Classe, território e desigualdade


Por José Alcides Figueiredo Santos Professor titular - UFJF

20/12/2017 às 06h30

Classe social e território se combinam para acentuar dramaticamente as discrepâncias de saúde no Brasil. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PSN) de 2013 foram usados para estudar as variações espaciais na relação entre classe e saúde no Brasil. Foram estimadas as probabilidades de não ter boa saúde por classe social para todos os estados diferenciados em capital e interior. Os estados possuem diferentes níveis de saúde que sinalizam as discrepâncias socioeconômicas, institucionais e culturais de base territorial. A representação extrema da discrepância espacial mostra-se na probabilidade de não ter a saúde boa que separa o interior do Maranhão (41,4%) e a capital de Minas Gerais (12,5%). Em Belo Horizonte, todos os agrupamentos de classe estão em melhor situação de saúde na comparação com os mesmos grupos das capitais dos demais estados. A combinação de classe e território gera um forte contraste de saúde não boa entre os destituídos no interior do Maranhão (50,7%) e as pessoas em empregos privilegiados na capital de Minas Gerais (5,8%).

Regra geral, as discrepâncias relativas de saúde são maiores nas regiões mais desenvolvidas e nas capitais de todos os estados, pois a situação melhor de saúde do topo social faz com que este se distancie dos demais grupos. A desigualdade absoluta é maior nas áreas menos desenvolvidas, pois a maior prevalência da situação negativa de saúde coloca as discrepâncias existentes em patamares mais altos. Onde se vive pior, a maior escala da adversidade amplifica as discrepâncias absolutas. De forma emblemática, entre todas as áreas estudadas, a capital de Minas Gerais mostra a menor diferença absoluta (12,4%) e a maior diferença proporcional (110%) de saúde entre os polos da estrutura social, ou seja, destituídos e privilegiados. O interior do Maranhão, por sua vez, revela a maior diferença absoluta (26,6%) e a menor diferença relativa (77,3%) na probabilidade de não ter boa saúde.

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As medidas relativas (por divisão) e absolutas (por subtração) são duas formas diferentes e complementares de se olhar para a desigualdade de saúde. Na sociedade brasileira, as adversidades territoriais se combinam à maior densidade social das categorias mais vulneráveis para impor um enorme fardo populacional de saúde nas regiões menos desenvolvidas. As discrepâncias relativas revelam que os melhores níveis de saúde em territórios menos adversos favorecem mais os grupos com recursos e capacidades de potencializar ganhos de saúde. Embora o peso dos problemas seja menos forte nas regiões mais desenvolvidas, os estratos em desvantagem ficam proporcionalmente mais retardados ou distantes daqueles que se beneficiam mais das boas circunstâncias.

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