Pesquisadores testam cadeira de rodas adaptada para trilhas em Ibitipoca

Direção do parque estadual avalia implantação de ações para pessoas com mobilidade reduzida


Por Pedro Capetti e Gabriel Borges, estagiários sob supervisão de Wendell Guiducci

02/04/2018 às 17h53- Atualizada 03/04/2018 às 12h31

Ideia é adaptar roteiros acessíveis com trilhas interpretativas, que promovem experiência voltada para sabedoria da natureza (Foto: André Costa)

Quebrar os limites, ampliar a inclusão nos esportes de montanha e atividades outdoor, possibilitando às pessoas com mobilidade reduzida sensações impossíveis de sentir ao nível do mar, como o vento gelado ou a sensação de assistir ao nascer ou ao pôr do sol do alto da serra. O cenário descrito é apenas uma mostra do que o Parque Estadual do Ibitipoca poderá oferecer aos seus visitantes, em breve.

Durante o feriado da Semana Santa, pesquisadores da Sociedade Carioca de Pesquisa Espeleológica (Spec), com apoio do Grupo de Estudos Interdisciplinares do Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), testaram o uso de um equipamento adaptado para cadeirantes praticarem montanhismo nas trilhas do parque.

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Habituado à realização de pesquisas espeleológicas no Parque, o Spec intermediou o contato entre a administração da unidade de conservação e o Parque Nacional da Tijuca (RJ) para o empréstimo do equipamento durante o feriado da Semana Santa. “Nós já estávamos idealizando algumas atividades de acessibilidade”,  explica João Carlos Lima de Oliveira, gerente do Parque Estadual do Ibitipoca. “Um dos projetos que nós temos em mente, apesar de embrionário nesse momento, é uma trilha para deficientes visuais. Nós, então, conhecemos a cadeira de rodas para o montanhismo. A cadeira foi aprovada nos testes e, agora, nós vamos pensar em alguma forma de aquisição.”

Intitulado Julietti, o equipamento foi um presente do engenheiro civil Guilherme Cordeiro para sua esposa Juliana Tozzi, que ficou impedida de praticar montanhismo com o companheiro após sofrer com Degeneração Cerebelar Paraneoplásica, uma síndrome neurológica extremamente rara. Como forma de promover acessibilidade aos locais de montanhismo, o casal distribui cadeiras para auxiliar pessoas com mobilidade reduzida a passar por trilhas de difícil acesso. Ao todo, 14 unidades do modelo adaptado estão disponíveis em parques espalhados em todo o país. O custo de produção estimado de cada cadeira é de R$ 4 mil.

Trilhas e roteiros

A ideia é adaptar roteiros acessíveis com trilhas interpretativas, que promovem experiências voltadas à sabedoria da natureza e à sua relevância para a promoção da conservação. “É uma ideia que tínhamos desde agosto do ano passado. Foi muito difícil encontrar uma cadeira próxima do parque, então encontramos uma no Parque Nacional da Tijuca. Levamos no parque e fizemos testes no dia 31 e dia 1º, e já montamos alguns roteiros para que possa ser feita a aquisição pelo parque”, afirma a educadora ambiental Camila Meireles, coordenadora da visita. Ela completa que o projeto também faz parte da pesquisa de Fábio Khaled, graduando em Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Camila conta que o roteiro incluiu um percurso da trilha para a Janela do Céu, famoso cartão-postal do Parque, com pontos de parada para interpretação ambiental nas cavernas dos Fugitivos, Três Arcos e Moreiras, assim como no Circuito das Águas, com visita aos lagos dos Espelhos, Negro, Pedra Quadrada e a Cachoeira dos Macacos. Durante os testes, foram mapeados pontos que necessitam de pequenos ajustes a fim de facilitar o trajeto com equipamento. “Foi muito cansativo, pois é morro acima, mas mostramos que dá para fazer. É possível. Acabamos montando dois roteiros, um com cavernas e outro para turistas em geral, com um roteiro menos desgastante para as pessoas que estão passeando, sem necessidade de alterar a natureza”, diz Camila, também doutoranda em Biologia Marinha e Ambientes Costeiros pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Foto: Fábio Khaled

João Carlos Lima de Oliveira também acredita que as mudanças serão sutis. “Adaptações muito pequenas no parque serão necessárias, como uma pedra que está no caminho e impede a locomoção da cadeira ou um degrau mais alto que também possa dificultar.” O gerente do parque já traça planos para adquirir o equipamento, mas mostra cautela. “Primeiramente, nós vamos procurar saber o valor dessa cadeira, buscar parcerias para adquiri-la e doá-la para a unidade.” Por se tratar do primeiro teste no parque, a cadeira foi utilizada com voluntários que integravam a equipe. No entanto, Camila Meireles já planeja novos testes no local, com cadeirantes, para os próximos meses.

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