Clipe de “Quanto Tempo” celebra a música como afeto entre as mulheres

Alles Club lança clipe coproduzido pela Inhamis e Database.fm e prepara novo LP com faixas extensas, que nos fazem sobrevoar ao universo dream pop, shoegaze e progressivo


Por Carime Elmor

19/03/2018 às 21h56- Atualizada 20/03/2018 às 13h52

Os conteúdos audiovisuais e senso estético bem definidos fazem com que bandas do selo Pug Records, de Juiz de Fora, deslanchem para um outro universo artístico que preparam sensorialmente a música. “Os clipes são importantes na divulgação, mas não são uma prioridade. Tem banda que é mais conhecida pelos clipes do que pelo disco. Esse, definitivamente, não é o caso das bandas da Pug Recs. Nossos clipes são pontuais: o foco sempre é o álbum”, ressalta Eduardo Vasconcelos, fundador do selo. A parceria com a Inhamis já rendeu clipes lindíssimos e dignos de prêmio, como foi o caso de “Vida Sem Sentido”, do Filipe Alvim, faixa de seu álbum “Beijos”. Como disse Eduardo, a Pug é como uma ramificação “fonográfica” do Inhamis, que nasceu como um zine, antes de começar todo lance com o audiovisual. Na época, os fundadores da Pug assumiam a editoria de música da publicação.

Após a Alles Club, uma descendência da Duplodeck, ter lançado, pela Pug, o single “Quanto Tempo”, um resgate nunca gravado, cocriado por Alex Martoni, compositor, e Rodrigo Lopes, que colaborou em boa parte dos arranjos, um clipe musical roteirizado por Eduardo Vasconcelos e dirigido por Francisco Franco (Inhamis) é disponibilizado hoje, uma coprodução Inhamis e da Database.fm.

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A narrativa de desprendimento e companheirismo entre as mulheres coloca a música como o elemento central da história, tão bem contada quanto um curta-metragem, de pouco mais de 5 minutos. Eduardo já tinha o storyline inicial de filmar meninas cantando em um karaokê, e o mais interessante é que a Inhamis consegue, com seu trabalho de direção de arte, colorista, além de figurinista, cabelo e maquiagem, estar na locação perfeita – uma casa de comida japonesa – mas sem prevalecer características culturais tão marcantes daquele espaço oriental. Como se estivessem em um videokê na Liberdade, em São Paulo, só que com mais glamour.

“A gente tentou seguir ao máximo o roteiro. Além de ser um clipe em que a parte visual ficou bem forte, a gente trabalhou muito na direção de arte e figurino, e tratamos o clipe, desde o início, como uma narrativa mesmo. Fizemos teste de elenco e usamos várias etapas do cinema, que geralmente no videoclipe, por ser mais experimental, com pouco recurso, é feito de uma forma mais espontânea. Por isso, nesse sentido, a gente fez mais ‘careta’. Apostamos na ideia do roteiro, na parte visual e no casting, e a junção de tudo agradou a gente. Fomos mais metódicos. A ideia foi a de fazer menos planos, mas sempre atentos para corrigir, testar se está funcionando, se é o que queremos e refazer se fosse preciso”, avaliou Francisco Franco.

Além de o elenco ser composto pela imensa maioria de mulheres, com exceção de Dhenny, que aparece em imagens homevideo em Mini DV,  produção, direção e assistência de arte, figurino, maquiagem, coloração e produção são assinados por garotas. Qualidade completamente coesa com a proposta da Alles Club de ter sempre uma mulher fazendo os vocais e revezando nos instrumentos. Nina Hübscher é a baixista, cantora e tecladista suíça da formação inicial da banda, mas momentaneamente está de licença maternidade, e quem começa a integrar a Alles é Isabel Oliveira, que faz o vocal e os teclados. O primeiro show com a nova formação, que recebe Pedro Baptista no baixo (e suas qualidades versáteis como instrumentista) é dia 28 de abril no Maquinaria. Fred Mendes é o baterista e Ruan Lustosa divide as guitarras com Rodrigo.

“Eu curto muito mulheres na música e mulheres cantando. Não conseguiria me ver em uma banda com outro formato. E é até difícil encontrar, essa é uma discussão que eu tenho tido. O mundo da música ainda é muito dominado por homens, mas tem pessoas que rompem isso, com certeza. Nessa pegada que a gente toca, foi meio difícil encontrar”, reflete Rodrigo sobre o cenário musical, mais precisamente em Juiz de Fora.

O vocal feminino da Alles permeia a atmosfera sonhadora e viajante da faixa “Quanto Tempo” que, somente pelos refrões, se aproxima do formato de canção que vem sendo retomado pouco a pouco pelo indie no Brasil. Se os clipes possuem imagens que arrepiam, pelo olhar feminino angelical e intenso, a musicalidade de Rodrigo Lopes quer te fazer flutuar. Os arranjos de trompete podem parecer imprevisíveis, mas assim que surgem tudo ganha muito mais sentido. A presença do instrumento no videoclipe é elemento chave que sincroniza completamente a narrativa visual com a música. Isso não quer dizer que todo o resto não tenha clareza, mas é como se ainda estivéssemos renderizando os aspectos sonoros, mentais e cinematográficos, porque a música da Alles Club tem essa intenção de nos fazer “impregnar”.

“Essa música tem a harmonia um pouco inspirada em Clube da Esquina n°2. Ela tem um formato que a Alles faz pouco. Mas quando acaba o vocal, ela faz um tempão em solo de trompete e, nisso, quebra a canção e se estende. A ‘Imersa’ já é quase instrumental e longa, não tem refrão, necessariamente.”. O single foi lançado em formato Lado A/Lado B, como as bandas dos anos 1990, com uma versão estúdio (ou Rádio Mix), uma versão ao vivo de 8 minutos, e ainda a faixa “Imersa”, que é um pequeno poema falado por Maria Bitarello atravessado pelas camadas shoegaze da banda. “Quanto Tempo” é parte de um LP que está sendo gravado com faixas longas que tem o tamanho que precisam chegar, sem pressa.

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Eduardo, que a trata como canção, considera ‘Quanto Tempo’ um ponto fora da curva no universo dream pop nacional. “Não apenas pela letra em português, mas também pela temática e melodia vocal à paisana, sem descambar para metáforas oníricas e vocais letárgicos que fazem do shoegaze o subgênero mais caricato do rock alternativo. A ideia sempre foi um clipe mais pop, procurando fugir de cacoetes de videoarte que costumam ser usados neste contexto. A intenção era evidenciar que, por baixo daquelas camadas de guitarra, tem uma letra simples, que fala de um sentimento universal. Se fosse lançada por um pop star, ‘Quanto Tempo’ seria um desses hits que vêm à mente quando se está na fossa, uma onda desses bêbados que ficam emocionados e escolhem músicas tristes para tocar no jukebox e karaokê”.

Ficha Técnica do Clipe:

Elenco: Amanda Dias, Danielle Sartori, Dhenny Anderson, Eliza Moller, Larissa Oliveira, Mariana Couto, Marize Carvalho, Nina Hübscher Lopes
Produção executiva: Rodrigo Lopes
Direção: Francisco Franco
Roteiro: Eduardo Bento
Direção de fotografia: Francisco Franco e João Pedro Castanheira
Direção de arte e colorista: Fernanda Roque
Figurino: Eliza Moller, Fernanda Roque
Edição: Tadeu Carneiro
Produção: Eduardo Bento, Eliza Moller
Assistente de arte: Amanda Pomar
Preparação de elenco: Mia Mozart
Cabelo e make: Chris Rossi
Homevideo: Eduardo Bento

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