Haverá saída?


Por Gustavo Henrique Prandini de Assis, subsecretário de Gabinete da Prefeitura de Juiz de Fora, bacharel em direito pela UFMG, especializado em Gestão Pública Municipal pela UFJF, formado em Teologia pelo CEFAP/BH

06/02/2018 às 07h00- Atualizada 06/02/2018 às 07h51

Desde que estourou a crise, profunda e catastrófica para milhões de brasileiros, é comum encontrar por aí o discurso de que crise é oportunidade e que muito melhor poderá ser o Brasil pós-crise, etc. Tudo recheado com o slogan “na crise, crie”, tido como cereja do bolo motivacional para atrair levas de desempregados e outros segmentos da sociedade. Ora, verdade um tanto óbvia que na hora do aperto todo mundo tenta dar seu jeito. Ou quase todo mundo, porque há quem opte por “jogar a toalha”. O alto e crescente índice de suicídio no Brasil (cerca de 11.000/ano – Boletim Epidemiológico/Min. Saúde) está aí a gritar para quem quiser ouvir o quanto é falaciosa a ideia de que o brasileiro é “um povo pobre, mas feliz” e o quanto é preciso atentar para políticas públicas voltadas à questão do suicídio.

Ou seja, ainda que otimismo seja importante, jargões de autoajuda são não suficientes (felizmente) para escamotear a realidade: a crise torna o Brasil dez anos (no mínimo) mais atrasado do que já era em relação a países desenvolvidos ou “em desenvolvimento”. Não são somente milhões de desempregados, muitos à beira do vale-tudo por conta do desespero pela sobrevivência. Com seus filhos e suas filhas, todos engrossam as fileiras dos “sem acesso”. Sem acesso à educação, à saúde, a direitos básicos, porque a crise faz cessar a progressão dos investimentos necessários. Daí, não restam dúvidas, hão de aumentar os graves conflitos sociais de todas as espécies, que vão desde as assustadoras guerras de facções a índices aparentemente descolados da crise, como o aumento de divórcios (IBGE-2016). Afinal, diz o ditado popular, “na casa onde falta o pão, todo mundo briga, e ninguém tem razão”.

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Mas, diante do quadro catastrófico, quais as saídas? Novamente surgem de todos os espectros sociais os mais diversos jargões e discursos de que é preciso “repactuar a nação”, “refundar a República” ou que é preciso um “grande projeto nacional”. No entanto, não seriam tais discursos meros instrumentos a legitimar projetos de poder? Os discursos não escondem aquilo que de fato se passa, não por detrás do palco, mas em praça pública: a disputa de poder, pela hegemonia, pelo controle, pela dominação? Ao que parece e como demonstra o historiador Yuval Noah Harari, em seu best-seller “Sapiens – uma breve história da humanidade”, tais discursos, de uma forma ou de outra, tentam tão somente obter a cooperação da maioria, uma rede de cooperação “concebida para a opressão e a exploração” por uma minoria, nada mais que isso. Simples assim.

Mas então não haverá saída melhor e para além da mera adesão a um dos discursos presentes e em disputa por hegemonia?

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