Situação da BR-267 preocupa com a chegada de mais um feriadão

Malha federal está repleta de buracos e mato alto, potencializando os riscos de uma pista simples com poucos pontos seguros de ultrapassagem


Por Eduardo Valente e Gabriel Ferreira Borges, estagiário, sob a supervisão da editora Marise Baesso

28/03/2018 às 17h50- Atualizada 31/08/2018 às 16h15

Com a falta de manutenção na estrada, mato alto cobre as placas de sinalização na BR-267 (Foto: Marcelo Ribeiro)

O início de mais um feriado prolongado coloca nos holofotes a situação das rodovias que cortam Juiz de Fora e região. Uma delas, a BR-267, está em condição preocupante por causa da falta de manutenção, com inúmeros buracos – até mesmo nas curvas – e vegetação alta cobrindo placas. Por ser de pista simples e sinuosa, pontos de ultrapassagens seguros são raros na via, embora condutores insistam nos riscos. Todos estes ingredientes, associados ainda ao elevado índice de veículos de carga no trecho, dão como resultado uma estrada cada vez mais perigosa. Para se ter ideia, apenas no trecho de 88 quilômetros até Leopoldina, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 111 acidentes em todo o ano passado, com 151 pessoas feridas e seis mortes. Desses óbitos, cinco ocorreram após colisões entre veículos, sendo o outro resultado de um capotamento. Diante deste quadro, prefeitos da região estão mobilizados na tentativa de cobrar das autoridades melhorias no trecho.

A BR-267 tem papel importante para escoamento de cargas na Zona da Mata e Sul de Minas, por ligar cidades destas regiões à BR-116, popularmente conhecida como Rio-Bahia. Por esta razão, o número de caminhões é elevado. Mas os veículos de passeio também contribuem para o grande volume de tráfego, pois municípios da região têm Juiz de Fora como polo. Além disso, em fins de semana prolongados, como este da Semana Santa, a estrada torna-se caminho necessário para quem viaja, também, para as praias do Espírito Santo e do Norte do Rio de Janeiro. No traçado oposto, as atrações são as cidades do Sul de Minas e outros estados brasileiros, pois a rodovia interliga Minas Gerais ao Mato Grosso do Sul, passando por São Paulo.

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Na última segunda-feira (26), a Tribuna percorreu um pequeno segmento da rodovia em direção a Bicas e deparou-se com asfalto deteriorado, com incontáveis buracos e remendos. Outros relevos, provocados por irregularidades no pavimento, são ainda agravantes para motociclistas, principalmente em curvas fechadas. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a manutenção da estrada depende da finalização de um processo licitatório para contratar uma empresa responsável pelas atividades. Embora o certame já tenha ocorrido, de acordo com o Dnit, ainda falta a liberação do recurso para assinatura do contrato.

Imprudências
Durante a visita da Tribuna na última segunda, por volta das 15h, o tráfego era intenso em direção a Bicas, com baixa velocidade provocada pelo grande número de caminhões. Na ocasião, flagrantes de imprudências eram constantes e, em determinado momento, o carro da reportagem por pouco não se envolveu em um acidente. Em faixa contínua, um veículo com placa de Muriaé fez constantes ultrapassagens irregulares contra a fila que se formou atrás de duas carretas. Em certo momento, o condutor se surpreendeu com outro carro, vindo na direção contrária, e a batida foi evitada por pouco, após freada do motorista do jornal para que o carro de Muriaé voltasse para a sua faixa de direção.

Ultrapassagem em local proibido é apontado como uma das principais imprudências na rodovia, de acordo com a PRF (Foto: Marcelo Ribeiro)

Para o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF, Leonardo Facio, a imprudência é a principal causa dos acidentes registrados na BR-267, tanto do próprio condutor ao dirigir como também ao ir para a estrada com carros sem condições. “Temos verificado que, em muitos acidentes, os motoristas foram viajar com os pneus comprometidos.” Sobre as ultrapassagens, ele informou que a PRF faz fiscalizações rotineiras nos pontos proibidos e que tem histórico de acidentes. “Nos pontos permitidos, nós recomendamos atenção redobrada do condutor, porque a estrada é perigosa.” Este tipo de observação, segundo ele, será intensificada durante o feriado.

