O que ver no Rock in Rio fora do Palco Mundo

Edição 2017 do Rock in Rio mantém a ‘tradição’ da infinita repetição das atrações de sempre, mas é possível curtir o festival fugindo do óbvio e da imagem de ‘turista do rock’


Por Júlio Black

13/09/2017 às 07h00

Quando se tornou realidade, nos primeiros dias de 1985, o Rock in Rio ajudou a colocar em definitivo o Rio de Janeiro e o Brasil na rota dos grandes shows internacionais, ao trazer para o país artistas como B-52’s, Queen, Ozzy Osbourne, AC/DC, James Taylor, Yes e tantos outros. Mesmo com alguns intervalos consideráveis entre uma e outra edição do evento, o RiR se tornou referência para quem queria ter a famosa camiseta “eu fui”; com isso, para muitos, a principal crítica ao evento criado por Roberto Medina sempre ficou por conta dos artistas escalados – nem tanto pelos gêneros musicais que marcam presença, visto que “Rock in Rio” é mais uma marca do que um compromisso artístico.

O maior questionamento para quem fica à margem da festa é a repetição das atrações: Guns N’ Roses (pela enésima vez), Red Hot Chili Peppers, Ivete Sangalo, Maroon 5, Fernanda Abreu, Bon Jovi, 30 Seconds to Mars, Justin Timberlake, Skank, Capital Inicial fazem parte da lista de figurinhas carimbadas que retornam ao festival a partir da próxima sexta-feira. Se isso acontece é porque a turma do festival fez o dever de casa e procurou saber o que o povo gostaria de (re)ver, ainda mais que há uma boa parcela do público que irá ao Rock in Rio para o indefectível “eu fui” – aquela turma que vai assistir a um ou outro show e passar a maior parte do dia na fila da roda gigante, passeando pela Rock Street ou postando selfies no Instagram.

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Para quem gastou algumas centenas – talvez milhares – de reais a fim de ouvir música, há opções que valem a pena acompanhar além do Palco Mundo, pouco ou nada divulgadas mas que devem compensar algumas horas sob o sol de Jacarepaguá. Aqui vai uma lista do “lado B” ou “Lado C” do Rock in Rio que vale a pena (esperamos) conferir.

Les Tambours De Brazza

(Foto: divulgação)

A atração principal do primeiro dia do festival é Lady Gaga, que certamente vai arrastar uma multidão de fãs para a frente do Palco Mundo. Faça você parte ou não dessa lista, o dia promete outras coisas interessantes para quem não aguenta mais Ivete Sangalo. É o caso do Les Tambours De Brazza, grupo congolês que mistura os tambores Ngoma com baixo, guitarra e bateria para produzir um som que navega entre o reggae e o rap. Em atividade desde 1991, esse combo musical africano tem tudo para conquistar o público.

Quando e onde: Dias 15 (17h30), 16 (20h) e 17 (15h30) na Rock Street

HMB, Virgul e Carlão

(Foto: divulgação)

Apesar da proximidade linguística, a música feita em Portugal pouco é conhecida no Brasil, exceção a nomes como Roberto Leal, Madredeus e companhia limitadíssima. Pois quem quiser conhecer o que faz as cabeças dos patrícios pode conferir o show do HMB no Palco Sunset. Em atividade desde 2007, a Héber Marques Band promove uma mistura de soul e funk que fica ainda mais interessante graças ao sotaque dos gajos, ora pois. A apresentação terá a participação de dois integrantes do grupo de rap Da Weasel, Virgul e Carlão, que nunca mais dividiram o palco desde a dissolução da banda.

Quando e onde: Dia 17 (15h05) no Palco Sunset

Tyous Gnaoua

(Foto: divulgação)

O grupo marroquino se apresenta pela primeira vez no Brasil a tradição da música do norte da África, com destaque para os cânticos e o uso do guemberi, uma espécie de antepassado bem distante do contrabaixo. A banda formada por Abdeslam Allikane pode servir de antídoto para quem não suporta Maroon Five e Fergie, que se apresentam no Palco Mundo no sábado (16).

