Carro elétrico é o futuro, mas não é para já


Por Boris Feldman

22/10/2017 às 07h00- Atualizada 23/10/2017 às 07h55

 

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Ninguém duvida que o carro do futuro é o elétrico. Mas, nada imediato, pois há vários problemas operacionais complexos a serem resolvidos antes que se dê o tiro de misericórdia no motor a combustão.

Já existem dezenas de modelos elétricos sendo produzidos em razoável escala. O porta-bandeiras da tecnologia é Elon Musk, que criou a Tesla, na Califórnia (EUA), fábrica dedicada exclusivamente aos carros a bateria. Mas que ninguém se iluda: apesar de todo o badalo e valor de suas ações, ela ainda é deficitária, seus modelos são mais caros que os convencionais e só agora ela inicia a produção de um modelo de preço mais razoável (US$ 35 mil), que o torna mais acessível e que poderá ser produzido em larga escala.

Entretanto, não se deve esquecer de que os preços dos Tesla não são reais: ao atingir um volume de 200 mil unidades anuais, ele perde o subsídio do governo e encarece U$ 8 mil. Uma solução intermediária é o híbrido, tracionado por dois motores, a combustão e elétrico, como o Toyota Prius. Inconveniente: só é viável se subsidiado pelo governo para compensar o custo extra dos dois motores.

Se o prezado se entusiasmou com a nova tecnologia e decidiu comprar um elétrico, bom saber que, se é caro no mundo inteiro, no Brasil é mais ainda, pois é importado e paga uma barbaridade de impostos. O mais barato é o BMW i3, por cerca de R$ 170 mil. Se o prezado mora em casa, não há dificuldade para recarregá-lo à noite: basta ligá-lo à tomada da garagem. Apartamento? Resolve-se, mas já surgem as primeiras dificuldades. Sem contar as centenas de milhares de carros, até em países do Velho Mundo, que dormem na rua pois mesmo antigos e elegantes prédios não contam com vagas para todos os moradores.

É vantajoso o elétrico? A energia para “abastecê-lo” certamente custará menos que qualquer combustível líquido. Além de ser muitas vezes mais eficiente que o motor a combustão. Numa conta “de padeiro”, menos da metade da energia de um combustível líquido (ou gasoso) é utilizada para tracionar o carro, ao contrário do elétrico. Em compensação, sua bateria tem duração limitada (cerca de oito a 10 anos) e custo monumental: quase metade do valor do automóvel.

É mais limpo? Sim: emissão zero. Entretanto, a geração de energia elétrica pode poluir. Se vier de um gerador diesel. Ou, na China, a partir de usinas de carvão. Único argumento favorável é de que a poluição é desviada dos centros urbanos para o campo. Boa alternativa é o carro elétrico com célula a combustível (fuel-cell), que não precisa de bateria, pois a eletricidade é gerada no próprio veículo obtida numa reação química do hidrogênio. Ponto para o Brasil, onde o carro poderia ser abastecido com etanol e, dele, se extrair o hidrogênio necessário para alimentar a célula. Num país que tem etanol nos postos, seria “sopa no mel”. Mas, por enquanto, só existem protótipos circulando, pois o custo de obtenção do hidrogênio ainda é muito elevado.

Outra vantagem do carro elétrico é oferecer muito mais espaço interno, pois os motores são de tamanho reduzido, e as baterias, posicionadas sob o assoalho. E, finalmente, o custo de manutenção é muitas vezes inferior ao do carro com motor a combustão. Primeiro, porque o motor elétrico só tem uma peça móvel (eixo com rotor), de desgaste mínimo. E dois rolamentos. Não desregula, não queima óleo e nem ferve água. Segundo, porque dispensa a caixa de marchas: tem torque máximo em qualquer rotação.

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Em compensação, concessionárias e oficinas irão detestar, pois motor elétrico não tem bico injetor, vela, válvula, pistão, biela, bronzina, bomba de água, radiador, escapamento, catalisador…

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