Cientista político aponta afastamento entre o sistema político e a sociedade

Por Paulo Cesar Magella

04/02/2018 às 07h00 - Atualizada 04/02/2018 às 08h48

Pesquisas são retrato do momento, mas, ao mesmo tempo, reveladoras de um cenário que carece de profunda discussão. Os números do Datafolha, apresentados na quarta-feira (31), com a participação do ex-presidente Lula e contando também com seu eventual afastamento, são reveladores. O dirigente petista lidera em todos os cenários, mas, quando sai da cédula, cria-se um quadro de indefinições, no qual o número de indecisos é expressivo. Para o cientista político Rubem Barboza, um dos dois convidados pela Câmara Federal para falar da reforma política – o outro foi Jairo Nicolau -, a despeito dos números, ficou claro o afastamento entre o sistema político e a sociedade. “Vivemos uma crise de representatividade, e esses resultados mostram isso, afetando, inclusive, as eleições para o Congresso. Esse crescente número de alienados, isto é, pessoas que não querem votar ou não sabem em quem irão votar – aumenta quando Lula é retirado da pesquisa.”

Supermercado

Para o professor Rubem Barboza, a pesquisa demonstra, também, a dificuldade dos atores políticos de encontrar um caminho mais generoso para o Brasil. “Se a gente olhar a lista dos candidatos, mais parece um supermercado cheio de latas velhas e vencidas.” No seu entendimento, é fundamental encontrar saídas para renovar a imaginação social democrática que está na Constituição e foi presente nos governos Fernando Henrique e Lula. “Mas quem é capaz de renovar isso?”, questionou. “Tanto do ponto de vista de formulação quanto eleitoral, os principais agentes desse período estão totalmente desnorteados.”

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Alternativas

Avaliando as perspectivas das principais legendas, com base na pesquisa, Rubem Barboza observa que os números são emblemáticos: são bons para Lula, demonstrando que ele ainda é um grande líder nacional, mas ruins para o PT, que tem duas alternativas. Ou insiste na sua candidatura até o limite, ou então começa a tratar da mudança de nome para ir às urnas. E este é um dilema, pois, quando ele está fora, nenhum outro nome do partido se destaca, e ele não vê chances de só Lula eleger um candidato, como ocorreu, por duas vezes, com a eleição da ex-presidente Dilma Rousseff.

Que centro?

Rubem Barboza também acha complexa a situação do PSDB, por considerar equivocado o discurso do candidato natural do partido, o governador Geraldo Alckmin. “Ele tem falado em levar o partido para o centro, mas o centro não é um lugar vazio de ideias. Quando você fala centro, tem que apresentar ideias políticas. Não se trata apenas de uma posição geográfica. O PSDB precisa de uma plataforma de renovação, que poderia capturar até mesmo eleitores de Lula. Mas o discurso tem que ser de centro-esquerda, e não ficar fazendo passeata com o discurso de centro. Tem que mostrar o que quer, mas parece não saber o que pretende.”

Bateu no teto

Finalmente, o cientista político Rubem Barboza considera que os números do Datafolha indicam que a candidatura do deputado Jair Bolsonaro encontrou um teto, perdendo em todos os cenários no segundo turno. “Há uma barragem para ele, que terá dificuldades especialmente por não ter estrutura de campanha. O Bolsonaro só aparece quando faz bobagem ou quando provoca algum escândalo.” Quanto a Marina Silva, o professor enfatiza que ela, ao contrário, não fala nada, mas, quando fala, ninguém entende, por adotar metáforas místicas. Ele também vê problemas para Ciro Gomes e Luciano Huck. O primeiro, pelo discurso que gera confusão; já o apresentador, por não ser político. Ele teria sérias dificuldades para enfrentar o sistema. “Estamos em crise de renovação e imaginação”, finalizou.

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Paulo Cesar Magella

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