População de Guarani sofre com episódios sucessivos de gastroenterite

Dados oficiais sobre a ‘virose’, que tem provocado sintomas da doença, devem ser entregues à Prefeitura de Guarani na tarde desta sexta (5)


Por Tribuna

05/01/2018 às 14h36- Atualizada 05/01/2018 às 16h01

A cidade de Guarani, a 70 quilômetros de Juiz de Fora, está vivendo, pela terceira vez em seis meses, um “surto” de uma virose que tem causado na população sintomas de gastroenterite, uma infecção intestinal marcada por diarreia, cólicas, náuseas, vômitos e febre. Desta vez, os casos começaram a aparecer na véspera do Réveillon, atingindo moradores e visitantes que foram comemorar a virada do ano ou passar férias no município de cerca de 9 mil habitantes. Com o aumento inesperado de doentes, os medicamentos para tratamento da doença chegaram a sumir das prateleiras, zerando os estoques de ao menos três farmácias da cidade. No hospital de Guarani, Doutor Armando Xavier Vieira, a informação é de que cerca de 50 pacientes foram atendidos entre os dias 31 de dezembro e 3 de janeiro deste ano. Mas os casos continuavam a aparecer na unidade, e há possibilidade de subnotificação, pois muitas pessoas fazem o tratamento em casa.

Nas ruas e páginas de rede social, não faltam relatos de pessoas passando mal. No Centro, dois bebês gêmeos de 6 meses foram levados para Ubá na segunda-feira (1º), onde ficaram internados até quarta (3). Segundo a tia dos meninos, Ethiene Reis, a família procurou o hospital de Guarani porque uma das crianças estava com vômito e diarreia. Lá, foi orientada a levar os dois irmãos para Ubá, diante da possibilidade de o outro também contrair a virose. A própria ambulância do município fez o transporte. Os pequenos João Pedro e Luís Felipe agora passam bem, mas os pais resolveram antecipar a volta para casa, em Betim, com receio de novo episódio. Na casa de Ethiene, das 12 pessoas que estavam juntas no Réveillon, dez pegaram a virose, inclusive ela. “É a terceira vez que pego a doença.” Na vizinhança, numa família com dez pessoas, sete tiveram sintomas de gastroenterite. Segundo um dos moradores, que não quis se identificar, todos eles fizeram tratamento em casa, sem procurar a unidade hospitalar. Nas farmácias, há ainda informação de turistas que tiveram que retornar para suas cidades sofrendo com os sintomas da doença.

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No hospital, a enfermeira responsável, Lisandra Braga Sutana, informou que, do dia 31 de dezembro até quarta-feira, dia 3 de janeiro, foram registrados mais de 50 casos – cinco vezes mais que o verificado em períodos normais, quando há entre dois e dez casos por semana. Segundo ela, os pacientes atendidos são de todas as partes da cidade, com poucos casos isolados da Zona Rural. Lisandra confirmou que este é o terceiro círculo de casos registrado na comunidade. Todos os registros de atendimento são encaminhados à Secretaria de Saúde. A enfermeira explicou que, diante do aumento de número de pacientes, o hospital criou uma rotina específica, com mobilização de mais macas e material de hidratação. Ela comparou o episódio do final do ano com o ocorrido em julho, e disse que a incidência, desta vez, foi menor. “Em julho, foram mais de 200 casos”, relatou.

Comunidade teme que problema possa estar relacionado à água

A comunidade teme que o problema possa estar relacionado à água que abastece a população. Em 14 de setembro de 2017, após o segundo episódio deste possível “surto”, quatro vereadores apresentaram requerimento ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarani (Saeg), pedindo informações sobre a última análise da água ofertada. O documento foi assinado pelos vereadores Carlos Eduardo de Souza Caria, Anderson Silva Ladeira, Emerson Patrick Vieira e Márcia Ferreira Góes.

“Para nosso espanto, o laudo entregue pela Saeg é de 2014. A Prefeitura extraoficialmente descarta que possa ser da água. Mas com base em um laudo de três anos atrás, como podemos ter certeza?”, questiona Carlos Eduardo Caria, que é líder da bancada de oposição. O vereador reforça a suspeita de que o problema possa estar relacionado à água e cobra um posicionamento da Administração Municipal. “Esses casos estão acontecendo sucessivamente e não há um posicionamento oficial. É como se não estivesse acontecendo nada.”

Na resposta enviada à Câmara pela Saeg, datada no dia 27 de novembro de 2017, são apresentados resultados de amostra do Poço Bairro Cidade Jardim; dos reservatórios do Morro Magela, do Progresso e do Divino Salvador; e dos pontos Três Vendas e Paulo Neves. As análises foram feitas pelo laboratório ControlTech Analítica em 2014, apontando ausência de coliformes em todas as amostras colhidas.

