Represa João Penido apresenta menor nível dos últimos dois anos

Mesmo assim, Cesama garante que não há riscos de desabastecimento no município, que, entre janeiro e outubro de 2017, contabilizou somente 58% das chuvas esperadas para todo o período


Por Eduardo Valente

14/11/2017 às 07h00- Atualizada 14/11/2017 às 07h37

(Foto: Fernando Priamo)

Entre janeiro e outubro, Juiz de Fora contabilizou somente 58% das chuvas previstas para o período, e apenas em maio o acumulado de precipitações ficou acima da média histórica, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Embora a temporada de instabilidade atmosférica esteja em vigor, a estiagem permanece no município, e nem as chuvas de outubro foram suficientes para que os mananciais que abastecem a cidade reagissem. Prova disso é que a Represa João Penido, hoje preenchida com 35% de água, continua perdendo nível de acumulação, e atualmente tem o índice mais baixo desde novembro de 2015, quando Juiz de Fora e toda a região Sudeste do país sofreram com uma grave crise hídrica. Apesar de a Cesama garantir não haver riscos de rodízio ou racionamento, a atipicidade no regime de chuvas é acompanhada com atenção pela companhia.

A utilização das águas de Chapéu D’Uvas, cujo manancial é 11 vezes maior que João Penido, é a que garante tranquilidade no abastecimento da cidade. Em reportagem publicada em setembro, a Tribuna havia denunciado que, apesar da estiagem, e o nível das represas em declínio, os juiz-foranos estavam gastando água além da média, resultando em picos de consumo semelhantes a dias quentes do verão.

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A falta de preocupação e conscientização, que permanece, se deve ao fato de o município ter água suficiente para suportar um período de estiagem prolongado. Isso se deve ao fato de o reservatório de Chapéu D’Uvas ter atualmente 63% de água, o equivalente a mais de cinco vezes João Penido completamente cheio. No entanto, não seria possível contar apenas com esta represa em operação, em razão da limitação técnica de transportar toda a água necessária para a estação de tratamento que fica na Zona Norte da cidade, através da sua adutora.

Escassez surpreende

(Foto: Fernando Priamo)

“Até agora não tivemos uma semana de chuvas contínuas e intensas, então chama atenção este período de estiagem prolongado. Estamos acompanhando isso diariamente”, revelou o diretor técnico-operacional da Cesama, Márcio Augusto Pessoa Azevedo. Segundo ele, mesmo com a atipicidade no regime de precipitações, o abastecimento não está comprometido. “Apesar de São Pedro e João Penido estarem com índices baixos, eles não atingiram o pior patamar de 2015. Ambas as represas hoje operam normalmente, e isso deve ficar claro. Não estamos fazendo qualquer manobra relacionada às chuvas, com exceção de uma ação na Cidade Alta.” Conforme o jornal publicou em outubro, a companhia iniciou um processo para alugar dois geradores e adquirir combustíveis para bombear água de outros reservatórios para esta região da cidade. O objetivo é reforçar o abastecimento e reduzir a dependência do manancial São Pedro.

Rodízio de água não está nos planos da Cesama

De acordo com o diretor técnico-operacional da Cesama, Márcio Augusto Pessoa Azevedo, a Estação de Tratamento de Água (ETA) Marechal Castelo Branco, que fica em João Penido, recebe apenas água desta represa atualmente, com contribuição que oscila entre 750 e 800 litros de água por segundo.

Apesar disso, a ETA está apta a tratar, também, as águas de Chapéu D’Uvas, mas a decisão da companhia de limitar o uso de João Penido se deve ao fato de o recurso deste lago estar em boa qualidade para tratamento, apesar do nível da represa mais baixo. “Se cair muito mais, vamos preservá-la usando as águas de Chapéu D’Uvas nesta estação também. Esta é uma decisão que precisa ser baseada em critérios técnicos, mas a minha estimativa é de não deixá-la declinar para menos que 25% de acumulação.”

Na crise hídrica, em 2015, João Penido chegou ao seu menor nível operacional da história, com 18%. Naquela época, Chapéu D`Uvas tinha pouca contribuição no sistema de abastecimento, que necessita da produção de aproximadamente 1.500 litros de água por segundo para não haver desabastecimento.

ETA-CDI

As águas de Chapéu D’Uvas hoje são levadas apenas para a Estação de Tratamento Walfrido Machado Mendonça, mais conhecida como ETA-CDI, que fica no Distrito Industrial, Zona Norte. Nesta unidade, também chega o recurso captado do Ribeirão Espírito Santo, que é um manancial de passagem. Ao todo, são tratados nesta ETA cerca de 780 litros por segundo, sendo 500 provenientes de Chapéu D’Uvas.

Mas a adutora de Chapéu D’Uvas tem potencial para trazer à cidade até 900 litros de água por segundo, que é aquém da demanda do sistema. “Nós podemos reduzir o uso de João Penido, mas não vamos deixar de captar, pois é estratégico do ponto de vista operacional. Mesmo sem chuvas, a represa tem uma reposição natural do seu volume, o que nos assegura a possibilidade de utilização durante uma estiagem prolongada”, explicou Márcio, garantindo que, por estas razões, rodízios ou racionamentos não estão nos planos da companhia. “Hoje está fora de cogitação.”

Previsão de chuvas é imprecisa para o trimestre

No início deste mês, o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) divulgou o seu prognóstico de previsão climática sazonal, para todo o país, para os próximos três meses. Assim como no trimestre anterior, permanece a condição de baixa previsibilidade para as chuvas para parte da região Sudeste do país, o que inclui a Zona da Mata de Minas Gerais. Significa que os modelos de previsão do tempo não foram capazes de apontar uma tendência para precipitações abaixo, acima ou dentro da média histórica no período.

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Segundo o doutor em meteorologia Gilvan Sampaio, chefe da divisão de operações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pelo Cptec, o baixo volume de chuvas é resultado da persistência de um bloqueio atmosférico, que inclusive impediu a passagem das frentes frias ao longo de praticamente todo o ano. “Trata-se de um sistema de alta pressão, que afasta as chuvas, associado à baixa umidade do solo, que impede aquelas pancadas nos fins das tardes.”

Para se ter ideia, apenas este fim de semana a região foi atingida, pela primeira vez, pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Trata-se de um sistema meteorológico, que deveria ser mais comum nesta época do ano, responsável por trazer a umidade da Amazônia para o Centro do país e a região Sudeste. “Com esta alta variabilidade temporal, podemos até ter chuvas intensas, ainda intercaladas com períodos secos”, disse o especialista.
Prova disso é que, após as chuvas de sábado (11), o domingo voltou a ser quente em Juiz de Fora. Nesta segunda, além das altas temperaturas, a umidade relativa do ar esteve baixa, com patamar mínimo de 32%, próximo ao estado de atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), observado quando o índice está abaixo dos 30%.
Até sexta-feira (17), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê céu claro na cidade, baixa possibilidade de chuvas e termômetros oscilando dos 15 aos 28 graus.

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