Ações e omissões
Ministro denunciou modelo de segurança do Rio, mas não apresentou provas do que falou aos jornalistas, embora haja indícios de veracidade
Duas questões suscitaram dúvidas na fala do ministro da Justiça, Torquato Jardim, quando fez duro comentário sobre a segurança pública no Rio de Janeiro. Em entrevista ao jornalista Josias de Souza e reafirmada para outros jornais, ele classificou o modelo do estado vizinho como caótico, pois o secretário de segurança e o governador não têm comando sobre a polícia. Mais ainda, disse que os comandantes militares atuam em conluio com o crime organizado, o que faz deles parceiros do crime. O governador Luiz Fernando Pezão respondeu duramente ao comentário, mas evitou o confronto com o ministro, que é um dos patrocinadores de repasses para o Estado, exatamente para melhorar a qualidade da segurança pública.
Mas há pontos a considerar. O ministro não apresentou provas, transferindo o ônus para o governador e o secretário, que deveriam provar que ele, ministro, estava errado. Tal posicionamento, mesmo com a possibilidade de ser verdade, é um problema, pois colocou em xeque todo um modelo, dando margem para que os criminosos também duvidem das instituições. Mas há ainda o fato de o ministro, se de fato tem essa informação, ter se omitido. Como ministro da Justiça, a quem está subordinada toda a política de segurança pública do país, tem por obrigação tomar providências. Mas não o fez, ficando apenas na crítica, que, por si só, já é extremamente grave.
O embate, porém, abre margem para discussão em torno do tema, pois a União também não está cumprindo a sua parte. O projeto nacional de segurança ainda não saiu do papel, sendo apenas uma peça de ficção, a despeito da necessidade premente de sua implantação. Os muitos episódios de violência são a prova clara de sua importância. Ademais, na última terça-feira, foi publicado o Mapa da Violência no país, e o Brasil ficou mal na fita. O número de homicídios está na mesma faixa do de vítimas da bomba atômica de Nagasaki, que deu fim à Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 70 mil pessoas foram mortas.
No Brasil, o número de homicídios é mais expressivo do que qualquer conflito formal pelo mundo afora. São dados perversos e emblemáticos, sobretudo por não haver reação do estado e nem da própria população. Esta, salvo as exceções, age como se tais números fossem naturais. E não são.