No documento, a diretora da Saeg, Renata Maciel Machado Marigo, informa que nova análise seria providenciada. O texto diz ainda que “a FUNASA elaborou projeto para tratamento e abastecimento de água”, tendo sido apresentado à Câmara no dia 26 de outubro em audiência pública. Na época, conforme consta na página do Facebook da Câmara, a Administração Municipal descartou haver qualquer relação dos casos de gastroenterite com a água distribuída.

A preocupação agora é que episódio venha a se repetir no carnaval, quando a cidade recebe grande número de visitantes.

Secretário de Saúde fala sobre virose no município

Em nota divulgada nesta sexta-feira (5), o Secretário de Saúde de Guarani, André Luiz de Melo Ferreira, esclareceu sobre os possíveis casos de virose no município. Ele disse que a secretaria não está apática diante dos fatos ocorridos e que está trabalhando com afinco na busca de uma resposta concreta. Para identificação do tipo de virose, a situação foi levada à regional de Ubá (GRS – Gerencia Regional de Saúde), que, por meio de suporte técnico, fará as análises necessárias.

“Estamos colhendo material das pessoas que tiveram sintomas e juntamente com a Regional estaremos encaminhando para Belo Horizonte para uma análise técnica, também estaremos fazendo uma pesquisa com as pessoas atingidas para levantarmos os sintomas, o que está sendo comum a todos e alguns sintomas com alguma particularidade que não são comuns a todos. Informamos a população que estamos trabalhando com muito empenho, para que o mais breve possível possamos dar uma posição concreta do ocorrido. Estamos a inteira disposição para esclarecimentos de maiores dúvidas”, reforçou o secretário em nota.

Em entrevista à Tribuna, o secretário disse, por telefone, que o levantamento também conta com apoio da Saeg e que, na tarde desta sexta (5), o Hospital Doutor Armando Xavier Vieira irá encaminhar à Secretaria de Saúde um relatório contendo o número de pacientes que deram entrada no local, apontando os sintomas da doença. “Somado a esse relatório também vão estar dados coletados pelas equipes de agentes comunitários de saúde, que estão indo de casa em casa para verificar casos de pacientes que não buscaram auxílio hospitalar”, destacou.

A reportagem procurou os esclarecimentos com os responsáveis da Saeg, mas até o momento não conseguiu contato.

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Estoques de medicamentos se esgotam nas farmácias

A reportagem ouviu três farmácias da cidade que apontaram grande aumento na procura por medicamentos e fim dos estoques dos produtos destinados ao tratamento de gastroenterite. Na Drogaria Cristal, o atendente Elder da Silva Pereira informou que a busca por remédios contra gastroenterite se intensificou no plantão de sábado e domingo do Réveillon. Segundo ele, a maioria das pessoas atendidas era do Bairro Nova Guarani, mas a farmácia recebeu gente de outras regiões da cidade. O número de casos foi tanto, segundo ele, que acabou o estoque de medicamentos para hidratação, tratamento da flora intestinal e contra vômito.

A gerente da Drogaria Santa Maria, Marisa Vieira Gonçalves, informou que desde o dia 29 de dezembro a procura por medicamento contra virose “voltou com força total”. Segundo ela, é a terceira vez que ocorrem casos “em massa” desse tipo de doença na cidade. “O problema está se repetindo com frequência”, afirmou.

Marisa disse conhecer famílias inteiras, de várias regiões da cidade, especialmente do Bairro Nova Guarani, que estão com diarreia e vômito. Na sua família mesmo, que mora no Centro, dois parentes apresentaram sintomas da virose. Ela também relatou casos de pessoas que tiveram que viajar passando mal, pois estavam na cidade apenas para visitar os familiares. Por conta do movimento na farmácia, que até quarta-feira era intenso, seu estoque de soro e remédios para tratamento intestinal acabou.

Na Farmácia do Tim, o proprietário Último Caçador, o Tim, também afirmou que o problema foi verificado no sábado e domingo da virada do Ano-Novo, mas que até quarta-feira havia grande procura por medicamentos. Segundo ele, de dez atendimentos realizados no estabelecimento, nove eram pacientes com sintomas de gastroenterite. Seu estoque de remédios para reposição da flora intestinal também chegou ao fim.

Segundo o proprietário, é a terceira vez em seis meses que “surtos” da doença acontecem na cidade. Ele disse que os clientes chegam contando que “o hospital da cidade está cheio”. Tim manifestou preocupação com a possibilidade de o surto se repetir no carnaval, quando aumenta o número de visitantes no município. “Se ficar desse jeito, vamos passar o carnaval no banheiro.” Ele pediu maior atenção e investigação por parte do Município. “Não sei se a Prefeitura está tomando providências, mas se está, deveria informar e orientar a população sobre o que é preciso fazer.”

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