São Vicente de Minas, a terra dos queijos finos

O Pé na Estrada Antuérpia esteve em São Vicente de Minas, aprendendo sobre a fabricação de queijos finos. Com alguns queijos na bagagem, a beersommelier Marcelle Ferreira promoveu harmonizações com algumas cervejas Antuérpia.


Por Claudia Figueiredo

04/11/2017 às 07h00

A origem de São Vicente de Minas, no Sul do estado, distante 170 km de Juiz de Fora, remete ao final do século 17, quando bandeirantes, oriundos de São Paulo, desbravavam o interior do Brasil em busca de ouro. Como boa parte das reservas auríferas se encontrava na região de Vila Rica, o local era alcançado através de um caminho que partia da extinta Capitania de São Paulo e atravessava o Rio Aiuruoca, rumo à região conhecida hoje pelas cidades de São João Del Rei e Tiradentes. No entorno de fazendas existentes no curso do rio, se instalou o povoado que originou a atual cidade de São Vicente de Minas, próximo a Andrelândia.

Os moradores mais antigos contam que uma imagem do santo foi encontrada por um empregado do alferes Francisco José de Andrade Mello, proprietário da Fazenda Sesmaria, que mandou construir, em 1797, uma capela em homenagem ao santo, identificado como São Vicente Ferrer. Em 1799, o povoado, que pertencia a Aiuruoca, foi batizado com o nome do santo. Em 1856, passou a ser distrito de Turvo (hoje conhecido como Andrelândia). E, em 1938, recebeu o nome de Francisco Sales, tornando-se um município e somente em 1953, passou a se chamar São Vicente de Minas.

PUBLICIDADE
Fotos: Claudia Figueiredo

Com pouco mais de sete mil habitantes, a cidade se destaca na criação de gado leiteiro de raça holandesa e como grande produtora de queijos finos. Com Minduri e Cruzília, forma o triângulo do queijo fino no Brasil.

1920, década da chegada dos dinamarqueses no Sul de Minas

Pioneiros na fabricação de queijos finos, no Sul de Minas. Foto: divulgação

Tudo teve início na década 1920, com a chegada de algumas dezenas de dinamarqueses a esta região mineira, quando implementaram técnicas europeias de manejo do gado e produção de queijos diferentes aos que os fazendeiros do lugar estavam acostumados. Essa tradição, aliada às condições favoráveis da região, como topografia, clima, altitude, além da fácil adaptação do gado holandês para a produção de leite, proporcionou a criação de um polo pioneiro de produção desse tipo de queijo na região. Hoje, em São Vicente de Minas, é possível encontrar os sofisticados europeus dos tipos brie, gorgonzola e camembert, produzidos por dois laticínios: São Vicente de Minas e Polenghi.

Fotos: Divulgação

Embora com nome italiano, a Polenghi, atualmente, pertence a um grupo francês e, desde 1986, incorporou outros fabricantes de queijos finos no entorno da cidade de São Vicente de Minas. Na unidade do Sul de Minas, são fabricados 16 tipos de queijo com fungo branco, além de um tipo especial de frescal que passa por um processo de ultrafiltração, retirando o máximo de gordura do produto. Há outras duas unidades da empresa: uma em Angatuba, em São Paulo, onde são produzidos o Polenguinho e o requeijão cheddar, e em Goiatuba, em Goías, onde são fabricados o cream chesse e base para sorvertes, conforme o gerente da fábrica em São Vicente de Minas, Jonas Palmieri.

Em 1880, o português Carlos Pereira de Sá Fortes trouxe para o Brasil, na Zona da Mata mineira (mais precisamente em Palmyra, hoje Santos Dumont), o mestre queijeiro holandês Alberto Boecke que introduziu na região uma adaptação do queijo Edam. Como, na época, todos os produtos importados de Portugal eram chamados de “Do Reino”, o queijo foi assim batizado. E, por indicação de Alberto Boecke, Sá Fortes começou a importar o Gado Holandês para a Região da Mantiqueira. O rebanho chegava de navio no Nordeste brasileiro, e, trazido por comitiva, chegava até essa região das Geraes. E é justamente o Gado Holandês que une a história do queijo de Santos Dumont, aos queijos finos do Sul de Minas, com algumas décadas de diferença.

O conteúdo continua após o anúncio
Divulgação

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.