O excesso de ruídos do Gorduratrans
Em apresentação neste sábado em Juiz de Fora, a banda carioca lança disco “Paroximos”, em que expõe angústias sobre o vazio do mundo
Juiz de Fora pode estar se perguntando: quem é Gorduratrans? Batendo em pratos espalhados em cima da cama, no quarto do Luiz Marinho, que nem tinha bateria na época, começaram a criar as músicas do primeiro álbum lançado em 2015. Felipe Aguiar comentou em um post no grupo “Tô Sem Banda” no Facebook, sem nem achar que era um cara de muita sorte, e, assim, ao acaso, conheceu Luiz Marinho no começo de 2013. Em junho deste ano, a banda lançou seu segundo disco – “Paroxismos” – pelo selo Balaclava Records. Neste sábado, 12, o duo carioca vem à Juiz de Fora pela primeiríssima vez se apresentar no Canil Recs: casa de vira-latas da cena underground independente de jufas.
Em 2015, após uma conturbada ruptura com a banda que tocavam juntos, criaram o Gorduratrans. Não que houvesse um processo de decisão, apenas aconteceu. Suas referências convergem e a vontade sempre foi de experimentar shoegaze. São sincronizados a ponto dos dois terem uma tatuagem do músico norte-americano Elliot Smith.
Vocês já podem ter lido (ou não) sobre o número de streamings do EP “Repertório infindável de dolorosas piadas” (2015) ter os surpreendido a ponto de gerar lucro capaz de pagar os custos de gravação do segundo disco, um full álbum com 9 faixas. Até agora se encontram surpresos com a repercussão. “Você não sabe quantas horas eu passei olhando pra você”, que abre o trabalho despretensioso de estreia, já foi escutada mais de 180 mil vezes somente no Spotify. Se existe uma música que sentem o melhor dos sentimentos em terem feito, sem nem parar para pensar, é essa. Felipe conta feliz sobre Jair Naves (Ludovic) ter gostado tanto a ponto de tocá-la em seus shows solo. Inclusive, a banda, que retomou após 10 anos e é referência para o cenário independente paulistano, e até nacional, é inspiração sonora, mas também é de onde o Gorduratrans tirou o nome do primeiro EP, extraído de um frase da música “Nas suas palavras” (Idioma Morto/2006/Ludovic).
Álbum visual
Sempre antenado nos formatos como podem espalhar seus trabalhos, o duo Gorduratrans está em etapa de criação de um extenso trabalho audiovisual envolvendo o “Paroxismos”. Álbuns visuais se tornaram um grande atrativo, é uma forma de transmitir com mais sensorialidade as músicas. Assiste-se enquanto escuta, a experiência é um mergulho impossível de voltar atrás.
Estão construindo este vídeo de arte junto ao Gabriel Papaléo, que está à frente da Epiderme, produtora que assina o projeto. Já existe um teaser na página do Facebook da banda com a prévia do que será esse álbum visual que deve ser lançado até o final deste ano.
Que mundo vão deixar gravados em suas músicas?
As sonoridades noise e shoegaze, que buscam (des)construir em suas músicas, conversam muito com a ideia de uma ambiência lo-fi, aspecto sentido em cada faixa. Existe sempre um caos urbano registrado, panorama real à experiência de se viver no Rio, talvez. As guitarras são melódicas, porém com um set de pedais, somado à bateria, de forma a gerar um ruído amontoado, uma falta de clareza que garante a paisagem de baixa fidelidade e sobreposta de informação que é o lo-fi. A angústia, o rock triste e o neo-emo ou post emo (esse termo existe?) são por evidenciar essa era superficial, “rasa como um pires”, como disse certa vez uma professora. Falam sobre o vazio e são extremamente existencialistas em suas letras, a maioria delas escrita por Felipe Aguiar: engenheiros mecânico também são poetas.
Sobreviver de música ainda não é pretensão. Enquanto Felipe trabalha como engenheiro, Luiz é estudante de jornalismo e trabalha em uma emissora da área. No entanto, a banda que sempre flertou com o Balaclava, agora, está junto ao highlight de artistas selecionados pelo selo. A partir daí, a participação em festivais e o convite para shows vão se multiplicar. Felipe e Luiz, que já tinham um cuidado estético com a “cara” do projeto, artisticamente falando, agora se mostram ainda mais preocupados no sentido de parecerem despreocupados. “Mantemos a estética de não termos uma estética”, contradiz Felipe. Mas nós entendemos. O processo pelo qual correm atrás é o de desmecanização. Quanto mais as bandas se apresentam, as performances podem acabar caindo no teatral ou no blasé. No entanto, Felipe busca transmitir a sensação do momento em que compunha e escrevia enquanto toca. Em uma sucessão de “sentir(es)”, ele diz: nos shows quero sentir a música e procurar sentir o que eu senti quando a fiz, passar a verdade sobre aquilo”. Em dias de sensibilidade à flor da pele, é praticamente impossível que os receptores não tenham reações condizentes aos abismos sinceros de suas letras.
Mixtape pessoal
Felipe tem uma aranha tatuada em referência ao disco “Spiderland”, da banda Slint, que serve de muita referência para a dinâmica de suas músicas, principalmente quando cria suas guitarras. Seu grande sonho talvez seja dividir um palco com eles. Além disso, estão juntos das bandas independentes brasileiras e se fossem construir uma mixtape mesclada ao Gorduratrans, entrariam Máquinas, banda noise, experimental, de Fortaleza, El Toro Furte, de Belo Horizonte, com sonoridade lo-fi, shoegaze e post-rock, Amandinho, noise de Recife que se auto-intitula como internet punk, Terno Rei, também da Balaclava, que fez show em Juiz de Fora no último mês, e a banda Def, post rock, real emo, da baixada fluminense.
Shoegaze
Para chegar à sonoridade do Gorduratrans, Felipe Aguiar abriu seu set de pedais, todos que utilizou na gravação do “Paroxismos”, feito em estúdio, com masterização e mixagem feitas em casa, quebrando a cabeça para aprender tudo sozinho.
- Furhmann Distortion Classic 800
- Behringer Digital Reverb DR600
- Proco Rat
- Boss Loop Station RC-1
- Mooer Black Secretaria
- Electro-Harmonix Cathedral Stereo Reverb
Gorduratrans
Abertura com Filipe Alvim. Neste sábado, 12, às 14h, no Canil Recs (Rua Dr. João Pinheiro 307 – Jardim Glória)