‘O preconceito não vai ter essa força pra sempre, bebê’

Cantora que teve o show da próxima sexta-feira (19), em Juiz de Fora, adiado para 18 de maio, fala à Tribuna


Por Mauro Morais

16/01/2018 às 07h00- Atualizada 16/01/2018 às 07h45

Pabllo Vittar: “Amo a internet e sou dessas que fica com o celular sempre. É meu contato direto com os fãs” (Foto: Paulo Belote/TV Globo/Divulgação)

Onipresente, Pabllo Vittar é o retrato de uma geração cujas bandeiras sociais não se restringem ao universo político, mas ocupam todo o espaço público, principalmente a arte. Geração que pauta discussões de gênero sem teorizá-las. Ser, estar e cantar são verbos de luta. Drag queen de maior visibilidade no país, a maranhense foi revelada nacionalmente no mesmo 2016 em que integrou o elenco do global “Amor & sexo” e estrelou uma campanha de uma grande marca brasileira de cosméticos. Alçada ao posto de concorrida celebridade em 2017, a cantora lançou disco e formou duetos que a fizeram trafegar por distintos estilos, sem perder de vista a batida eletrônica de um pop com raízes profundas na internet.

Contemporânea, Pabllo Vittar é a face real de conquistas que defendem um mundo plural e, sobretudo, distante dos rótulos. “Temos que nos arriscar, brincar e nos jogar em tudo”, defende a cantora que na primeira semana do ano lançou um novo hit, “Paraíso”, com o sertanejo Lucas Lucco, com direito a clipe sensual numa paradisíaca praia baiana. Inspiração para a uma forte cena musical formada por cantoras trans e drags, Pabllo gera visibilidade para artistas como a drag Aretuza Lovi, que, na última sexta (12), lançou o single “Joga bunda”, em parceria com outra drag, Gloria Groove, além da famosa intérprete de “Todo dia”.

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Controversa, Pabllo Vittar mobiliza fãs e, também, os haters, assunto sobre o qual fala sem cerimônia no documentário “Up next”, lançado pela Apple na última quinta (11). “Cresci num universo feminino, um universo que eu amo. Minha família é meu suporte desde sempre. Na minha casa, não tinha esta distinção de gênero”, comenta a artista no filme, pontuando ter se fortalecido muito com os “sim” que recebeu em casa. “Sobre a força do preconceito, vejo o amor das pessoas, o respeito e posso estar presente no diálogo e na casa delas”, comemora, em entrevista à Tribuna, por e-mail, a cantora que teve o show da próxima sexta-feira (19), em Juiz de Fora, adiado para 18 de maio.

Tribuna – Sua história com a música é bem anterior ao sucesso. Quando olha para trás, o que lhe vem à mente? Do que mais se orgulha?
Pabllo Vittar – Quando olho para trás fico chocada de ver aonde cheguei. E muito orgulhosa de poder segurar a bandeira de uma causa tão linda e defender o amor e as pessoas.

– De que maneira “K.O.”, “Sua cara”, “Paraíso” e seus outros hits dizem de você?
Essas três músicas mostram um pouco de mim em cada uma delas. Tanto por essa mudança constante de ritmos e referências, quanto por poder passear por diferentes estilos sem barreiras. Música é arte e não podemos nos prender em apenas um formato. Temos que nos arriscar, brincar e nos jogar em tudo.

– Você é uma artista com grande afinidade com a internet. Consegue ficar off-line em algum momento?
Conseguir a gente consegue, né?! Tem momento que ‘tô’ tomando banho e tudo mais, hahahaha. Amo a internet e sou dessas que fica com o celular sempre. É meu contato direto com os fãs. Gosto de ficar ouvindo o que eles falam, de estar juntinho deles. <3 É difícil me desvincular.

– Como reage aos haters? Eles demonstram a você que o preconceito ainda tem força?
Ai, não dou muita moral não, porque hater tem em todo lugar e eles se nutrem de comentários ruins. Tento focar nos meus Vittarlovers e nas pessoas que possuem críticas boas e construtivas para mim e para o meu trabalho. Sobre a força do preconceito, vejo o amor das pessoas, o respeito e posso estar presente no diálogo e na casa delas. Isso me mostra que o preconceito existe, mas não vai ter essa força pra sempre, bebê!

– Sobre as discussões recentes acerca do seu cantar, o que lhe afeta? O que acha de sua voz? Como trabalhou seu timbre e sua entonação?
A gente vive num país onde cada um pode e deve dar a sua opinião, então não fico chateada ou brava. Eu faço acompanhamento com uma equipe de fonoaudiologia e professores de canto. Também estudo muito música. Quando vejo críticas construtivas, acredito que estou indo no caminho certo, aprendendo cada vez mais.

– Você atrai um público infantil muito grande. Qual a sua relação com as crianças?
Eu ainda fico bem surpresa com esse público. E é uma coisa tão linda! <3 Lembro-me de quando era pequena e tinha pessoas para me inspirar. Agora eu sou uma dessas inspirações para alguém! É uma loucura! Incrível!

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– Rapidamente seu trabalho tem alcançado lugares inimagináveis. O que espera para o futuro?
Ai gente, essa é total a pergunta da minha virada! hahahaha Espero que eu consiga aumentar o impacto da minha música e tocar cada vez mais pessoas, seja no Brasil seja no exterior. Além de ter muito sucesso na vida e no amor, né?! Aquelas! hahahaha

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