Operação policial ‘retoma’ rua dominada pelo tráfico

Policiais da Delegacia Antidrogas participaram da ação na Rua José Inácio Trindade, onde população vivia acuada diante da venda de entorpecentes


Por Marcos Araújo

18/08/2017 às 12h40- Atualizada 18/08/2017 às 19h15

Equipe da Delegacia Antidrogas prendeu seis suspeitos de participarem do tráfico na região do Ladeira (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Devolver a Rua José Inácio Trindade, no Bairro Ladeira, na Zona Leste, a seus moradores foi o objetivo da operação Retomada desencadeada pela Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada Antidrogas. Há anos, o local era dominado pelo tráfico de drogas, ocasionando diversos tipos de transtornos para seus moradores que, não raro, deparavam-se com drogas na porta de casa ou nas lajes de seus imóveis. Na via pública, que se estreita quanto mais se avança nela, dois homicídios foram registrados. O mais recente ocorreu em março deste ano, quando um homem, de 27 anos, foi baleado com três tiros e morreu. O caso de maior repercussão aconteceu em fevereiro de 2015, ocasião em que o corpo de uma mulher foi encontrado em chamas pela Polícia Militar dentro de uma carcaça de geladeira. A vítima estava em uma casa abandonada, frequentada por usuários de drogas.

A ação policial, que prendeu os suspeitos de serem responsáveis pelo tráfico de drogas no local, teve a intenção de por fim ao medo frequente dos moradores. Três homens, de 21, 28 e 32 anos, foram capturados, assim como três mulheres, 19, 23 e 55. De acordo com o delegado titular da Especializada Antidrogas, Rogério Woyame, os homens mais velhos eram os donos da “boca” e comandavam o esquema de dentro de casa. Já a mulher mais velha, mãe de ambos, foi presa porque sabia que os filhos guardavam armas e entorpecente em casa. A moça de 23 anos é cunhada dos suspeitos e tinha envolvimento no esquema. Os outros três presos eram responsáveis pela guarda e venda das drogas na rua, oferecendo o tóxico a quem se dirigia ao local para comprar. O ponto era frequentado por usuários que chegavam em carros de classe média e classe média alta. Um adolescente, 17, que integrava o bando, foi apreendido, mas teve que ser liberado depois de ouvido pela polícia. Já os seis presos foram encaminhados para o sistema prisional autuados em flagrante por tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção de menores e porte ilegal de arma de uso restrito.

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A operação foi resultado de dois meses de investigação dos policiais da Antidrogas e contou com o auxílio da população. Foram apreendidas duas armas de fogo, calibres 28 e 44, maconha, crack, mistura para cocaína, munições de calibre 44, um automóvel GM Prisma e uma bicicleta, que possivelmente seria produto de roubo.

Dois meses de investigação

A venda de entorpecente que acontecia no local se estendia para outras áreas do bairro, como a ponte do Ladeira, na Avenida Brasil, onde usuários fazem abordagem dos carros no semáforo. “A rua é muito conhecida pela venda de drogas em Juiz de Fora. Já foram feitas diversas operações pela Polícia Civil e Polícia Militar, e nunca havia sido realizada a prisão dos donos das drogas, porque elas ficavam escondidas na rua e, assim, não era possível configurar o vínculo com os suspeitos de serem os responsáveis, já que essas drogas eram flagradas com quem estava vendendo em via pública. Foram mais de dois meses de investigação, com policiais no local, em diversas ocasiões, observando a movimentação, para entender como funcionava o esquema. Quando conseguimos a informação de que realmente as drogas estavam na casa dos suspeitos, desencadeamos a operação”, ressaltou Woyame, lembrando que contou com o apoio da Justiça para expedição de mandados de busca e apreensão.

Ainda segundo o delegado, um dos presos teria envolvimento no assassinato da mulher morta no crime conhecido como “micro-ondas”, uma vez que foi encontrada em chamas na carcaça de uma geladeira. Já o adolescente liberado tem envolvimento em uma tentativa de homicídio e outros delitos. “Vamos pedir, junto à Vara da Infância, o recolhimento dele, porque, pela lei, ele não podia ser recolhido na hora”, explicou Woyame.

Segundo a investigação, carros frequentavam a José Inácio de Trindade, com seus condutores em busca de entorpecente. “Era só parar o carro que alguém lhe oferecia drogas”, destaca o policial. Como ele pontua, como a rua vai se estreitando, o monitoramento foi complicado. “As pessoas desavisadas que passavam por lá eram confundidas pelos “vigias” como policiais, que imediatamente dispensavam o entorpecente. Há uma encosta, onde a droga era descartada e que apresenta dificuldade de ser localizada depois. A rua ainda é cheia de rotas de fuga, pois eles conseguiam fugir pela rua acima ou abaixo, inclusive pulando pelas casas para escapar. Quando nossa equipe chegou, os dois principais autores estavam fugindo pela rua de cima, mas os policiais conseguiram dominá-los.”

O titular da Antidrogas explicou o porquê de o nome “Retomada” ter sido escolhido para a ação. “Porque retomamos e devolvemos o local para os moradores. O movimento lá estendia-se para outras áreas, os moradores tinham medo até de denunciar os casos”, enfatizou, avisando: “A rua vai continuar sendo monitorada a fim de evitar que novas pessoas voltem a vender drogas no local e, caso haja necessidade, novas operações serão deflagradas.”

Outras ações

Em junho deste ano, policiais militares precisaram atirar contra homens armados que tentaram investir contra a guarnição. Militares da 70ª Companhia receberam denúncia de que havia um homem armado na Rua José Inácio Trindade. No endereço, os militares abordaram três suspeitos. Um deles sacou uma pistola e apontou contra a viatura. Para se defender, um militar efetuou um disparo, mas não acertou o suspeito. Os três acabaram sendo detidos. A PM apreendeu com eles 35 pedras de crack, pistola calibre 380 e carregador com nove munições intactas. Em março de 2016, PMs da Rotam precisaram quebrar parte do piso do banheiro de um imóvel para apreender drogas numa ação de combate ao tráfico na rua. As 15 pedras de crack e 11 buchas de maconha estavam em um cano hidráulico e teriam sido dispensadas na pia por um jovem de 20 anos, na tentativa de escapar do flagrante. A informação era de que no imóvel funcionava uma boca de fumo 24 horas por dia.

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