Dificuldades e déficits na aprendizagem

Convite à brincadeira da ordem unida pode ser aliada no desenvolvimento global do indivíduo


Por Cristina Coronha

19/02/2018 às 09h07- Atualizada 19/02/2018 às 09h08

Quando a criança  brinca, estabelece uma comunicação consigo mesma, com o meio social e com o ambiente físico; exercita várias funções ligadas à cognição, à capacidade executiva, intelectual, afetiva e psicomotora; é capaz de vivenciar situações e experimentar as mais variadas possibilidades.

Toda criança que apresenta déficit ou dificuldade na aprendizagem necessita ser estimulada no uso e domínio do corpo, em relação ao equilíbrio, ao ritmo, à força, à percepção no espaço, à coordenação: pular corda e Amarelinha, andar de bicicleta, brincar de pique, de Ordem Unida… brincadeiras tão simples, porém fundamentais na formação do indivíduo, capazes de dirimir lacunas no processo de aprender e na vida.

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A Ordem Unida  é a formação  de marcha, a disposição própria empregada pelos militares de fazer fila segundo os comandos dados. O sucesso está em ficar atento à uniformidade, sincronização (ritmo), autocontrole, atenção, automonitoramento, lateralidade, deslocamento em perfeita ordem. Os exercícios exigem exatidão, coordenação mental e física.

A instrução dada começa por comandos mais simples, atingindo, progressivamente, os mais difíceis. Algumas posições básicas possíveis de trabalho com crianças e adolescentes:

Posição de Sentido – ficar imóvel e com a frente voltada para o ponto indicado.

Posição de Descansar

Posição de Cobrir – estender o braço esquerdo para a frente, com a palma da mão para baixo e os dedos unidos, até tocar levemente o ombro  do companheiro da frente.

Posição de Voltas a pé firme – todos os movimentos serão executados na posição de “Sentido”, mediante os comandos abaixo: “DIREITA (ESQUERDA), VOLVER!” e  “MEIA VOLTA, VOLVER!”

Marcha em “Passo Ordinário”– o instrutor  marca a cadência. Para isso, contará “UM!”, “DOIS!”, conforme o pé que tocar no solo: “UM!”, o pé esquerdo; “DOIS!”, o pé direito.

A  educação da criança deve ser global e construída sobre o que é vivido, usando do próprio corpo para apreender e compreender os elementos da realidade que a envolve. Muitos pais me perguntam “como fazer para meu filho melhorar na letra”, “como fazê-lo entender que precisa pensar antes de agir”,” como ajudá-lo na percepção de si mesmo”… E minha resposta é sempre a mesma: TRABALHAR O TODO PARA CHEGAR ÀS PARTES, melhoramos a letra andando de bicicleta (também), freamos os impulsos sentindo o tempo da corda batendo no chão e tentando coordenar o ritmo do corpo com os intervalos da corda (também), auxiliamos no esquema corporal oferecendo uma fruta inteira para comer (manga, ou pedaço de melancia) e dando, posteriormente, um pano para que limpe as partes que (sentir) ficaram sujas…

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Dificuldades na escrita, na alfabetização, no uso de pontuação adequada, por exemplo, podem ser prevenidos e trabalhados por meio dessas brincadeiras. Uma criança que não consegue organizar seu corpo no tempo e no espaço, poderá ter dificuldades para sentar-se adequadamente numa cadeira, ou concentrar-se, ou organizar diversas informações, ou segurar num lápis com firmeza e reproduzir num papel o que elaborou em pensamento, ou manifestar inversão do “sentido direita-esquerda”, como, por exemplo, b, p, q ou por inversão.

A  aplicação da “brincadeira” da Ordem Unida acontece desde 2009 em algumas escolas públicas de Minas Gerais sob a supervisão do Psicopedagogo e Técnico em Segurança Pública da Polícia Militar, Rosimar Ghedim Fonseca, como recurso pedagógico auxiliar. Essa “marcha coletiva” é capaz de gerar significativos impactos.

Crianças e adolescentes vistos como indisciplinados, outros com dificuldades de aprendizagem outros com déficits, após serem inseridos numa sistemática lúdica  de Ordem Unida, melhoraram substancialmente, manifestando maior atenção nas aulas, concentração nas atividades, organização, responsabilidade diante das tarefas escolares, elevação da autoestima e aumento do rendimento escolar. Outros  ainda analfabetos, com severos comprometimentos psicomotores e pedagógicos (com lentidão no processamento auditivo; falta de coordenação entre o gesto e a palavra (vem após a palavra); sem conhecimento do alfabeto tampouco distinção entre letra e desenhos) avançaram em seus processos linguísticos e perceptivos.

Precisamos investir e resgatar aquelas brincadeiras que estão esquecidas e que tanto bem fizeram às nossas vidas. Recordar da criança que cada um foi é fomentar a certeza de que nas coisas simples, puras e naturais encontraremos a chave do acerto, da saúde psíquica e da felicidade.

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