O fator Lula

Condenação em segunda instância do ex-presidente abre espaço para uma discussão de projetos de país, distante do viés personalista que tem marcado os pleitos nacionais


Por Tribuna

25/01/2018 às 06h30

Ainda há espaço para recursos, e, certamente, eles serão impetrados, mas a confirmação da condenação do ex-presidente Lula, com pena agravada para 12 anos, tem um simbolismo que vai além da instância jurídica. O líder petista vai tentar se inscrever como candidato à Presidência da República com base na margem de apelações que ainda lhe cabe, mas corre o risco de ser atropelado pela Lei da Ficha Limpa no meio da campanha eleitoral, uma vez que ela é clara em indicar a inelegibilidade de condenados em segunda instância por órgão colegiado. E foi o que aconteceu nessa quarta-feira. Por três a zero, os desembargadores do Tribunal Regional Federal entenderam que a sentença de primeira instância, exarada pelo juiz Sérgio Moro, estava tecnicamente correta, menos na apenação, que foi ampliada.

As consequências jurídicas ainda estão na mesa de discussão, mas na política os prós e contras começam a ser pesados. A despeito do discurso de “vamos até o fim”, os líderes petistas, certamente, devem avaliar a extensão do dano e o que virá pela frente. Sem o ex-presidente e na ausência de nomes de grande projeção, a legenda corre riscos no próximo pleito. E isso precisa ser colocado à mesa, mesmo que em reuniões reservadas. Desde 2014, quando ocorreu a reeleição de Dilma Rousseff, a legenda vem se desidratando no Congresso. Com esse novo fator, as consequências podem ser mais graves.

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O julgamento de Porto Alegre é uma importante inflexão no cenário político brasileiro, pois aponta para a solidez das instituições e para o debate que virá pela frente. Sem o mote nós e eles, a discussão pode ganhar fôlego se for colocado em pauta o projeto de país, que tem faltado nos últimos eventos eleitorais. Os pleitos têm se voltado para pessoas, quando o importante seria a causa.

É cedo para avaliar as consequências, uma vez que ainda há recursos, mas o resultado da votação é emblemático para todos os setores, inclusive para os adversários do Partido dos Trabalhadores, que também navegam na mesma maré personalista sem se envolver em temas relevantes. O jogo está apenas começando.

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