Fazenda em Barra do Piraí (RJ) incentiva o consumo de pancs e ensina receita

Fazenda Alliança, que data de 1863 e foi destaque no Ciclo do Café, leva visitantes a sua horta para conhecer as plantas alimentícias não convencionais


Por Júlia Pessôa

07/04/2018 às 07h00

Fazenda Alliança, foi destaque no Ciclo do Café e hoje é um espaço agroecológico (Foto: Divulgação)

Barra do Piraí (RJ) – O cenário é familiar. Qualquer brasileiro ou brasileira, sobretudo os que têm mais de 30 anos, reconhece a referência dos casarões enormes, dos pátios amplos e da arquitetura característica das fazendas do Ciclo do Café. O mobiliário, boa parte em madeira maciça e também original da época, denuncia a estética do século XIX. Por fim, a Fazenda Alliança, em Barra do Piraí (RJ), que data de 1863, é a única do Vale do Café do Rio de Janeiro que possui o circuito completo de lavagem dos grãos de café.

Por isso tudo, o local já merece um dia inteirinho de visita, mas há ainda outro atrativo para os entusiastas da gastronomia, a Fazenda Alliança não só é referência no cultivo e aproveitamento de plantas alimentícias não convencionais (Pancs), como promove um passeio pela horta, para que os turistas possam colhê-las e mais tarde conhecer diferentes formas de consumi-las, acompanhando o preparo de alguns pratos como a omelete de taioba (sim, taioba é uma panc) preparada por Fátima Cândido, uma das cozinheiras da casa.

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Josefina caminha pela horta com os visitantes explicando sobre as pancs (Foto: Júlia Pessôa)

Muito antes de chegar ao fogão, o passeio passa pela horta, e os turistas, munidos de cestinhas para colher suas próprias pancs, são guiados pela argentina Josefina Durini, proprietária da fazenda, e pelo agricultor André Santos, funcionário que se especializou em pancs. “São plantas que vão brotando, não exigem um cuidado específico, elas simplesmente aparecem, e as pessoas costumam não consumi-las por falta de hábito, por desconhecimento, ou porque não as encontram nos mercados. Mas agora há um movimento de buscar estas plantas, porque elas são muito nutritivas, além de saborosas”, explica André.

Segundo Josefina, que se dedicou ao estudo das pancs para acrescentar mais um pilar ao conceito de “agroecologia” da fazenda, este grupo de plantas inclui, além das que nascem espontaneamente e são consideradas “mato” ou “daninhas”, partes de outros vegetais que normalmente são descartadas. “Usamos, por exemplo, a folha da batata-roxa e a da abóbora em diversos preparos, ambas têm muito sabor e são versáteis, podem ser consumidas refogadinhas, em quiches ou acompanhando carnes”, diz Josefina.

Durante o passeio na horta, colhemos enormes taiobas, que eu conhecia desde a infância, mas não sabia que era uma panc, e que requer um cuidado especial antes do consumo. “Ela precisa ser escaldada, e esta primeira água deve ser descartada. Só depois ela está pronta para ser usada na cozinha”, explica o agricultor André Santos, que tem uma longa história com o uso de pancs à mesa. “Meu pai me ensinou muita coisa”, conta ele, acenando para o pai, senhor João Santos, também trabalhando na horta. “Na época, a gente comia isso tudo na roça: ora-pro-nóbis, picão, broto de samambaia, tiririca, umbigo de banana, mastruz… É uma cultura que estava se perdendo e agora vem sendo resgatada.”

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Saladinha com flores comestíveis (Fotos: Júlia Pessôa)

Da horta para a mesa, diversas das delícias que colhemos estavam presentes em diferentes pratos: frango com ora-pro-nóbis, saladinhas com flores comestíveis, quiche de picão e de ora-pro-nóbis, penne ao pesto de taioba e, claro, a omelete de taioba que vimos Fátima preparar. Havia outras opções, como torresmo, arroz, feijão, outras carnes, mas depois de um dia todo aprendendo sobre as pancs, o paladar logo se aguça em vê-las em pratos tão atraentes. De sobremesa, foi servido um cheesecake de búfala com calda de jabuticaba, feito com leite das búfalas criadas na fazenda e da jabuticaba colhida no pé.

Produção tem selo orgânico e queijo de búfala é produzido com leite extraído na própria fazenda (Foto : Júlia Pessôa)

Ter um selo de produção orgânica de seus produtos é, para Josefina, um ponto fundamental para Fazenda Alliança. “A qualidade do sabor do alimento orgânico é muito superior, isso sem falar em todos os benefícios de saúde. Não acho que seja uma utopia alimentar o mundo inteiro com produtos orgânicos, a barreira é o capitalismo, as grandes empresas, que priorizam quantidade em vez de qualidade. É por isso também, interesses econômicos, que não interessa ao mercado que as pessoas conheçam mais sobre as pancs, porque elas dão em qualquer lugar, espontaneamente, qualquer um pode ter em casa, às vezes tem e nem sabe. Mas vemos este movimento de interesse por essa gastronomia ligada a elas e queremos contribuir para difundir essa cultura alimentar”, afirma.

* A repórter viajou a convite do grupo Vale do Café Rio

Confira a receita de omelete de taioba da Fazenda Alliança:

 

 

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Omelete de Taioba
(Por Maria de Fátima Cândida Furtado)

Ingredientes
8 ovos
250g de taioba picada e refogada na água
1 cebola picada
Azeite
Sal

Modo de preparo
Pique a taioba e coloque-a em panela com água no fogo por aproximadamente 10 minutos e depois escorra. Bata os ovos (clara e gema juntos).Em fogo baixo, coloque azeite e adicione as cebolas até dourar. Na frigideira adicione uma parte dos ovos batidos. Após alguns segundos, acrescente a taioba e, em seguida, o restante dos ovos. Aguarde e vire o lado da tortilha na frigideira, em 5 minutos estará pronto. Rende 12 porções.

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