O outro lado do balcão também é delas
Espaço OAndarDeBaixo recebe exposição fotográfica de Tamires Orlando sobre donas de bares em Juiz de Fora
Instituição tipicamente brasileira, o bar por muitos anos foi um espaço majoritariamente masculino dos dois lados do balcão. Sinal dos tempos. Aos poucos, as mulheres foram ocupando espaço entre mesas e cadeiras e agora também são as donas do negócio: é o que mostra a exposição fotográfica “O bar é delas”, de Tamires Orlando, que tem sua abertura nesta sexta-feira (20), às 19h, no Espaço OAndarDeBaixo, onde fica até 20 de novembro e pode ser visitada durante os eventos realizados no local. Além de conhecer o trabalho, o público vai ganhar um fanzine indicando os locais registrados pela fotógrafa.
A exposição, realizada por meio da Lei Murilo Mendes, surgiu a partir da percepção de Tamires sobre a predominância masculina nestes espaços. “Sempre fui frequentadora de bares e via que era um ambiente muito masculino, às vezes me sentia mal nesses ambientes. Já naqueles em que as mulheres eram proprietárias, eu me sentia mais à vontade, pois elas conseguem se impor e podemos nos sentir à vontade”, conta Tamires, que viu na série de fotos uma forma de divulgar esses estabelecimentos e discutir a questão.
A fotógrafa fez um mapeamento dos bares da cidade, listando cerca de 140 estabelecimentos do tipo, sendo que aqueles com proprietárias do sexo feminino somam cerca de 20 em diversos pontos de Juiz de Fora. No total, 13 dessas donas de bar aceitaram participar do projeto.
“A Preta (Maria Christina, dona do Bar da Preta, na Rua São Sebastião) foi a que contou a história mais forte. Ela disse que para trabalhar ali era preciso aguentar até soco na cara, que levou uma vez quando não quis vender cerveja fiado para um cliente.” Outras mulheres que aparecem na mostra são a dona Sônia, do Paraíso, no Morro da Glória, e Sidneia Terra, cujo bar de mesmo nome fica no Mercado Municipal.
Conhecendo o ambiente
O processo de produção da série não foi rápido, com Tamires Orlando visitando muitos desses bares quase todos os dias, conversando com as proprietárias, gravando vídeos e, principalmente, fotografando – muito. “Às vezes, fotografava todo dia. Conversava com as donas, os clientes, e isso foi importante para conhecer bem o local, como era o cotidiano e as próprias mulheres”, afirma.
A seleção das fotos para a exposição foi feita, na maioria dos casos, com a participação das próprias personalidades protagonistas da exposição. “Elas se preocuparam em sair bem na foto, como o bar iria aparecer, se teria algum cigarro à vista, se o estabelecimento estava bem arrumado.” Parte dos trabalhos, aliás, pode ser visto na página do projeto (facebook.com/obaredelas).