O trem e a cidade

Sem meios para retirada dos trilhos da área urbana de Juiz de Fora, o debate deve ser focado em ações que sejam positivas para a cidade e também para a concessionária


Por Tribuna

15/03/2018 às 06h30

Nas conversações para renovar sua concessão por mais 30 anos, a MRS avalia uma série de concessões – muitas delas em curso – aos municípios cortados pela linha férrea. Juiz de Fora é um dos maiores e precisa, portanto, de uma discussão diferenciada com a empresa. Há, é fato, projetos em que ela já atua como parceira da Prefeitura, como o do viaduto do Tupinambás e o da alça do Viaduto Itamar Franco, mas as demandas da cidade vão além, sobretudo na mobilidade. Sem meios para tirar o trem da área urbana, não só pelos custos, mas também por só adiar o problema – as cidades sempre seguem o trem -, a questão é investir nas propostas que estão no papel e que ainda não foram implementadas a despeito de sua importância.

Uma delas é a passagem de nível da Rua Benjamin Constant. Na campanha para governador, em 2002, o candidato Aécio Neves, que venceria o pleito, e sua comitiva foram surpreendidos por uma composição férrea que bloqueou o curso dos militantes e também de uma ambulância que estava em serviço de emergência. Ante o desespero do motorista da ambulância, que não tinha outra rota, garantiu que tal cena não se repetiria, pois carrearia recursos para a construção de um túnel sob a linha do trem. O recurso teria até vindo, mas a proposta não foi adiante. Já na gestão Bruno Siqueira, a matéria foi retomada, e algumas ações foram feitas, mas, sem dinheiro, o projeto não avançou. A outra demanda é um viaduto na Rua Mariano Procópio, na altura do Mergulhão, para desafogar a Avenida dos Andradas.

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Às duas passagens de nível deve ser dada prioridade. A da Benjamin Constant, por resolver os gargalos que se formam quando o trem bloqueia o fluxo entre o Centro e a região Leste, e vice-versa. A da Rua Mariano Procópio, por matar dois coelhos de uma só vez. Daria movimento a uma via que se tornou secundária e acabaria com o tormento dos usuários da Avenida dos Andradas, principalmente nos horários de pico. Como boa parte dos ônibus das zonas Norte e Nordeste passa pela avenida, o trânsito não anda em momentos de maior movimento. Com chuva, a situação se agrava.

A MRS, certamente, não deve ser a única financiadora dos projetos, mas poderia ser a âncora, inclusive nas conversações com o Dnit, para que tais gargalos sejam superados. Como a linha não vai sair do Centro, a alternativa é estabelecer uma convivência em que todos ganhem, inclusive a concessionária, cujos trens têm que andar em velocidade reduzida – o que aumenta o consumo de combustíveis -, e a segurança nas passagens de nível. É fato que houve redução no número de atropelamentos, mas a queda, certamente, seria mais expressiva se não houvesse o inconveniente da travessia.

A instância política também deve ter papel ativo nesse processo, mas deve atuar sem viés do personalismo, quando a questão, para ser resolvida, carece de participação coletiva.

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