Feudos partidários

Loteamento de cargos começa a ser questionado em instâncias de perfil eminente-mente técnico, como a Caixa, para garantir a qualidade e a idoneidade do serviço


Por Tribuna

18/01/2018 às 06h30

O afastamento temporário de quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal (CEF), definido pelo presidente Michel Temer após pressão da Justiça, é um importante indicativo de que é preciso mudar o modelo de preenchimento dos cargos nas instâncias de poder, sobretudo daquelas de viés eminentemente técnico, como as instituições bancárias. Todos os afastados estão sob suspeita de ações pouco republicanas, ora por interesse eminentemente pessoal, ora por pressão dos partidos que os indicaram. O preenchimento de cargos não é de graça: há sempre cobrança de alguma contrapartida.

E é em função desse compadrio que o Conselho de Administração da CEF quer antecipar as mudanças definidas em lei de preenchimento das vice-presidências. A escolha passaria a ser do próprio conselho, sem interferência dos partidos e do próprio presidente da República. A Caixa, como os demais bancos, vive um momento próprio, no qual são cobradas medidas de combate à corrupção e de idoneidade financeira. A politização colocou o banco numa situação instável; a medida em curso visa exatamente fazer a recuperação a partir de medidas internas, que passam, necessariamente, pela mudança do perfil dos diretores.

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Basta lembrar que, até bem pouco tempo, um dos vice-presidentes da CEF era o ex-deputado Geddel Vieira Lima, que usou e abusou das prerrogativas do cargo em favor de terceiros e de partido. Hoje, ele está abrigado no sistema carcerário. O mesmo personagem é considerado dono dos R$ 52 milhões encontrados em caixas num apartamento em Salvador. Uma das atuais vice-presidentes está sendo denunciada por atuar em causa própria, tentando cabalar um cargo na Cemig, o que não conseguiu.

O cenário de hoje é fruto do aparelhamento dos cargos públicos e do jogo político em que os partidos, como estratégia própria, exigem postos chaves para obter benefícios. O modelo de coalizão é um dos indutores desse comportamento, pois o Governo é refém dos partidos, enquanto esses, por sua vez, dependem da caneta do Executivo para obter vantagens. Essa troca de vantagens, porém, só beneficia os grupos. O país é um perdedor permanente nesse jogo.

 

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