O Dia Internacional da Mulher


Por Cristina Castro, Professora, integrante da Diretoria Plena da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) e da coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

09/03/2018 às 06h30

Passei a infância e a adolescência na Zona Rural, o que me fez adquirir saberes pouco comuns à maioria dos meus amigos e das minhas amigas, de ordenhar vaca a cozinhar no fogão a lenha. Usando desses conhecimentos – e de uma saudade imensa de minha mamãe -, me atrevi a fazer uma geleia de goiaba nesse último domingo. Deu certo, e ali, por uma hora mexendo aquela geleia até dar ponto, sentindo aquela fumacinha com cheiro de mãe subir, planejava mentalmente intervenções para serem feitas nas tantas atividades que aconteceriam durante a semana em função das atividades por ocasião ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Dos conceitos de patriarcado, machismo e feminismo à vida diária das mulheres vítimas de violência e sua ausência nos espaços de poder. E o pensamento de como me tornei feminista também acompanhava o cheiro da fumaça.

As diferenças por sexo sempre me incomodaram e foram motivos de muitas discussões, em especial com o papai, que tinha sempre a frase: essa menina, se demorasse meia hora para nascer, nasceria homem. Por quê? Para mim, não havia limites e discriminação de tarefas e sonhos pelo fato de ser menina. E me deram asas. Esse foi o maior dos presentes que ganhei da vida. No entanto, fiquei ali pensando em tantas famílias que, diferentes do que foi a minha, nutrem possibilidades intelectuais e materiais e mantêm e defendem práticas tão conservadoras e discriminatórias. Então avanços civilizatórios e humanos não têm a ver com intelectualidade e recursos financeiros? Como mudar a realidade também de famílias como a minha, que também mantêm práticas machistas?

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Foram muitas as indagações e a busca por respostas, que as mais variadas teorias não dariam conta de me esclarecer. Mas o que fazer? Daí tive a certeza – se é que certezas podemos ter quando se trata de ações que visam modificar a “ordem estabelecida” – de que é preciso estar em ruas, praças, escolas, fábricas, indústrias, enfim, em todos os espaços, debatendo o porquê de se ter atribuições exclusivas para mulheres pelo fato de serem mulheres. Por que isso deveria ser encarado como natural, como se nosso DNA trouxesse a cozinha, a arrumação da casa, o comportamento, a definição profissional, o modo de falar, de se vestir e de se comportar?

Colocar a sementinha e deixar crescer, assim como tantas vezes fiz com a mamãe ou com o papai, e ver os frutos serem colhidos por nossas filhas e nossos filhos, ou gerações posteriores, tem que ser nossa tarefa diária. Se indignar-se e rebelar-se forem verbos fortes demais para alguns, podemos atacar de incomodar, discordar; o que não podemos usar é ficar, parar. É bem verdade que a atual conjuntura tem colocado com força o retroceder, e nós estamos no resistir, mas avançar fascina, e esse deve ser o recado para este dia 8 de março.

Nós, mulheres e meninas, de forma unitária, devemos sair do lugar em que estamos e caminhar em direção a uma sociedade que seja feminista, aqui conceituando o feminismo como a maneira mais radical de tratar as mulheres como gente, com direitos e possibilidades iguais – na vida, e não só na lei – aos homens. Que esse dia 8 de março nos traga a certeza de empoderar as mulheres, ou seja, que cada mulher saiba de suas possibilidades e de seus direitos.
Que o cheiro de fumaça da geleia, o cheiro de mudança das relações, o cheiro de possibilidades nos movam a avanços e conquistas. Seguimos. Avante!

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