A denúncia e a consequência do descaso

Tribuna percorre trecho da BR-040 e encontra vários segmentos avariados. Jornal também fez levantamento exclusivo que aponta redução do quadro de pessoal contratado pela Concer, que alega uso de mão de obra terceirizada


Por Eduardo Valente

31/12/2017 às 07h00

O repórter Eduardo Valente. (Foto: Fernando Priamo)

Acompanho, há alguns anos, todo o imbróglio envolvendo a Concer e o Tribunal de Contas da União (TCU), por causa das obras não finalizadas da Nova Subida da Serra de Petrópolis (NSS). Este ano, a situação da concessionária extrapolou este assunto, porque o pavimento da rodovia BR-040 entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora, antes considerado um verdadeiro tapete, estava deixando a desejar. As reclamações dos leitores vinham em uma crescente e, a partir disso, começamos a apuração para entender o que estava por trás do possível abandono da estrada. A partir de uma análise minuciosa de contratos, balanços contábeis e relatórios de gestão, durante três semanas, denunciamos de forma inédita que a Concer permanecia com uma boa arrecadação, mas havia reduzido em 80%, em um intervalo de 12 meses, os investimentos em manutenção e conservação da via, além de estar demitindo mês a mês o quadro de pessoal próprio destinado a este fim.

Por causa da reportagem, a Justiça não determinou a caducidade, mas impediu que a tarifa de pedágio sofra novo aumento, o que estava prestes a acontecer

A falta de cuidados com a estrada – cuja tarifa do pedágio está entre as mais caras do país – despertou também a preocupação sobre as condições da obra inacabada na serra. Mostramos, inclusive, algumas estruturas danificadas pela ação do tempo, como viadutos pela metade e a entrada do polêmico túnel com sinais claros de abandono. Em entrevista ao jornal, em Duque de Caxias (RJ), o presidente da concessionária garantiu que a manutenção da obra se mantinha inalterada, fato que se mostrou inverídico em outubro. Não gosto do clichê tragédia anunciada, mas não encontro frase melhor para explicar como uma cratera sobre o túnel, de mais de 70 metros de profundidade, surgiu ao lado da pista de descida da rodovia, engolindo construções, desabrigando mais de 90 famílias e assustando toda uma região.

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Desde a reportagem, as autoridades, baseadas no levantamento exclusivo da Tribuna, se movimentaram. Logo após a publicação da matéria, o Ministério Público Federal entrou com uma ação na Justiça pedindo a caducidade do contrato de concessão, discurso também repercutido em Brasília, por meio da Câmara Federal. Por causa da reportagem, a Justiça não determinou a caducidade, mas impediu que a tarifa de pedágio sofra novo aumento, o que estava prestes a acontecer. Até a publicação deste texto, outras frentes se mantinham ativas, inclusive com investigação criminal da Polícia Federal, relacionando o acidente na serra com o provável abandono da manutenção nas obras.

Leia a reportagem clicando na imagem abaixo:

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