Ato em Juiz de Fora cobra respostas sobre a morte de vereadora no RJ

Marielle Franco foi assassinada com quatro tiros na cabeça na noite desta quarta-feira no centro do Rio. O motorista Anderson Pedro Gomes, que a acompanhava, também foi morto.


Por Julia Campos, estagiária sob supervisão do editor Guilherme Arêas

15/03/2018 às 11h59- Atualizada 15/03/2018 às 15h03

Foto: Divulgação/PSOL

Um ato previsto para ocorrer em Juiz de Fora, na tarde desta quinta-feira (15), vai reunir manifestantes que cobram respostas sobre a morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada com quatro tiros na cabeça na noite desta quarta-feira (14), no Centro da capital fluminense. A polícia do Rio trabalha com a suspeita de que o homicídio tenha sido uma execução. O ato “Marielle Franco, presente!” está sendo organizado em Juiz de Fora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), ao qual Marielle era filiada. Mais de 700 pessoas já haviam confirmado presença no ato no Facebook até a tarde desta quinta-feira. A mobilização está marcada para as 17h30, no Parque Halfeld.

Além da busca por respostas, o ato, que será realizado em outras cidades, “será para que nossa dor e perplexidade se traduza em luta contra a criminalização e perseguição a todo e qualquer lutador(a) social”, conforme descreve a organização do evento.

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‘Espero que o que ela deixou de legado não se apague’

O juiz-forano João Paulo Oliveira, assessor do vereador Tarcísio Motta, também do PSOL/RJ, que concorreu ao cargo no mesmo pleito que Marielle, era amigo íntimo da parlamentar, e, sob forte comoção, exaltou o papel dela na sociedade. “A Marielle representava, e representa ainda, uma virada da sociedade brasileira, da tomada de noção da importância da representatividade da mulher, da mulher negra da favela na política, no cotidiano, e na política institucional. Ela tinha muita força. Era uma mulher muito forte. A partir do momento em que ela resolve entrar para a política, ela representa uma parcela da população, não só carioca, mas brasileira, que, há anos, vem sofrendo com a discriminação, com o machismo. Eu só espero que o que ela deixou de legado não se apague, e, ao contrário, que seja elevado, até pelo nome dela, em nome do que ela estava fazendo”.

O juiz-forano João Paulo Oliveira (ao centro), assessor do vereador Tarcísio Motta (à esquerda), era amigo pessoal de Marielle. (foto: Arquivo pessoal/ João Paulo Oliveira)

À Tribuna, João Paulo contou que desconhece o fato de Marielle ter recebido ameaças. “A Marielle trabalhou por dez anos na Comissão de Direitos Humanos, era assessora do (Marcelo) Freixo. Ela era justamente a primeira pessoa que chegava na favela quando alguém morria. Ela conversava com a família das pessoas que tinham seus parentes assassinados, então ela tinha uma moral, uma penetração muito grande entre determinados nichos que, de alguma forma, a protegiam nesse sentido.”

“Essa é uma situação muito delicada, pelo momento que estamos vivendo no Brasil, e, que por mais triste que seja, vai dar muita força para tudo aquilo que a Marielle representava. Eu espero que as mulheres, os negros, os favelados possam, sim, levantar sua voz e ir para a rua e mostrar que tem algo de errado acontecendo. Podridão não está na favela. Por mais que, muitas vezes, a mídia coloque a culpa da situação brasileira na favela, isso não está na favela, está muito claro. O assassinato da Marielle mostra que há um problema na institucionalidade brasileira. Espero que a gente tenha força para poder ir à luta e conseguir reverter esta situação”, desabafa João.

Marielle deixa uma filha de 19 anos e uma companheira. O velório acontece a partir de 11h na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro para parentes e amigos. Um ato público, como o de Juiz de Fora, está marcado para ocorrer mesmo horário do velório, na Cinelândia, Centro do Rio. Ainda não há informações sobre quando e onde será realizado o enterro da vereadora.

 

‘Dor e indignação’

Em nota, o PSOL manifestou o pesar de seus integrantes pela morte de Marielle e de Anderson Pedro Gomes, motorista que a acompanhava. “Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Não podemos descartar a hipótese de crime político, ou seja, uma execução. Marielle tinha acabado de denunciar a ação brutal e truculenta da PM na região do Irajá, na comunidade de Acari. Além disso, as características do crime com um carro emparelhando com o veículo onde estava a vereadora, efetuando muitos disparos e fugindo em seguida reforçam essa possibilidade. Por isso, exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!”

Momentos antes do crime ocorrer, Marielle participou da Roda de conversa “Mulheres Negras Movendo Estruturas”. A vereadora disponibilizou uma transmissão ao vivo do encontro em sua página do Facebook:

Começou! Roda de conversa Mulheres Negras Movendo Estruturas! Assista e compartilha!

Posted by Marielle Franco on Wednesday, March 14, 2018

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O crime

A vereadora do PSOL foi morta a tiros no Bairro do Estácio, região central da capital fluminense, na noite desta quarta-feira (14). Ela estava dentro de um carro acompanhada do motorista Anderson Pedro Gomes, que também foi morto, e de uma assessora, quando teria sido abordada por outro veículo.

Uma ambulância do quartel central do Corpo de Bombeiros foi acionada para o local e constatou a morte da parlamentar e do motorista. A vereadora estava indo para casa no Bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, voltando de um evento ligado ao movimento negro, na Lapa.

Segundo informações preliminares da Polícia Militar do Rio, que atendeu a ocorrência, a parlamentar e o motorista foram baleados e morreram no local. A assessora Fernanda Chaves sobreviveu ao ataque e não teria sofrido nenhum tiro, segundo o Corpo de Bombeiros.

 

Trajetória

Eleita com 46,5 mil votos, a quinta maior votação para vereadora nas eleições de 2016, Marielle Franco estava no primeiro mandato como parlamentar. Oriunda da favela da Maré, Zona Norte do Rio, ela tinha 38 anos, era socióloga, com mestrado em Administração Pública e militava no tema de direitos humanos.

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