Quer construir, reformar ou decorar sua casa? Confira as opções de financiamento

Mercado oferece linhas de crédito específicas para obras, mas especialistas alertam sobre os cuidados na hora da contratação


Por Gracielle Nocelli

01/02/2018 às 07h00

Conseguir um financiamento junto aos bancos e instituições financeiras não é uma exclusividade para quem pretende comprar um imóvel. O mercado também oferece linhas de crédito para quem deseja construir ou reformar a casa. As opções são diversificadas e incluem desde a oportunidade de financiar boa parte da obra, até a compra de materiais de construção e móveis, passando por soluções inovadoras que busquem reduzir o consumo de água e luz.

A Tribuna realizou levantamento junto aos principais bancos públicos e privados (ver quadro). As ofertas e condições de financiamento variam entre os estabelecimentos e merecem atenção do consumidor. Especialistas orientam sobre como deve ser o planejamento para a realização de uma obra e quais aspectos devem ser analisados para a contratação de crédito.

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Na avaliação da economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli, o financiamento ainda é caro no Brasil. “Num país em que o investimento é remunerado a 0,85% ao mês, tomar financiamento a qualquer taxa superior a isso é pagar caro. A melhor alternativa é sempre programar os custos da obra, definir um prazo para começá-la e fazer aportes mensais numa aplicação financeira com liquidez e bom retorno”, compara. “A melhor maneira de fazer a obra é pensá-la como uma aplicação financeira, em que se aplica o dinheiro para sacar depois, e não como um financiamento, usar primeiro para pagar depois.”

A economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, concorda. “O ideal é fazer uma poupança antes de começar a obra. Mas caso aconteçam imprevistos que encareçam o orçamento ou se trate de uma reforma emergencial ou simplesmente se o valor que foi poupado seja apenas parcial, é possível contratar um financiamento prestando bastante atenção nas condições oferecidas.”

Reforma e construção

Só na Caixa Econômica Federal são oferecidas três linhas para reforma e construção. Por meio da modalidade do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), o consumidor pode financiar até R$ 3 milhões para reformar ou ampliar o imóvel. Os juros variam entre 9,79% e 14,05% ao ano, e o prazo para pagamento é de até 20 anos.

“Com recursos do Fundo de Garantia (FGTS), podem ser financiados até 80% do valor do imóvel à venda, com taxas de juros que variam de 4,5% a 9,16% ao ano”, informou a assessoria. Nesta modalidade, o prazo máximo para pagamento é de 30 anos.

Já o Bradesco possui a linha de crédito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que financia até 70% da construção com juros de 10,7% ao ano. As parcelas têm valor a partir de R$ 200, e o prazo para pagamento é de 25 anos. Os recursos do FGTS podem ser utilizados, conforme critérios definidos pelo banco. Um dos pré-requisitos para a contratação deste tipo de empréstimo é que, pelo menos, 30% da obra estejam concluídos.

O banco também financia pequenas obras de reforma. O subsídio chega a 70% do valor, e as parcelas custam a partir de R$ 20, sendo acrescidas do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). O pagamento pode ser feito em até quatro anos.

Os bancos Santander e Itaú não possuem linhas de crédito com foco em reforma e construção.

Materiais, móveis e decoração

A Caixa também oferece a opção de financiar apenas os materiais de construção. Na prática, o cliente recebe um cartão com o valor do recurso para a compra dos produtos, que deverá ser realizada em um período máximo de seis meses após a contratação. “O Construcard é uma linha de crédito comercial com documentação mais simplificada. Os valores de financiamento variam de acordo com a capacidade de pagamento do cliente, e os juros são a partir de 1,98% ao ano”, afirma a assessoria. O prazo para quitação varia de três meses a 20 anos.

Pelo Banco do Brasil também é possível financiar a aquisição de materiais de construção, móveis planejados e artigos de decoração. O crédito possui diferentes condições para a compra em lojas que são conveniadas ou não ao banco. No primeiro caso, o valor é de até R$ 50 mil, e o pagamento pode ser feito em 54 vezes. No segundo, o recurso é reduzido para R$ 10 mil, e o prazo para 48 parcelas. As taxas de juros não foram informadas.

Financiamentos para materiais e móveis planejados também são possibilidades oferecidas pelo Bradesco. Para ambas as compras, o parcelamento é feito em até 48 vezes, sendo o valor mínimo da parcela de R$ 20 mais o acréscimo do IOF. Há exigência de que os materiais de construção sejam adquiridos na rede de lojas credenciadas ao banco, e o valor mínimo do crédito é de R$ 500.

