Juiz de Fora registra um incêndio veicular a cada três dias

Mecânico e tenente do Corpo de Bombeiros explicam como os incêndios ocorrem e dão dicas de como evitar o problema para quem ainda quer aproveitar os últimos dias de verão para pegar a estrada


Por Julia Campos, estagiária sob supervisão do editor Wendell Guiducci

08/03/2018 às 07h00- Atualizada 08/03/2018 às 09h06

No ápice do verão, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2018, o Corpo de Bombeiros de Juiz de Fora registrou 18 ocorrências de incêndios veiculares, o que resulta em uma média de uma ocorrência a cada três dias. Em 2017, no mesmo período do ano, foram registrados 15 incêndios, e em 2016, 17.

PUBLICIDADE

As duas últimas ocorrências foram registradas no dia 23 de fevereiro: uma na Rodovia MG-353, na altura do km 121, onde um Volkswagen Quantum com placa de Santos Dumont foi destruído pelas chamas, e a outra na Rua Tomaz Gonzaga, no Bairro Francisco Bernardino, Zona Norte de Juiz de Fora, onde os militares gastaram 600 litros de água para apagar o fogo que consumia um Volkswagen Apollo. Em ambos os registros, os proprietários não foram localizados pelos Bombeiros.

Carro foi consumido pelas chamas no Bairro Francisco Bernardino (Foto: Ugo Soares)

Possíveis causas

Luis Cláudio Santos de Alarcão, mecânico e proprietário da LS Auto Center, pontua as situações que podem ocasionar um incêndio veicular. “O uso inadequado das mangueiras de combustível, terminais de encaixe de plug rápido que, quando desconectados, quebram uma trava que chega até um bico de combustível, em uma saída de filtro de combustível, é a principal forma. Se a mangueira soltar e cair combustível no alternador ou no arranque (motor de partida), vai pegar fogo. A má manutenção também é um fator, assim como curto-circuito ou fio desencapado. Se houver um vazamento com um curto-circuito qualquer acontecendo no carro, perto de onde há o trajeto da gasolina, também vai pegar fogo.”

A tenente do Corpo de Bombeiros Priscila Adonay explica que há outro fator importante para que ocorra um incêndio veicular: “O combustível possui uma taxa de inflamabilidade. Se estiver abaixo ou acima do ideal, não vai acontecer nada, mas se estiver dentro da porcentagem da taxa, há a condição de ocorrer uma combustão se for colocado em contato com alguma faísca, que pode aparecer por vários motivos, seja por um atrito ou então algum curto na bateria.”

Como agir?

“A primeira medida é que o motorista tenha calma”, aponta a tenente Priscila. “Muitas vezes a pessoa se desespera e esquece até de abrir o capô do veículo. A pessoa deve pegar o extintor de incêndio e destravar o capô, e na hora que for abrir para tentar fazer o controle das chamas, deve fazê-lo bem devagar, porque o oxigênio alimenta o fogo; se abrir de uma só vez, dependendo da concentração de combustível, pode ocorrer uma explosão e a pessoa pode acabar se machucando.” Ela ainda explica que é importante que o extintor seja do tipo ABC ou pó químico, pois abafa o ambiente e é ideal para se usar caso não se saiba exatamente qual tipo de material está sendo queimado, se só combustível, ou também materiais elétricos. “Quando a pessoa tiver a visão de onde as chamas estão vindo, deve direcionar o lançamento do extintor diretamente na base do fogo”, conclui Priscila.

O “fator extintor”

Desde 2015, por decisão do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), os extintores de incêndio veiculares não são mais obrigatórios, e a falta do equipamento já não resulta em infração e multa. Como justificativa da decisão, o Contran diz que os carros mais novos possuem tecnologia com mais segurança contra incêndios e que o despreparo dos motoristas, que normalmente não são instruídos sobre como usar o extintor, poderia causar mais riscos do que o não uso do equipamento.

Apesar disso, o extintor ABC, que debela incêndios com materiais sólidos líquidos, gases e eletricidade, ainda é necessário no combate às chamas. “Os extintores veiculares não são mais obrigatórios, o que não impede que o motorista o tenha no veículo, já que, na hora do sufoco, ele pode fazer a diferença”, aponta a tenente Priscila. “É importante que a pessoa saiba manusear o extintor, e é preciso ter curiosidade para saber como funciona e em quais situações pode ser utilizado, e principalmente observar se ele está dentro da validade”, completa a militar.

Atualmente, um extintor de incêndio custa, em média, R$ 117. O equipamento tem validade de cinco anos e, após vencido o prazo, deve ser substituído. O condutor deve atentar aos ponteiros que medem a pressão do cilindro. Caso haja indício de alguma alteração, o motorista deve levar o extintor ao local de compra para que uma inspeção seja realizada.

O conteúdo continua após o anúncio

Apesar da polêmica decisão do Contran, em maio de 2017 a Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que volta a exigir a presença dos extintores veiculares no Brasil. Atualmente, o Projeto de Lei n° 3404/15 tramita por comissões na Câmara dos Deputados.

Como evitar

Luis Cláudio adverte que a melhor forma de evitar um incêndio ainda é levando o veículo para a manutenção anual. “Fazemos a manutenção geral do carro, olhamos o veículo todo. Mangueiras, filtro de combustível, se não tem nenhuma parte corroída. Fora isso, periodicamente, quando trazem o carro na oficina, fazemos uma observação mais rápida, sem precisar desmontar nada.”

Se for notado qualquer tipo de vazamento, o mecânico recomenda que o veículo seja levado diretamente para uma oficina. “O vazamento de óleo não ocasiona um incêndio, porém há certos tipos de óleo no carro que são altamente corrosivos. Se cai em uma mangueira de combustível, a corrói, fazendo com que haja o vazamento de combustível. E com o vazamento de combustível, corre-se o risco de contato com alguma faísca.”

Então, se você pretende aproveitar o restinho de verão pegando a estrada, para longe ou perto, e ainda não passou pela manutenção anual do seu possante, está mais do que na hora de marcar presença no seu mecânico de confiança.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.