 horas após prazo dado por Moro

Militantes tentaram impedir saída do ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e derrubaram portão da entidade


Por Agência Estado e redação da Tribuna

07/04/2018 às 17h47- Atualizada 07/04/2018 às 19h09

 

Na porta do sindicato, manifestantes tentaram impedir a saída de Lula (Foto: Instituto Lula)

Os militantes postados nos dois portões do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), protagonizaram cenas de tensão ao impedirem a saída do carro que conduziria o ex-presidente Lula até a sede da Polícia Federal em São Paulo. Em torno do carro e no portão, que chegou a ser arrancado, deixaram claro que iriam resistir até o fim. O próprio Lula chegou a ponderar com alguns manifestantes, mas não obteve êxito. Sem saída, voltou para a sede do sindicato, adiando o cumprimento do acordo que seus advogados tinham firmado com a Polícia Federal.

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Somente às 18h47, o ex-presidente se entregou, mais de 24 horas após o prazo dado pelo juiz Sergio Moro para que o petista se apresentasse. A pé, Lula atravessou no meio da multidão e entrou no carro da Policia Federal. Os advogados temiam que, diante da situação, a PF poderia imputar ao ex-presidente a responsabilidade do ato, o que poderia implicar dificuldades para obter um eventual habeas corpus em um novo momento. A decretação da prisão preventiva compromete acordos, e foi isso que os advogados e até dirigentes do Partido dos Trabalhadores (estes num carro de som) relataram para a plateia.

Depois da missa em homenagem à memória de dona Marisa, pela manhã, quando fez um duro discurso, Lula gravou um vídeo que, certamente, será utilizado na campanha eleitoral e nos eventos que vão se seguir pelos próximos dias. Segundo pessoas que acompanharam a gravação, os trabalhos foram interrompidos diversas vezes. A cada frase, a voz de Lula ficava embargada. Conforme as informações, em ao menos uma dessas vezes, ele chorou.

Intervenção junto aos militantes

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, subiu às 17h50 deste sábado (7) no carro de som e conversou com a militância que não arredava pé da porta do Sindicato dos Metalúrgicos e não deixava Lula sair para se entregar à Polícia Federal. “Vocês estão na mais absoluta liberdade, mas preciso conversar com vocês”, disse a senadora. “Não vim aqui pra induzir nenhuma decisão, vocês estão aqui de livre e espontânea vontade tentando proteger o presidente Lula. Tenho que dividir um problema. Vocês estão na mais absoluta liberdade, mas preciso conversar com vocês. A consequência pode ser para nós, que a polícia venha aqui dar paulada na gente”, alertou.

A senadora ainda disse que ‘o fato é que a consequência para Lula, do ponto de vista jurídico, é alta’.”A Polícia Federal deu meia hora para a gente resolver essa situação” afirmou.

Mais cedo, os manifestantes apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva impediram a saída do ex-presidente do sindicato. Lula estava dentro de um carro, deixando o prédio, mas os militantes barraram a saída do veículo e chegaram a arrancar o portão do local, segurando as grades na frente do carro.

O petista saiu do carro e voltou para o interior do prédio, onde dezenas de pessoas ainda permaneciam. “Cercar, cercar e não deixar prender”, gritavam os manifestantes neste momento.

Minutos antes dessa tentativa, imagens a partir do helicóptero da TV Globo mostraram carros da Polícia Federal estacionando nas proximidades do sindicato.

Negociação

Vinte e quatro horas depois de o prazo imposto pelo juiz federal Sérgio Moro – 17h da sexta-feira (7) – para que Lula se entregasse à Polícia Federal, o ex-presidente continuava entrincheirado no sindicato. Neste sábado, após intensa negociação: de um lado emissários e advogados do petista, de outro lado a Polícia Federal, ele fez seu último comício antes de dar início ao cumprimento da pena de 12 anos e um mês no caso triplex. À sua plateia ele afirmou que se entregaria à Lava Jato.

“Vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá”, afirmou, às 12h55, quando encerrou o comício. “Eu vou cumprir o mandado (de prisão contra ele) e vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês vai se chamar Chiquinha, Zezinho, e todos vocês vão virar Lula e vão andar por esse país e vão ter que saber.”

 

Após comício na porta do Sindicato dos Metalúrgicos, Lula foi carregado pelos militantes

Imprensa internacional repercute decisão de Lula se entregar

Alguns dos principais veículos de imprensa do mundo destacam em suas páginas na internet a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se entregar à Polícia Federal (PF) neste sábado.

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Jornais norte-americanos como Washington Post e The Wall Street Journal ressaltaram do discurso do ex-presidente que ele voltou a defender sua inocência, após ter sido condenado a 12 anos de prisão por corrupção. “Cumprirei a ordem. Dessa forma, eles saberão que não tenho medo. Eu não estou correndo. Eu vou provar a minha inocência”, destacou o Washington Post.

A rede britânica BBC também repercutiu o anúncio do ex-presidente de se entregar e lembrou que Lula era o favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais deste ano.

O periódico francês Le Monde pontuou que o ex-chefe de Estado desafiou novamente as acusações contra ele e disse que quer provar que seu julgamento é um “crime político”.

O jornal argentino Clarín ressaltou do discurso do ex-presidente o trecho em que ele disse ter negado asilo político. “Eu tive a chance de ir ao Uruguai. Eles me disseram para fazer isso. Deixe-o ir para a embaixada da Bolívia, do Uruguai, da Rússia. Eu disse que não aceito isso. Eu vou cumprir o mandato. Não estou me escondendo.”

 

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