Mortes entre JF e Bicas
Conforme dados estatísticos da PRF, disponibilizados pela delegacia local, entre janeiro e início de março de 2018, o segmento entre Juiz de Fora e Bicas, de responsabilidade do posto, contabilizou dez acidentes, com seis óbitos. Três destas mortes ocorreram no dia 14 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, em um acidente na altura do Bairro Floresta. Outro caso ocorreu em 26 de fevereiro, a dois quilômetros de Bicas, quando um homem de 73 anos morreu após o carro que ele conduzia, com placa de Juiz de Fora, bater de frente em um caminhão-baú de Levy Gasparian (RJ), que transportava material de construção.

Buracos na malha estadual
As fortes chuvas dos últimos meses castigaram a malha rodoviária da região, assim como ocorreu dentro do perímetro urbano de Juiz de Fora. Na MG-353 e MG-133, que une Juiz de Fora a outras cidades da Zona da Mata, a situação das estradas é considerada boa pela Polícia Militar Rodoviária, embora haja pontos que necessitam de cuidados. Entre Rio Novo e Guarani, por exemplo, leitores afirmam que a má conservação é preocupante. Assim como na BR-267, o problema está relacionado ao mato alto, que cobre as placas de sinalização, e os buracos sobre o asfalto. Mas para o comandante do 1º Pelotão Rodoviário da Polícia Militar, tenente Júlio César Almeida, a situação não é grave. “Na área do nosso pelotão, está tranquilo. Tivemos, nas últimas semanas, alguns trechos que tiveram quedas de barreiras e rochas por causa das chuvas, mas está resolvido. Buracos existem em várias rodovias, mas estamos acompanhando o trabalho do DEER (Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais), e eles estão atuando em atendimento a estas falhas.”

Prefeitos da região querem obras estruturais na rodovia

Face à necessidade de intervenções significativas na BR-267, os prefeitos responsáveis pelos municípios margeados pela rodovia mobilizam-se a elaborar um manifesto a ser entregue ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. Apesar de os 533 quilômetros da via estendidos desde Leopoldina até Poços de Caldas, no Sul de Minas, o ofício redigido pelas autoridades contempla somente o trecho entre Leopoldina e Caxambu, quando a BR-267 é interrompida pela BR-383. A partir de convocação do prefeito de Bicas, Honório de Oliveira (MDB), cerca de 20 lideranças municipais – entre elas, o prefeito Bruno Siqueira (MDB) -, além do deputado federal Marcus Pestana (PSDB) e de representantes de associações comerciais e industriais, encontraram-se no município em 16 de março para discutir as principais demandas da rodovia, que recebe o nome de Vital Brasil.

“A duplicação da BR-267 exigiria recursos muito maiores, mas nós desejamos uma grande intervenção, como a construção de uma terceira faixa em subidas, trevos e um melhor recapeamento. Tapar somente os buracos não está resolvendo. É uma estrada hoje sem estrutura”, relata Honório, que também é presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Macro Sudeste (Cisdeste), responsável pelo gerenciamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e, também, pela redação do manifesto, assinado por outros oito prefeitos da região. Desde a inauguração em 1975, a via não passou por intervenções estatais de grande porte. Em nota, o consórcio destacou a importância da Rodovia Vital Brasil ao desenvolvimento socioeconômico regional, uma vez que “cria um corredor logístico responsável por conectar a Zona da Mata mineira aos principais corredores logísticos do país, quais sejam a BR-381, BR-116 e a BR-040”.

O prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira (MDB), informou que já solicitou junto ao Dnit providências para melhorar o estado da BR-267. “Essa estrada é muito importante para a ligação dos municípios da região. Neste sentindo, estamos reivindicando junto ao Dnit melhorias para que nós possamos ter mais segurança nas estradas estaduais e federais da nossa região.”

A princípio, o ofício dos prefeitos seria entregue ao ministro dos Transportes Maurício Quintella Lessa (PR), na última terça-feira (27). Licenciado do exercício da função de deputado federal desde maio de 2016, após assumir as competências da pasta, o alagoano se desincompatibilizará do cargo até 7 de abril, data-limite para os políticos deixarem as suas atuais funções em caso de anseios políticos em vista ao próximo pleito eleitoral. Portanto, o encontro, inicialmente agendado em Brasília (DF), está, temporariamente, suspenso. Conforme Honório, “o novo ministro será o diretor-geral do Dnit. Nós estamos somente aguardando ele tomar posse do cargo, porque haverá uma nova agenda”. Desde setembro de 2015 à frente do departamento, Valter Casimiro Silveira é especulado para assumir o ministério.

