O entretenimento toma o poder


Por Leandro Grôppo Consultor de marketing político

19/01/2018 às 06h30

O sociólogo francês Roger Schwartzenberg, em seu livro “O Estado Espetáculo”, publicado em 1977, identificou, já naquela época, que os perfis políticos suplantavam os projetos e a imagem substituía a mensagem. A explicação é que a política, outrora de ideias, transformara-se nas pessoas e nos seus personagens.

Hoje, os discursos políticos se encaixam perfeitamente na indústria do entretenimento. Seja nas propagandas eleitorais ou nas informações que os governos dirigem aos cidadãos, a comunicação política segue as regras, os formatos e os ritmos estabelecidos pelo entretenimento para alcançar a atenção do público.

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No atual contexto de descrédito da classe política e contínua redução das formas legais de campanha, pessoas frequentes e familiarizadas com os meios de comunicação, cada vez mais, saem na frente. Isso ocorre especialmente porque, com a diminuição do período eleitoral, personalidades já conhecidas ultrapassam a primeira barreira, do desconhecimento, antes mesmo do início da campanha. Segundo porque, por conta da legislação restritiva, a capacidade de utilizar melhor os meios de comunicação disponíveis permite que o enredo desejado seja mais facilmente transmitido e interpretado.

Basta lembrar os recentes êxitos de Donald Trump, Silvio Berlusconi, Arnold Schwarzenegger, Marcelo Crivella, João Doria, dentre tantos outros treinados em mídia, cinema ou televisão, para entender que os ideólogos perderam lugar para o entretenimento e a consequente importância de saber comunicar.

Quando ainda era candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan foi perguntado em entrevista sobre as críticas de que o fato de ser ator de cinema o desqualificava para o alto cargo. A resposta, estudada e ensaiada, ocupa seu lugar na história: “O que não entendo é como alguém que não seja ator possa candidatar-se a presidente”.

A anunciada pré-disposição da apresentadora Oprah Winfrey em estar na corrida presidencial norte-americana de 2020 e o inevitável lançamento de Luciano Huck como candidato a presidente do Brasil confirmam a observação e elevam o entretenimento político a outro patamar. Tanto Huck quanto Oprah fizeram fama e fortuna contando histórias tristes de pessoas humildes como ponte para a assistência e a audiência. Um “vale a pena ver de novo” da estratégia de radialistas que se tornaram vereadores, prefeitos, deputados e até governadores.

A ascensão de alternativas pretensamente apartadas da política se torna narrativa predominante quando a atividade é percebida mais como problema do que solução. Num ciclo quase contínuo de eleição e desapontamento, o entretenimento toma o poder. Em que o eleitor, como espectador, decide quem serão os protagonistas e sofre diretamente as consequências de cada parte da história.
Estaria na legalização do “merchandising político” a solução para o financiamento das campanhas eleitorais? Cenas do próximo capítulo.

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