A gente só morre quando é esquecido


Por Daniela Arbex

28/01/2018 às 07h00

Foto: reprodução

Tenho paixão pelo cinema. Acho impressionante o papel da arte junto à sociedade, porque ela nos faz entender a realidade que nos cerca. É que, muitas vezes, precisamos do olhar do outro para nos ajudar a ver. Acho que transmiti esse sentimento para meu filho. Assistimos juntos ao filme “Viva – A vida é uma festa”, uma animação dos mesmos criadores de Toy Story. A película conta a história de Miguel, um menino de cabelo preto escorrido, rostinho redondo e fisicamente parecido com o meu pequeno, mas que tem o dobro da idade dele. Do alto de seus 12 anos, o adolescente sonha em ser um músico famoso, mas sua família mexicana não tem uma boa relação com a música. É que, cem anos antes, a grande mama (sua bisavó) foi abandonada pelo pai músico quando ainda era um bebê.

O apaixonante filme de Lee Unkrich se passa no feriado mexicano do Dia dos Mortos e é uma aula de cultura e de sentimento para qualquer idade. Ao se passar em dois planos – o dos vivos e o dos mortos que estão mais vivos ainda -, a animação da Disney toca em questões essenciais da existência: a imortalidade da alma, a convivência entre o mundo material e o plano espiritual, o amor que sobrevive à morte do corpo físico. Os temas são abordados com tanta delicadeza e naturalidade que é impossível não se emocionar com a mensagem dessa história. Em “Viva – A vida é uma festa”, a pessoa só morre mesmo, depois de ter morrido, se ela for esquecida na Terra.

PUBLICIDADE

Não tive como não lembrar da jornada que empreendi durante dois anos ao coração das famílias que perderam seus filhos na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, tragédia que completou cinco anos neste sábado. No dia seguinte da minha ida ao cinema, recebi pelo celular a mensagem de um pai que entrevistei e que luta incansavelmente para que a morte de seu filho não seja em vão. Respondi para ele que a vida é feita de amor e que, assim como naquele filme, Rafael e os outros 241 filhos do Rio Grande do Sul estão mais vivos do que nunca, porque a construção da memória nos faz lembrar de jamais esquecer.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.