Celebridades do crime

Meios de comunicação têm forte responsabilidade na glamourização do crime ao destacar o papel dos líderes no cenário de violência


Por Tribuna

10/12/2017 às 07h00

A prisão do chefão da Rocinha, Rogério 157, foi celebrada, inclusive pela polícia – que não se furtou em fazer selfies viralizadas pela internet -, como o desfecho de um capítulo de violência no Rio de Janeiro. Ex-segurança de outro chefão, Nem, o bandido tornou-se o rei do morro e responsável pela vida e pela morte na comunidade. Sua prisão, de fato, foi um evento importante, mas não significa o fim da insegurança.

O Rio de Janeiro, especialmente, vive de episódios. A cada prisão de líderes do tráfico, cria-se a expectativa de dias melhores, sentimento esse que se dissipa com o decorrer do tempo. Sai Rogério 157, certamente entrará outro “comandante”, pois o fluxo da droga vai continuar. A solução, além do viés repressivo, só será encontrada com ações complementares, que promovam a cidadania e reduzam a desigualdade. O mesmo cenário se descortina em outras regiões, nas quais o crime tem sido a tônica.

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O que é peculiar na metrópole fluminense é, de uma certa forma, a glamourização do crime. E, nesse aspecto, a mídia deve fazer um mea-culpa, pois é ela, por meio de títulos e notas, que torna os chefões celebridades. E, como esses compram o discurso, agem como tal. Rogério, o nome da vez, era segurança; Nem, seu antecessor, era um contador que se rebelou contra o sistema, e, bem antes deles, surgiram tantos outros, como Fernandinho Beira-Mar, que, mesmo estando no cárcere, são citados cotidianamente pelos jornais.

A discussão sobre a violência não pode ser conduzida em compartimentos estanques, pois envolve várias frentes e todos os níveis. Da periferia ao chamado andar de cima, o crime tornou-se uma fonte de renda, bastando acompanhar as ações, especialmente, da Polícia Federal e do Ministério Público, que envolveram segmentos até então imunes, mas que estavam no mesmo barco ao sacar dos cofres públicos milhões e até bilhões, que, de fato e de direito, deveriam ser empregados no bem comum.

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