Promessa de nove anos
As intervenções na BR-267 passam pela publicação de editais de licitação para a contratação de empresas interessadas nas obras. Segundo o Cisdeste, há nove anos, a autarquia federal julgou necessários o recapeamento e a criação da terceira pista em trechos críticos da via, embora o projeto esteja ainda sob análise. Entretanto, o edital – ainda a ser elaborado – contemplaria melhorias em toda a extensão da Rodovia Vital Brasil. Segundo a assessoria de comunicação do Cisdeste/Samu, “ao nosso entendimento, devido à larga extensão da via, (isso) poderia comprometer a qualidade do gerenciamento das intervenções nos respectivos pontos críticos, em um prazo razoável”.

Em projeto já apresentado e aprovado pelo Dnit, segundo o Cisdeste, um trevo será criado na altura do km 82, “onde há uma estrada vicinal perpendicular, que leva à Comunidade Resgate, local que recebe até 12 mil pessoas em evento marcado mensalmente”, de acordo com a assessoria do consórcio. No manifesto, os prefeitos da região sugerem a publicação de dois editais. Enquanto um diria respeito ao trecho entre Caxambu e Juiz de Fora, outro beneficiaria o segmento entre Juiz de Fora e Leopoldina.

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Estradas recebem maior fluxo de veículos

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) iniciou, à meia-noite desta quinta-feira (29), a Operação Semana Santa 2018. Agentes reforçarão trechos estratégicos nas BRs, priorizando ações preventivas para redução da violência no trânsito, visando a obter uma redução nos índices de letalidade nas rodovias federais. As ações desenvolvidas também estarão focadas no combate às infrações de trânsito, em especial às condutas geradoras de acidentes como excesso de velocidade e as ultrapassagens proibidas. O esquema especial estará em vigor até o final da noite de domingo.

Somente no trecho da BR-040 entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro, a Concer, concessionária responsável pela via, estima que 200 mil veículos trafeguem pela rodovia no feriado. O alerta está na Serra de Petrópolis, que permanece com a pista de subida em mão dupla entre o km 81 e 78, com velocidade limitada a 50 quilômetros por hora. Também em Petrópolis, no distrito de Pedro do Rio, o km 49,5 está em meia pista no sentido RJ em razão de uma obra de contenção de encosta.

Foto: Marcelo Ribeiro

A Polícia Militar Rodoviária também promete fiscalizações e abordagens educativas ao longo dos próximos dias, até a noite de domingo (1º de abril) nas rodovias estaduais da região. Na manhã desta quarta-feira (28), a PM promoveu uma blitz na saída de Juiz de Fora, pela MG-353, com a participação de órgãos do Poder Executivo, movimentos religiosos, culturais e demais setores da sociedade civil. Foi considerada a primeira “blitz ecumênica” da cidade. “Montamos a blitz em prol da conscientização dos motoristas, com todos os segmentos unidos. É através dessa orientação que conseguimos reduzir acidentes no feriado”, disse o comandante do 1º Pelotão Rodoviário da Polícia Militar, tenente Júlio César Almeida.

Restrição de tráfego
Nesta quinta-feira (29), entre 16h e 22h, na sexta (30), das 6h ao meio-dia, e no domingo, entre 16h e 22h, o DEER/MG vai restringir o tráfego de veículos de carga de grande porte em rodovias do estado de pista simples. O objetivo é proporcionar maior fluidez ao trânsito. De acordo com o departamento, estarão proibidos de circular, por meio de uma portaria, os bitrens, os treminhões, os rodotrens (que são caminhões com mais de duas unidades), as cegonheiras e ainda veículos com mais de 2,6 metros de largura e 4,4 metros de altura ou aqueles com mais de 18,6 metros de comprimento.

Nas rodovias federais, a PRF impede o tráfego de veículos de carga em estradas de pista simples, como é o caso da BR-267. Na Semana Santa, a restrição vale a partir desta quinta-feira (29), entre 16h e 22h, na sexta, das 6h ao meio-dia e no domingo, de 16h até 22h. O mesmo bloqueio será adotado pela Concer na subida da serra, mas somente na quinta e no sábado.

Para todos os casos, o descumprimento da regra poderá acarretar em retenção do veículo, perda de quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e multa de R$ 130,16.

Tópicos: br-267

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