Os atalhos, os caminhos mágicos e o “voo de galinha”.

Não se avança sem um amplo entendimento político. Política e economia estão fortemente correlacionadas. Enquanto o horizonte for a próxima eleição, o “voo de galinha” estará presente. O que não podemos é “errar erro velho”.


Por André Zuchi

10/10/2017 às 11h07- Atualizada 10/10/2017 às 12h46

São muitas as opiniões de que a economia “deu uma melhorada” apesar da política, que só faz piorar. Fato, o PIB melhorou, a inflação despencou, os juros caíram, até o emprego vem reagindo, apesar da enorme informalidade que assola o país. Dizem, também, que a economia “se descolou” da crise política e avança de forma gradual. Num passe de mágica a economia se livrou da política, como se fossem independentes. Um erro que historicamente insistimos em cometer.  Não se avança sem um amplo entendimento político. Política e economia estão fortemente correlacionadas.

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Somente as reformas estruturantes que necessitam do constante exercício da política, mudarão nossa trajetória e nosso futuro. São muitas, complexas e necessárias. Portanto, caso seja nossa escolha, viveremos em um estado permanente de reformas por muitos anos. Posso citar algumas que entendo relevantes no momento atual.

A reforma do sistema político-eleitoral, com parlamentarismo, o voto distrital, cláusula de barreira, fim das coligações. Restabelecer o federalismo é urgente.

A reforma da previdência principalmente a pública, resgatando a credibilidade do estado e a capacidade de investimento público.

A reforma tributária com a simplificação do sistema tributário, reduzindo custos para a sociedade.

A reforma trabalhista, flexibilizando as relações de trabalho, aumentando a renda e o emprego em um mundo cada vez mais globalizado e tecnológico.

A reforma do estado, reduzindo a burocracia tóxica, introduzindo a meritocracia e a política de resultados. O fim do personalismo, corporativismo e patrimonialismo que dominaram o estado ao longo da história. Transformar o estado assistencial em um estado prestador de serviço.

A reforma da educação com o resgate da cidadania participativa, educando para o mundo globalizado.

A reforma da economia, eliminando o capitalismo de estado, adotando a economia de mercado e apostando no empreendedorismo como vetor de desenvolvimento sustentável.

Estas reformas estruturais, exaustivamente debatidas em vários momentos de nossa história, são colocadas em segundo plano, comprometendo o crescimento econômico e os avanços sociais. Buscamos atalhos e soluções mágicas para problemas difíceis e complexos.

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Este comportamento reforça o “voo de galinha” da nossa economia. Expressão cunhada por economistas para explicar os pequenos avanços sem folego suficiente para consolidar um ciclo virtuoso. “Varremos os problemas para debaixo do tapete” num ciclo vicioso. As soluções estruturantes são constantemente adiadas, impondo um elevado custo as futuras gerações.

Infelizmente a percepção da sociedade ainda é a de que os custos das reformas são maiores que os benefícios em manter tudo como está. Quando esta relação custo-benefício se inverter estaremos diante de uma janela oportunidades. Mudanças estruturais sem custos e perdas não são factíveis. Uma compreensão clara da sociedade, que as reformas geram custos e perdas no presente, mas benefícios e ganhos no futuro, será fundamental na escolha do caminho.

Enquanto o horizonte for a próxima eleição, o “voo de galinha” estará presente. Acredito, entretanto, que a mudança de paradigma está próxima. O que não podemos  é “errar erro velho”.

Vamos em frente, sempre.

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