Quando e onde: Dias 15 (20h), 16 (15h30) e 17 (17h30) na Rock Street

SG Lewis

(Foto: divulgação)

O inglês SG Lewis tem apenas 22 anos, mas já conseguiu marcar seu nome no cenário da EDM (Electronic Dance Music para os desavisados). Cantor, compositor, DJ e produtor, SG Lewis é conhecido pelos remixes de artistas como Bon Iver, Jessie Ware, Gallant e James Blake. Antenado com os novos tempos, o promissor inglês começou divulgando sua produção, com forte influência de hip-hop, blues e jazz, de forma gratuita pela internet.

Quando e onde: Dia 21 (22h) na Electronica

Mamani Keïta

(Foto: divulgação)

Outra artista inédita em palcos brasileiros, a cantora e instrumentista Mamani Keïta realiza uma mistura entre o jazz e os ritmos de sua terra natal, o Mali, mostrando que a world music pode ser mais que um rótulo para enganar os turistas da música. Mamani (que significa “avó” em sua língua original) já foi backing vocal de Salif Keïta e tem quatro álbuns no currículo.

Quando e onde: Dias 21 (20h), 22 (15h30), 23 e 24 (17h30) na Rock Street

Ney Matogrosso e Nação Zumbi

(Foto: Marcos Hermes/divulgação)

Ok, tanto Ney Matogrosso quanto a Nação Zumbi já marcaram presença no Rio in Rio individualmente, mas o show que os dois vão realizar no dia 22 no Palco Sunset é mais que especial. Será a primeira vez em décadas que Ney Matogrosso fará um show tendo apenas músicas dos Secos e Molhados no repertório e ainda por cima com ineditismo de ter a Nação Zumbi tocando as músicas com o peso dos tambores do manguebeat. Será o encontro de um dos maiores intérpretes da MPB com a mais revolucionária banda surgida no Brasil na década de 1990.

Quando e onde: Dia 22 (20h) no Palco Sunset

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Zerb

(Foto: divulgação)

Com apenas 19 anos de idade, Zerb já é considerado um dos mais promissores nomes da música eletrônica brasileira. Ainda novo (ops), Zerb já sabia tocar diversos instrumentos antes de se interessar pela música eletrônica, iniciando sua carreira de produtor aos 17 anos. Além de ter trabalhado com o Future Class e Vintage Culture, o artista é o responsável por um dos maiores hits do gênero nos últimos tempos, o remix de “Faded”, do ZHU.

Quando e onde: Dia 24 (22h) na Electronica

Bomba Estéreo e Karol Conka

(Foto: divulgação)

O Brasil tem o costume de ignorar os nomes do cenário pop e rock da América Latina, e isso vale para a Colômbia – com exceção da mega star Shakira. Quem tenta reverter esse quadro é a dupla Bomba Estéreo, que leva ao Palco Sunset no dia 23 sua mistura de hip-hop, cumbia e música eletrônica. Quem acompanha nossos vizinhos no show é a brasileira Karol Conka, um dos mais conhecidos nomes da nova geração da música made in Brazil. Com sorte, o Bomba Estéreo consegue superar a barreira da língua, coisa que bandas como o Aterciopelados não conseguiu duas décadas atrás.

Quando e onde: Dia 22 (18h) no Palco Sunset

Groove Delight

(Foto: divulgação)

Assim como já aconteceu em outras edições do RiR, a música eletrônica também tem seu espaço no festival. Quem quiser dançar como se não houvesse amanhã pode conferir o show do Groove Delight, projeto da brasileira Ké Fernandes. Em atividade desde 2009, o Groove Delight tem conquistado o público sua mistura de house, new wave, rock e techno, ganhando elogios de gente do meio como Laurent Garnier e Anderson Noise.

Quando e onde: Dia 15 (22h50) na Electronica

Ba Cissoko

(Foto: divulgação)

Definitivamente, o mapa da boa e diferente música do Rock in Rio passa pela África. Originária da República da Guiné, a Ba Cissoko – liderada pelo vocalista e instrumentista de mesmo nome – segue a cartilha musical de Fela Kuti e apresenta na Rock Street um estilo que, para muitos, é a união da world music com Jimi Hendrix. O moderno e o milenar se encontram no som do grupo, que utiliza instrumentos tradicionais como a kora, o d’gouni e o tomani, sem se esquecer dos “tambores falantes” oriundos do Senegal e da Zâmbia.

Quando e onde: Dias 21 (15h30), 22 (17h30), 23 (20h) e 24/09 (15h30) na Rock Street

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