A vida e a arte

Escolas de samba, por meio de sua arte, denunciam a situação do Rio que se replica pelo país afora


Por Tribuna

15/02/2018 às 07h00

A escola de samba Beija-Flor, uma das mais premiadas do Rio de Janeiro, apresentou como tema a violência na sua cidade de origem. A arte mostrando como tem sido a vida nas metrópoles e a inação do Estado em buscar saídas. O prefeito do Rio, por exemplo, está num tour pela Europa, buscando, segundo ele, soluções para o que ocorre em sua comarca. Mas viajou também no ano passado e, certamente, por suas convicções religiosas, não ficará para o Momo de 2019.

O público aplaudiu de pé, e os jurados saíram da rotina e bateram palmas para a crítica da escola de Nilópolis, numa clara demonstração de que ainda há espaço para a indignação. O que ora ocorre na cidade que já foi maravilhosa é um retrato do Brasil, respeitadas as devidas proporções. A violência tornou-se uma rotina, e as autoridades não sabem o que fazer. Os planos de segurança são arremedos, e as ações se prendem basicamente ao viés repressivo.

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Os investimentos na prevenção são aquém da necessidade, o que faz do crime uma consequência dessa inação. O país precisa agir rapidamente antes que a situação saia definitivamente de controle. A crítica da Beija-Flor é a face da sociedade que paga os impostos, mas não vê retorno, bastando ver as filas nos postos de saúde, a educação colocada em segundo plano e o medo que marca o rosto de quem vai às ruas.

Há saídas. Cidades com índices de violência até maiores viraram o jogo. Medellín, na Colômbia, que foi a base de Pablo Escobar Gavíria e centro do narcotráfico mundial, é uma dessas. As favelas tornaram-se ponto de turismo, mas sem o medo que perpasse os que visitam as comunidades do Rio num misto de curiosidade e risco. O Governo colombiano adotou uma série de medidas, mas não há históricos de autoridades brasileiras viajando para lá. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, busca experiências na Alemanha, que não tem qualquer semelhança com as cidades brasileiras.

Os políticos, respeitadas as exceções, gostam de jogar para a arquibancada, mas não vão além. E o resultado é o que se vê na arte imitando a vida, numa denúncia permanente que as instâncias de poder se recusam a levar a sério.

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