 

Obra deve caber no orçamento

Outro cuidado que o consumidor deve ter é avaliar se as prestações do financiamento, acrescidas de juros, cabem no orçamento familiar. “Falamos que a regra deve ser não comprometer 30% da renda familiar. Estes cálculos precisam ser feitos e , principalmente, discutidos entre todos que ajudam nas despesas da casa”, alerta a economista do Idec, Ione Amorim. Ela destaca que uma obra que é paralisada se torna mais cara com o passar do tempo.

O planejamento orçamentário é necessário não só para a tomada de crédito, como também, para a realização da poupança, conforme ensina a economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli.

“Neste caso, os aportes mensais aplicados com o objetivo de juntar o dinheiro devem passar a fazer parte do cálculo. Se o orçamento já estiver apertado e não puder ‘suportar’ a programação mensal de investimento, há duas alternativas: cortar momentaneamente algumas despesas não essenciais ou adiar a obra para tornar menor o valor das aplicações mensais”, explica. “O erro mais comum é os consumidores não se planejarem, contratarem o financiamento e, quando chega a hora de quitar, não terem o recurso necessário para tal.”

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De olho na economia de água e luz

A linha de crédito Negócios Sustentáveis do Banco do Brasil tem como foco o público que pretende reformar a casa para garantir maior eficiência hídrica e energética, de modo a reduzir as despesas com água e luz. O banco oferece quatro modalidades de empréstimo (BB financiamento, empréstimo automático, consignado e consórcio de bens sustentáveis) para a compra de produtos como módulos solares, lâmpadas LED, hidrômetros, sistema de reuso de água, dentre outros. As condições de contratação não foram informadas pela assessoria.

Pesquisa ainda é a melhor aliada

As possibilidades oferecidas pelo mercado podem tornar a reforma ou construção desejada real, mas apesar das aparentes facilidades na contratação de crédito é preciso estar atento para evitar que o sonho vire pesadelo. Para especialistas, a pesquisa entre estabelecimentos ainda é a melhor aliada antes da contratação de um financiamento do tipo. Isto inclui não só uma análise detalhada sobre as condições oferecidas por bancos e instituições financeiras, mas também, uma verificação de preços junto às lojas conveniadas.

“A ideia de financiar apenas a compra do material de construção é mais interessante do que a obra, pois implica num prazo menor de endividamento. Neste caso, o uso do cartão é interessante porque você paga à vista na loja, o que te garante um poder de negociar descontos”, destaca a economista do Idec, Ione Amorim. “A alternativa é interessante para quem poupou apenas uma parte do valor da obra, pois este recurso pode ser direcionado para o pagamento dos profissionais que irão trabalhar nela.”

No entanto, ela explica que a exigência de alguns bancos de que a aquisição dos produtos seja feita em lojas credenciadas deve ser avaliada. “É preciso saber quem são estes fornecedores, se os valores cobrados são interessantes ou não. O ideal é fazer uma cotação em, pelo menos, três lojas diferentes para verificar se esta exigência não prejudica mais do que ajuda.”

A economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli, orienta que a pesquisa deve ser estendida a todos os produtos e serviços da obra. “É preciso um orçamento detalhado de materiais e mão de obra antes mesmo que o dinheiro possa ser juntado ou tomado o empréstimo.” Ela exemplifica que um único produto pode apresentar valores muito diferentes. “Na semana passada, pesquisei o custo de 35 metros de rufo, que estava saindo por mil reais numa loja e por R$ 420 em outra. Uma diferença de 138% só nesse item.”

Atenção às práticas abusivas

Na hora da contratação de um financiamento, além das condições de juros e prazos, o consumidor deve se atentar para a abordagem feita pelo credor. De acordo com a economista do Idec, Ione Amorim, práticas abusivas por parte dos bancos também acontecem neste tipo de transação e devem ser denunciadas.

“Existe um tipo de assédio ao qual o consumidor, por vezes, é submetido na hora de contratar crédito. É dito que determinadas condições do financiamento só podem ser realizadas se um seguro ou outro tipo de serviço forem adquiridos, por exemplo. É preciso prestar atenção neste tipo de abordagem porque ela deve ser denunciada aos órgãos de defesa.”

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